O Sr. Casal-Ribeiro: - Afirmei! Afirmei!

O Orador: - Afirmou! Ainda pior! Pois afirmou que eu me estava servindo da circunstância de estar prestando a homenagem a um amigo e a um Deputado, foi um servidor da Nação, como V. Exa. disse, para dizer, não sei o quê . . . enfim . . que V. Exa. entendo mio estar certo.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Exa. não sabe o que estava a dizer, mas eu sei, Sr. Deputado!

O Orador:- Não é isso! Não é isso, Sr. Deputado! Sei o que digo!

O Sr. Duarte do Amaral: - Não é só o Sr. Deputado Casal-Ribeiro que entende que não está certo, há mais pessoas aqui na Câmara. . .

O Orador: - Dá-me licença? Se vamos nesse tom, então respondo!

O Sr. Casal-Ribeiro: - É uma ameaça, Sr. Deputado? É uma ameaça?

O Orador: - É, é!

O Sr. Casal-Ribeiro: - O senhor não me ameace, que eu não tenho medo! Nunca tive medo nenhum de ameaças!

O Orador: - Ora, então vamos lá, Sr. Casal-Ribeiro. O senhor falou em liberdade, não foi?

O Sr. Casal-Ribeiro: - Pois foi.

Orador: - E lamentou que um livro chamado Dinossauro tenha circulado, não é verdade?

O Sr. Casal-Ribeiro: - É, é!

O Orador: - Eu por mim, tomara que houvesse muitos Dinossauros e muitos livros que circulassem livremente, que o espírito português não estivesse amordaçado como tem sido ha tanto tampo com uma censura que bem, inclusivamente, apreendido livros de Deputados!

O Sr. Casal-Ribeiro: - Mesmo quando se insulta a memória de uma pessoa que serviu a Nação? V. Exa. acha bem?

O Orador: - Sim, senhor. Em segundo lugar, V. Exa. diz que há muita liberdade.

O Sr. Cunha Araújo: - É uma forma de fazer sucesso, isso de falar em liberdade!

O Sr. Casal-Ribeiro: - Eu não disso que havia muita liberdade.

O Orador: - Não? Bom! Então há pouca.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Disse que havia a suficiente para estas publicações.

O Orador: - Então, se há pouca, estamos de acordo.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Não me parece que haja assim tão pouca, mas não haverá, possivelmente, tanta quanta V. Exa. queria.

O Orador: - E verdade. E também não há tão pouca como V. Exa. desejava.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Exa. ainda se há-de arrepender, tanto como eu, das liberdades que por aí andam.

O Orador: - Bem, Sr. Deputado Casal-Ribeiro, noutra ocasião, quando V. Exa. falar, teremos ensejo de prolongar este dialogo tão agradável.

Continuando. Porém, os factos foram demonstrando que a decantada liberalização era ilusória, que gradualmente às tendências antievolutivas renasciam, ilaqueando a corrente liberalizadora. A censura à palavra oral e escrita e à imagem; o antigo e insuportável autoritarismo; a fascinação do passado, sepultaram as inquietações criadoras suscitadas pela mudança de Governo.

Valeu a pena tanta canseira para chegar a este resultado? O Dr. Melo e Castro dizia que sim, porque se manifestaram tendências que jaziam abafadas, porque se libertaram energias adormecidas, porque se abriu o caminho à iniciativa política, porque se clarificaram algumas posições. Porque, acrescentamos nós, se demonstrou a incapacidade do Regime de se reformar politicamente.

Vozes: - Não apoiado!

O Sr. Cunha Araújo: - O Regime é o mesmo!

O Sr. Eleutério de Aguiar: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O propósito desta intervenção é fazer algumas considerações sobre a visita que o Chefe do Estado realizou, na semana finda, a ilha da Madeira, onde inaugurou importantes empreendimentos, nos sectores do turismo e dia habitação social, complementando-as com breves referências a aspectos ìntimamente correlacionados, por questão de oportunidade, que se considera indiscutível.

Antes, porém, seja-nos permitido exteriorizar os sentimentos de que estamos possuídos, face a ocorrências que directamente afectaram a Assembleia.

Em primeiro lugar, associamo-nos os palavras de saudade e admiração Aqui oportunamente proferidas, em memória do falecido Deputado e 1.º Vice-Presidente da Câmara, Dr. Melo e Castro, um dos principais responsáveis pela primavera política que teve como marco assinalado o acto eleitoral da 26 de Outubro de 1969. A sua orientação, marcada por reconhecido espírito de abertura e manifesta vontade de participação alargada aos vários escalões sociais, constitui exemplo que se impõe manter bem vivo, na exercitação do diálogo franco e tão necessário aos Portugueses.

A V. Exa., Sr. Presidente, pedimos vénia para reiterarmos desta, forma as mais sinceras felicitações, pela significativa distinção recentemente conferida pelo Chefe do Estado, o qual nenhum de nós ficou indiferente, até por generosa atitude de V. Exa., ao querer que compartilhássemos de tão grato acontecimento.

Finalizando estas notas prévias, desejamos dar testemunho das inequívocas manifestações de regozijo com que os madeirenses reagiram a nomeação de um ilustre conterrâneo, o engenheiro Santos e Castro, para o alto cargo de Governador-Geral do Estado de Angola, algumas das quais lhe foram directamente exteriorizadas quando, conforme então expressou, se acolheu à terra onde nasceu e viveram os seus anatares, para meditar e ganhar novas forcas espirituais, com vista ao melhor desempenho de tão honroso quanto difícil mandato.