O Sr Miller Guerra: - Muito obrigado, é exactamente a mesma coisa que apontei, tendo a mais a referência às «odes».

O Orador: - Mas as «odes» por vezes são importantes.

O Sr. Miller Guerra: - Não contesto. É, uma opinião, que respeito, e a de muita gente, também respeitável.

Mas protesto, permita-me a expressão, contra o que V. Exa. disse ao afirmar que o País não está preparado.

Há cinquenta anos que oiço dizer que o País não está preparado. Admiro-me imenso que cinquenta anos de pedagogia política constante não nos tenham preparado.

Pergunto a. V. Exa.: por que se espera para fazer essa preparação? Ou melhor, para preparar o País, visto que ele não está preparado nem parece que por este caminho chegue a estar.

Orador: - Sr. Deputado Miller Guerra, pois eu admiro-me também com V. Exa. por o País não estar preparado, mas o problema consiste em se saber se está ou não preparado. E eu respondo que não está.

O Sr. Miller Guerra: - Eu sob pena de insistir num ponto já muito batido, repito: o País não está preparado porque não o prepararam, É o País que é incapaz de se preparar ou são os pedagogos, que são incapazes de o ensinar?

O Orador: -Eu limito-me a frisar que V. Exa. acaba de concordar que o País não está preparado.

O Sr. Henrique Tenreiro: - V. Exa. que é pedagogo, podia ensinar-nos, alguma coisa . . .

O Sr. Miller Guerra: - Tem razão o Sr. Almirante Henrique Tenreiro. Sou pedagogo por profissão, mas não sou pedagogo político. Se fosse pedagogo político, há muitos anos que o País estava preparado para a liberalização. Tínhamos hoje, em vez, da situação presente; uma democracia.

O Orador: - Sr. Deputado Miller Guerra, mas não há pedagogia com efeito retroactivo!

O Sr. Miller Guerra: - Não insisto. Parece que já está bem claro o meu pensamento e o de V. Exa.

O Sr. Cunha Araújo: - Cinquenta anos são muito na vida de V. Exa., mas não são nada na vida de uma nação.

impor a disciplina, sem necessidade de se tornar arbitrário ou violento.

Desejará, também, que o Governo continue a debruçar-se sobre os mais instantes problemas da colectividade, sem se enredar nos labirintos estiolantes da superpolitização, com o tempo que já lhe escasseia consumido nos debates políticos, em vez, de utilizado na azáfama criadora das realizações.

Desejará, sobretudo, Sr. Presidente, que aos mais aptos não se regateiem os postos de cornando, que a mediocridade não prolifere: como erva daninha, a minar e a empobrecer a seiva intelectual que deve continuamente irrigar os sectores vitais de cujo bom funcionamento dependerá o progresso e o ritmo de desenvolvimento do País.

Desejará Sr. Presidente, que aos governantes não faleça a coragem de separar «o trigo do joio», impedindo que muito poucos, à sombra de vozearias mais ou menos histéricas, procurem arvorar-se em detentores do monopólio do patriotismo e em espelho das virtudes nacionais.

Diria, numa palavra, Sr. Presidente, que o País desejará a exautoração dos hipócritas, a debandada dos medíocres, a escolha dos melhores e a participação dos mais válidos, na tarefa gigantesca que temos à nossa frente.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

A Sr.ª Raquel Ribeiro: - Muito bem! Isso é que é preciso!

O Orador: - Um dia poderá, com novas primaveras, então chegar a hora de maiores «aberturas».

O Sr. Miller Guerra: - V. Exa. dá-me, licença?

O Orador: - Com certeza.

O Sr. Miller Guerra: - É justamente a bem do interesse comum que desejo a liberalização.

O Orador: E justamente a bem, do interesse comum que eu entendo que devemos aguardar por uma maior liberalização.

Vozes: - Muito bem!

Sr. Miller Guerra: - V. Exa. dá-me licença uma vez? Prometo que seja a última, pelo menos hoje.

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Miller Guerra: - Diz V. Exa. que é sacrificar o acessório. Eu acho que a liberdade é essencial e não acessória.