que pessoalmente me dissessem respeito. Vanglorio-me de nunca ter pedido nada para mim em tantos anos de vida; contudo, muito pedi, e sem dúvida continuarei a pedir, para os outros, quando realmente necessitem, por falta do essencial ou por acções porventura menos justas.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Peço perdão a V. Exa., Sr. Presidente, e aos Srs. Deputados de ter falado tanto de mim e da minha posição nesta Casa. Foi mais uma manifestação da minha mínima ou nenhuma simpatia pela política e do meu empenho em ver chegar o fim da legislatura.

O Sr. Leal de Oliveira: - Da má política.

O Orador: - Desejo, todavia. sublinhar que deste desabafo não se deve concluir que tenha algum agravo do Governo, ou de qualquer Ministro em particular, antes, pelo contrário, uma vez, que pessoalmente só tenho recebido deferências. Não guarda qualquer, parte da «ração do fel, da injustiça e da malevolência que é propinada em toda a parte aos governantes» (palavras textuais de um discurso do Prof. Marcelo Caetano). E aproveito até para manifestar a minha alta consideração e respeito pelo Sr. Presidente do Conselho, lembrando o recente grande serviço prestado ao País com a sua rápida, a discreta em acompanhantes, deslocação ao Brasil, que correspondeu a assentar mais uma grande pedra no edifício, da comunidade luso-brasileira, de que tem sido, de há muito, um dos mais hábeis obreiros, e acreditando que mis dificílimas condições actuais, com os tremendos obstáculos que têm de enfrentar-se, interna e externamente, não fosse possível ao Governo fazer muito mais.

Nos tempos que correm, a actividade governativa é encargo pesadíssimo, que exige extrema devoção e permanentes sacrifícios a quem a exerce.

O que talvez fosse viável era fazer de outra maneira, isto é atacar a fundo certos problemas mais urgentes, com ousadia e coragem, sem deixar de ser prudente, saltando por cima de preconceitos, outrora intocáveis para as pequenas nações, mas que os interesses nacionais forçam a pôr de banda e que são hoje moeda corrente no mundo de egoístas em que vivemos.

Parece oportuno transcrever sem comentários este período das declarações feitas pelo [...] brasileiro, Gibson Barbosa, antes de partir para a sua visita a oito países de África em Outubro último:

A política externa do Brasil é ditada pelos nossos exclusivos interesses nacionais e não poderíamos aceitar que problemas existentes entre outros países, e a que estamos alheios por não participarmos na sua decisão, comprometessem ou dificultassem as nossas relações bilaterais entre cada um deles.

De resto, já o célebre Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido Sir Edward Grey, há várias décadas, declarou nos Comuns, em resposta a uma pergunta relativa à aliança com Portugal, que não havia alianças eternas; eternos eram apenas os interesses de Sua Majestade Britânica. As patroas não são textuais, mas o sentido é este.

Entre outros dos problemas a que me referi, saliento a política externa, para a qual desejaria um rumo diferente daquele para que nos encaminha a, ideologia e a força dos princípios que nos regem, relembrando que, sem deixarmos de ser fiéis aos tratados que firmamos, a maioria do nosso território e da nossa população está para lá do trópico de Câncer, limite sul da área abrangida peio tratado do Atlântico Norte.

É que a África Meridional é uma imensa realidade que, tem um grande papel estratégico e económico a desempenhar no Mundo, se se mantiver em paz, apesar dos sistemas e concepções político-sociais que diversificam os países que a constituem, o que, no campo da ecumenicidade e estratégia global, não tem significado de maior.

O ponderado discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros proferido em 2 de Outubro na Assembleia Geral das Nações Unidas, em que, com clareza indiscutível, expôs as razões que nos assistem, seria de fazer meditar responsáveis honestos dos países que ali têm assento. Todavia, sabemos que não é assim, e que uma tosca e mentirosa entrevista de um sicário do P. A. I. G. C., do M. P. L. A. ou da Frelimo, na TV de Estocolmo, por exemplo, bem mais projecção mima larga carnuda da imprensa internacional, porque, infelizmente, na sua grande maioria ela não é imparcial nem independente, e assim até a população da Europa Ocidental deixa de ter noção do que a África significa para o seu continente.

Mas a União Soviética, é bom não esquecer, é também uma potência europeia e por isso não descura o significado da África. A bon entendeur ...

Se tivermos presente a posição do actual secretário-geral da O. N. U. - que não é amarelo, mas antes branco e europeu - nas suas declarações em Adis Abeba e Rabat, aquando das reuniões do Conselho de Segurança e da cimeira da O. U. A., respectivamente, e nas próprias Nações Unidas, sobre a candente matéria do terrorismo e as decisões tomados no areópago a este respeito, temos de verificar que nada ganhamos, pelo menos em minha opinião, em pertencer à O. N. U. Gastamos verbas que nos são necessárias para fins de desenvolvimento económico ou de defesa nacional e ajudamos a pagar generosamente inimigos da nossa Pátria. Isto apesar de o mesmo secretário-geral ter declarado, a propósito dos acordos firmados entre as granules potências, que «nenhum sistema mundial durável pode, na história actual, desconhecer os interesses, a sabedoria e a importância da grande maioria das médias e pequenas potências».

Mas a respeito de «sabedoria e importância», significaria ele as de países como o Uganda do Sr. Amin, a República Ce ntro-Africana do Sr. Bokassa, ou o Daomé nem sei de quem, dados os golpes de estudo que frequentemente ocorrem neste país?

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!