grandes ideias do progresso moral da humanidade, condenando talvez antes de ninguém no Mundo, a escravatura e defendendo à outrance e com a maior coragem a dignidade da condição humana. Refiro-me ao P.º Peruando Oliveira, que viveu na primeira metade do século XVI (nasceu em 1507) e me, além de doutrinador e sábio ecléctico foi escritor eminente. Da sua mão saiu a primeira gramática da língua portuguesa e o seu trabalho sobre a "Arte da Guerra do Mar", além da primazia que se lhe conhece, tem ainda em certos aspectos valia na época presente.

Mas voltando ao que na minha opinião sé não fez, e que tanto temos apregoado nesta Casa, onde estão as medidas de rigorosa economia nos gastos não indispensáveis?

Sei que 1972 foi ano excepcional, pois comemoraram-se três efemérides ímpares. Todavia, num país pobre que enfrenta uma guerra terrorista, breve há doze anos com encargos militares que, como tantas vezes tenho dito, só caminharão no sentido ascendente, parece que se deveria ter sido mais comedido nos vultosos gastos em cerimónias, que poderiam ser miais, modestas, concebidas com mais humildade e sobriedade.

O Sr. Valadão dos Santos: - Muito bem!

O Orador: - Onde está a reorganização voluntária ou forcada - repito: ou forçada -, das indústrias militares no sentido de as assobiar, ou antes fundir, visto estar em causa a sobrevivência nacional? Continuamos dependentes, de importações nesta matéria, que cada dia, dada a incompreensão quase geral solve a nossa justa causa, se tornam mais difíceis e dispendiosas. E não podemos esquecer que o material de guerra que vem sendo fornecido aos movimentos terroristas é cada vez mais moderno e poderoso. Como vamos ripostar? Onde está o avião, o menos um tipo que se esteja a construir nessas magníficas Oficinas Gerais de Alverca, que pela técnica apurada e boa gestão de que dispõem poderiam produzir muito do que necessitamos neste particular?

Por que se não associa uma ou mais firmas estrangeiras com larga experiência, abundância de técnicos de que tanto necessitamos, e kno how de fabrico de material de guerra - creio que tinha ainda as haverá, apesar das oportunidades já perdidas - para produção maciça no continente, quando o negócio de armamento é dos mais rendosos que se conhecem? Veja-se como a França, por exemplo cuida dos seus interesses neste campo e a influencia, até no domínio diplomático, que dele tem colhido.

E a Espanha como está encarando o problema, criou um grande consórcio de onze empresas, das quais quatro estatais, só para a produção de material de guerra, com o objectivo imediato da exportação, visto que por enquanto não enfrenta problemas aos territórios africanos que lhe restam - e oxalá que não os tenha nunca, porque não desejamos a amigos males que nos afectam. E hoje há tantos países onde colocar armamento...

E equipamento fabril não nos falta, o que ainda torna a nossa indecisão mais gritante.

Por outro lado, deixamos de avançar, nitidamente, na apregoada industrialização.

Onde está o organismo de investigação e estudo, no campo do armamento, que cubra necessidades de pesquisa e aperfeiçoamento e até de novas armas e de novos equipamentos, dentro das possibilidades nacionais, bem entendido?

A Junta Nacional de Investigação Científica Tecnológica tem ligações com o Departamento da Defesa Nacional, mas não se me afigura de prever que possa existir alguns resultados práticos dessa ligação. Não me parece mesmo que as características de investigação que as indústrias de material de guerra exige estejam nas previsíveis capacidades da Junta.

Sei bem que, dadas as nossas modestíssimas possibilidades não se podem dispensar esforços nem malbaratar recursos, mas este particular aspecto da investigação científica é fundamental e tem de ser encarado com senso prático. é claro que a investigação será desde logo muito mais necessária e urgente se houver indústria militar a sério.

Onde está efectivamente a coordenação de alto nível em África de todos os meios civis e militares em pessoal e material para a condução de uma guerra que é total, apesar de não estar felizmente sublevada a maioria das populações e por isso não a podermos, rigorosamente classificar de guerra subversiva, mais antes de guerra terrorista. Ainda há tempos um acreditado jornal inglês, financial Tinica, depois de reconhecer que na África Portuguesa não há preconceitos raciais e que as populações não então com os terroristas, pois não há terrorismo urbano em qualquer das cidades das nossas três províncias martirizadas, dizia: "Portugal enfrenta um desfio lançado simultaneamente pelos fora de lei internacionais, pela agressão comunista e pelo racismo negro."

Estamos tão pouco habituados a ler na imprensa estrangeira apreciações imparciais e correctas sobre o caso português que mão resisti a tentação de transcrever esta passagem, certamente conhecida- da Câmara, dada a categoria do jornal.

Todavia, não nos iludamos sobre a evolução da nossa luta perante as forças do mal que se aglomeram contra nós e que fazem uma propaganda cada vez mais violenta e feroz - e aqui volto a fazer uma chamada à ultima "conversa" do Sr. Presidente do Conselho, que não deixou de nos alertar- sobre a situação. Penso que a condução da guerra merece ser revista à luz, de novos conceitos que implicarão profundas modificações no statu quo actual, interno e externo. E agora repiso na unificação do mando, vestindo na mesma entidade os poderes civis e militares nos Estados de Angola e Moçambique.

Não será impertinência pedir que nos debrucemos sobre o caso da Guiné: doutrina conceitos e execução que só uma autoridade categorizada e de visão realista e económica como a que lá está pode conseguir.

E, repito, não se julgue que essa unificação implica necessariamente um militar. Presentemente, até talvez nem fosse o mal apropriado.

O Sr. Correia da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Não poderia ao menos ser utilizada; uma parte destas últimas em acelerar os atrasos nos pagamen-