Não tinha aguardente porque a vendera a preços de miséria para o estrangeiro. Alguma a 2900$ a pipa! E imo se percebe por que não a vendeu ao comércio do vinho do Porto a 5000$, preço que lhe oferecem . . .

Não há aguardente vínica porque o plantio está suspenso desde 1965, com o fundamento de excessos de produção em três anos anteriores.

Em 1971, para satisfazer os contratos, importa a Junta aguardente e álcool.

Em 1972, recorre novamente à importação e com consequências mais desastrosas para a economia do vinho.

A análise desse Álcool nos laboratórios do Instituto do Vinho do Porto provou que muitos lotes, correspondentes a 80 por canto do bobai, não eram de qualidade para serem adicionados no mosto para benefício e rejeitou-os.

E mais: que era álcool neutro e por isso sem se poder saber qual o produto que o originou.

Chega-se à vindima de 1972 e, por faltada álcool, acaba por à mesmo todo esse álcool rejeitado.

Sabe-se que esse álcool neutro foi comprado à Jugoslávia.

Entregou a Junta à Casa do Douro 12 milhões de litros de álcool, que correspondem a uma importação de vinho de cerca de 160 000 pipas (na base de 12°), tantas as necessárias a destilar no País, como era hábito, de direito e racional.

Se acrescentarmos a aguardente e álcool necessários para os abafados, conhaques, etc., quantos milhares de pipas a mais se não importaram?

A Administração-Geral do Álcool que o diga.

Os vinhos generosos de 1972 são o resultado do vinho do Douro e do álcool neutro.

Agora andam todos apavorados com as possíveis consequências!

Nessas, se as houver, e Deus permita que não, cabe alguma responsabilidade ao comércio do vinho do Porto pela sua constante política de não querer aguardente cara, quando, voluntariamente, vai onerar as compras desta vindima, em certos casos, em mais de dois contos por pipa além da tabela oficial.

Pelos vistos, agora já o vinho do Porto .pode suportar esse incomportável encargo!

Porventura, alguma vez passaria pela mente dos escrupulosos fundadores das afamadas cosas do vinho do Porto de que os seus sucessores viriam a adquirir tais vinhos?

Estou certo de que nunca.

Para o caso de 1973 pensam (por enquanto só pensam) ir comprar vinho à Argélia, a fim de ser cá destilado.

Fica-se, ao menos, com a certeza de que é aguardente vínica.

Um país essencialmente vitivinícola VV com excedentes de produção e para se lhe dar remédio proíbe-se o plantio em 1965.

E continua o defeso para os respeitadores da Sei.

Agora, importa-se vinho com o fundamento de que o País carece de vinho barato e de que este custará 3$ o litro.

Ora, em 1972 a cotação dos brancos no Oeste e no Ribatejo foi de 4$50, na base de 12º, donde se poderiam ter retirado para a aguardente cerca de 200 000 pipas, beneficiando os vinhos de mexa que de lá saem. E se não recorrermos já a esta tradicional forma de adquirir aguardente vínica nacional arriscamo-nos a perder a exportação do vinho do Porto, o que seria uma autêntica calamidade para o Douro e para o País.

O Ministério da Economia tem outros processos de compensação para o menor custo da aguardente.

Importa-se vinho porque as "fábricas de vinho" cá existentes e que medram à sombra da tolerância fiscalizadora ainda não "produzem o vinho" suficiente!

Atenda-se à magna reunião de apavorados lavradores em certa terra vinhateira e ao que já se disse acerca do açúcar, do melaço, das anilina, etc., etc.

E será por esta razão que se permite a gasificação desordenada do vinho para iludir as graduações e fraudulentamente prejudicar o consumidor?

Importa-se vinho, e preocupamo-nos tanto com a restrição das vendas no ultramar e também com a designação de "vinho de Caxi, Vaugosumo", etc.

Importa-se vinho porque o ordenamento agrário do País e o correspondente restabelecimento do plantio da vinha podem aguardar!

Pugnar pela boa qualidade do vinho e pela disciplina do mercado é dever fundamental dos organismos oficiais, e nisso terão uma grande ajuda quando toda a produção estiver concentrada em adegas cooperativas, dirigidas por competentes e probos servidores.

Alargue-se, então, sem receio, a área do plantio para vinhos destinados a queima, mesmo que para isso se tenha de cercar de arame farpado e de guarda fiscal.

Terá a dupla vantagem de ser um produto nacional e de reconverter muitas terras carecidas disso.

Está-se a viver a maior das anarquias no sector vitivinícola - produção e comercialização - pelo que se tornam necessárias imediatas medidas de repressão.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: O vinho do Porto, que atinge este ano a comercialização de 93 000 pipas, fica à mercê do jogo comercial da Jugoslávia e da Argélia.

Tudo indicava que a exportação atingisse maior volume, dadas as excelentes qualidades de que dispúnhamos e dos avultados dispêndios com a propaganda.

Muito naturalmente pode suceder que se chegue a vindima de 1973 e não haja o álcool neutro "da moda" para esse benefício, e, então, lá se vai o vinho do Porto e todos os esforços despendidos.

E conseguimos subir das 35 000 pipas às 93 000!

Com este bom êxito devia o comércio de vinho do Porto insistir na venda de vinhos de qualidade engarrafados e não praticar uma concorrência desfavorável ao prestígio do vinho do Porto e aos interesses da própria classe.

As reservas no Douro nó andam pelas 35 000 pipas - 20 000 na Casa do Douro e o restante na lavoura. Por isso são migalhas que pouco contam.

Defendemos sempre a qualidade do vinho do Porto e de todos os outros e defendemos a formação de grandes reservas.

Dessa defesa, e de muito mais, nos desempenhámos ao apresentá-las ao Secretário de Estado do Comércio na visita de estudo que fizera à Casa do Douro (e, diga-se de passagem, onde foi aprender alguns conhecimentos da problemática do vinho, em 19 de Novembro de 1969) e, anteriormente, na exposição que o conselho geral da Casa do Douro dirigiu ao Ministro du Economia, em Abril de 1967, a qual também subscrevi, por nesse tempo dele fazer parte.

Avisámos com a antecedência necessária os graves riscos que estavam iminentes.

A omnisciência e a omnipotência de alguns dirigentes são os responsáveis por este gravíssimo panorama económico.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Cunha Araújo: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.