situasse no bem comum, segundo a minha óptica, que até hoje não encontrei motivos para considerar errada.

Pois, pacifista por formação, não vi então, nem vejo ainda, que a transformação da sociedade portuguesa não possa continuar a fazer-se em paz e por uma evolução gradativa e tendencial à sua completa liberalização.

A forma e o tempo de o atingir é que podem originar interrogativas, pois se há quem pense que tal evolução se pudera e devera até ter-se acelerado, outros opinam que a sociedade portuguesa não está preparada para tais acelerações, que lhe poderiam atingir os alicerces frágeis e causar irremediável dano, mas que, embora isso, haveria de se ir para a frente e sempre mais para a frente, mas devagar e cautelosamente.

E é a opção, por uma ou outra via, que causa angústia, exactamente porque em ambas se vêem fortes linhas de razão. Por qual optar? E ponto em que o meu espirito se encontra ainda, como disse, digamos, menos aquietado, sobretudo pelo receio, ora que se esteja a confundir rapidez com precipitação, ora que ao meu temperamento buliçoso a prudência pareça excessiva.

Por isso dizia e disse que estou e estarei sempre ao lado de quem me indicasse o melhor caminho à solução nacional, e rebelde a orientações idealistas, só porque idealistas.

Pois foi exactamente dentro desta disposição que desde inicio orientei a minha actuação política. Tudo ouvi e a todos ouvi, e continuo na expectativa de motivos para desviar o rumo.

E foi assim que ouvi aqui há dias, nesta Câmara, o ilustre Deputado Dr. Júlio Evangelista, e que foi observado num jornal citadino,- como elemento da ala mais conservadora desta Casa, vir ao encontro de desejos meus, pedindo ao Governo a concessão de uma amnistia.

Ser ou não ser conservador, e o significado que a expressão comporte e haver ou mão pertinência aã qualificação é coisa que ora nem importa, pois a verdade é que, reconhecendo inteira oportunidade e a generosidade da solicitação, aqui lhe venho manifestar total, e incondicional apoio e comungar assim com o ilustre Deputado nos seus esforços, insistindo junto do Governo no pedido para que se conceda não só uma ampla amnistia, como ainda um generoso idulto.

E releve-se abe que dias depois daquele seu pedido, parece, ou eu ao menos assim o interpretei, o Sr. Ministro da Justiça se mostrou adepto à concessão da amnistia . . .

Vozes: - Não, não!

O Orador: - ... pois afirmando-se adverso à concessão de amnistias frequentes não o mostrou ser em relação a amnistias oportunas.

O Sr. Almeida Cotta: - Sr. Deputado, mas porquê agora?

O Orador: - Porque estamos no Natal!

O Sr. Almeida Cotta: - Todos os anos há um Natal. . .

O Orador: - Mas eu explico a V. Ex.ª Quer ter um momento de paciência para me ouvir?

O Sr. Almeida Cotta: - Não é paciência, eu tenho gosto!

O Orador: - Revendo o passado, verifica-se que as amnistias vêm tendo uma certa periodicidade que pode situar-se de dois anos e meio em dois anos e meio. E como a última amnistia teve lugar em 12 de Maio de 1970, pelo Decreto n.° 204/70, é exactamente este o momento oportuno ...

O Orador: - ... para concessão de nova amnistia e afastados, portanto, os temores por amnistias frequentes.

Não vou discutir as razões que então aduziu o Sr. Deputado Júlio Evangelista ao fundamentar o seu pedido e até se além delas outras haverá.

Centralizar-me-ei apenas numa: que melhor oportunidade há para uma amnistia que a festa da família que é a quadra do Natal? Época tão querida do povo português, bastará tão-só essa motivação para justificar a medida de clemência e para fundamentar o apelo que em comunhão com todos os bons portugueses aqui também deixo feito ao Governo.

O Sr. Albino dos Reis: - Muito bem!

O Orador: - Não quero nem devo ainda terminar sem deixar de manifestar o meu vivo aplauso ao Decreto n.° 450/72, que pôs termo às medidas de segurança aplicáveis aos delinquentes políticos.

E tal acto, de tão largo alcance político, surgiu, assim, inesperado e simplesmente, sem grandes alardes, publicidades ou reclamos, como que a significar à Nação que, atingida natural e logicamente certa etapa de um caminho evolutivo metodicamente planeado, tivesse chegado o momento oportuno para o consumar.

E o Governo fê-lo simplesmente, como o disse já, com a maior das singelezas, numa demonstração viva ao País de que as promessas feitas se vão cumprindo, não de improviso ou na busca de efeitos espectaculares, mas em obediência à sua oportunidade.

Aqui deixo, pois, reafirmado, com a minha esperança numa evolução tão rápida quanto o comporte o clima nacional, o pedido de amnistia e de um generoso indulto, motivo determinante desta intervenção.

Tenho dito.

O Sr. Dias das Neves: - Sr. Presidente: Li, há algum tampo, algures, que o desenvolvimento não constitui apenas caminho para a abundância, mas é sobretudo e sem dúvida a construção de uma sociedade.

Esta afirmação, se traz consigo implicações éticas, úteis do maior alcance que se não podem evitar, traz também uma exigência fundamental, que é a da participação efectiva de todos no processo geral de desenvolvimento, o que é o mesmo na preparação do seu futuro.

Porém, ninguém participa verdadeiramente naquilo que não compreende, e por isso ao estabelecer-se qualquer plano de desenvolvimento há que realizar uma intensa campanha de educação e esclarecimento, para que todos possam saber perfeitamente os fins que se visa obter e qual a parte que lhes cabe nessa participação.

Assim o entendeu o Governo quando se lançou definitivamente numa política de desenvolvimento regional, que fora esboçada já no Plano Intercalar de Fomento, quando lançou por vários meios uma vasta campanha de educação e conhecimento dessa política, permitindo um longo e proveitoso diálogo, com viste a uma maior consciencialização de todos os implicados no processo.

Efectivamente, quando em Maio de 1967, em Abrantes, um dos mais importantes centros urbanos do distrito de Santarém, se realizou o I Colóquio de Desenvolvimento Regional, mais do que fazer demonstração de erudição,