cionária. E acontece ainda - e considero isto muito preocupante - verificar-se que as Universidades reformadas segundo a óptica tecnocrática parecem suscitar e propiciar o agravamento dos processos revolucionários estudantis. O Prof. Alejandre Nieto, numa obra consagrada à análise destes problemas, escreveu o seguinte:

Não foi por acaso, por conseguinte, que nos países de capitalismo avançado a revolução estudantil começou precisamente nas Universidades consideradas como modelo, isto é, naquelas em que já se tinha consumado o processo adaptador, como Berkley nos Estados Unidos, Nanterre em França e Trieste na Itália. É curioso assinalar o facto de que os estudantes reagem com mais violência frente à eficaz Universidade tecnocrática do que frente à anacrónica Universidade tradicional: esta impele ao abstencionismo e aquela a revolução. A renovação tecnocrática da Universidade faz amadurecer os conflitos, acelerando os processos revolucionários. Com ela resolvem-se certamente problemas do passado, mas estabelecem-se ou anunciam-se outros novos. À situação revolucionária introduz-se melhor na Universidade tecnocrática, ao passo que a Universidade tradicional é mais propícia ao absentismo ou à rebeldia.

O Sr. Roboredo e Silva: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor. Sr. Deputado.

O Sr. Roboredo e Silva: - V. Exa. e a Câmara toda devem ficar quase assombrados de ver um homem que está desligado dos altos e complexos problemas universitários fazer um aparte ao magnífico discurso que, como e sua forma, está a proferir. De resto, V. Exa. sabe, porque já tive ocasião da lho dizer mais do que uma vez, a consideração e o apreço em que tenho a sua categoria intelectual.

Todavia, neste particular momento, deixa-me perplexo a posição que V. Exa., pelo menos até agora, acaba de tomar, se eu bem compreendi, refutando a reforma da Universidade.

Penso que vivemos uma época em que não é possível estagnar e não reformar tudo, todas as actividades nacionais, sejam elas quais forem, tanto no campo prático da vida, como nos aspectos técnicos, como no do ensino e nomeadamente do universitário, não podem de nenhuma maneira deixar de ser manipuladas, modernizadas e reorganizadas de maneira u satisfazer necessidades da época que vivemos, em que o Homem já vai à Lua.

Consequentemente, eu não poderia calar uma reacção espontânea e natural que surgiu à medida que fui ouvindo o discurso de V. Exa.

Estou de acordo, integralmente de acordo, em tudo quanto se refere à necessidade de disciplina nos Universidades, acabar com esses problemas de contestação que não é puramente estudantil, mas que é manobrada, todos nós sabemos, e conhecemos pois que por trás de tudo isso está muito mais a politização e nomeadamente as doutrinas marxistas revolucionárias que são contrárias ao sistema que nos informa e à nossa maneira de pensar, mus, quanto à reforma propriamente dita, manter a Universidade tradicional e não a reorganizar de maneira a satisfazer erros ou atrasos, em relação ao momento actual, que ultrapassaram muitos hábitos, muitos interesses e muitos costumes e que, por consequência, são males que havia a corrigir.

Era apenas isto que eu queria dizer e, repito, mais uma vez peço que me seja, não direi perdoado, porque só a Deus peço perdão, mas que me seja desculpada esta intervenção, por vir de um homem que está completamente fora dos assuntos universitários.

Terminaria ainda com mais uma palavra: à reforma do ensino universitário e do ensino em geral, suponho eu que esteve quase um ano à apreciação da opinião pública no País, em que toda a gente se podia pronunciar sobre ela, em todos os meios e a todos os níveis - e mais que nenhum nível, os meios universitários eram aqueles que mais profundamente se deviam ter envolvido na discussão.

Muito obrigado.

esígnios que a hão-de orientar.

O Sr. Deputado afirma que os textos programáticos da reforma estiveram a discussão. É verdade que sim e as Universidades pronunciaram-se: os senados, os conselhos escolares e a Junta Nacional da Educação, através de um relatório que eu penso que será uma peça fundamental no processo. Oxalá que, tão breve quanto possível, apareça qualquer espécie de livro branco que contenha os relatórios dos senados e conselhos escolares e da Junta Nacional da Educação sobre este problema.

Não é de modo nenhum o desejo de que o problema seja silenciado que está na essência das minhas observações aqui feitas hoje.

O Sr. Roboredo e Silva: - Sr. Professor o colega Deputado: Confesso que gosto muito mais de designar as pessoas pela sua categoria fora desta Assembleia do que propriamente como Deputado, e por isso digo muito obrigado, Sr. Professor, e peço desculpa de não ter interpretado tão bem como devia os seus conceitos e intenções. Mas, honestamente, se eu compreendi mal, não posso ser culpado da minha insuficiência ao não alcançar os objectivos que V. Exa. tinha em vista.

O Orador: - Eu tenho estado a criticar certas espécies de reforma, não a reforma necessária que a nossa Universidade há-de vir a ter.

O Sr. Roboredo e Silva: - Pronto! É isso mesmo que eu gostava de ouvir. É que a Universidade tem forçosamente de ser reformada, como todo o ensino.

O Orador: - Mas é preciso saber como é que há-de ser reformada. Aí é que está o ponto.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Aguiar e Silva: V. Exa. está a aproximar-se do limite de tempo regimen-