O Sr. Camilo de Mendonça: - Com desconhecimento, não acredito.

O Sr. Carlos Ivo: - O facto é que se dizem aqui coisas que, para nós, ultramarinos, são difíceis de compreender. Mas, por outro lado, eu também quero dizer que, mesmo nas províncias ultramarinas, especialmente em Moçambique, nós muitas vezes recebemos as informações acerca das coisas que se passam no nosso território através de fontes de informação estrangeiras, neste caso dos nossos vizinhos. E é exactamente isso que eu creio que está errado, pelo que o nosso sistema de informação deve ser adaptado às circunstâncias, de forma a termos todos plena consciência do que se está a passar, quer estejamos perto, quer estejamos longe das zonas de operações.

Muito obrigado.

A Oradora: - Agradeço a V. Ex.ª a achega que deu ao meu trabalho. Eu vou continuar e V. Ex.ª verá que eu queria um esclarecimento mais completo, mas não apenas no aspecto da informação dos jornais, mais para além disso. Eu depois mais adiante direi.

Mas há ainda os que não sentem pelo ultramar aquela dedicação, aquele amor, que seria lícito esperar-se numa nação secularmente ultramarina, por ignorância das suas realidades.

Julgo, Sr. Presidente, que é tempo de se mobilizarem todos os esforços e meios no sentido de se corrigirem conceitos errados ou ultrapassados, de se reformarem mentalidades e de se esclarecer mais amplamente a opinião pública para que os portugueses mais conscientes, os da metrópole e os do ultramar, vivam unidos o mesmo problema e possam suportar com mais ardor e firmeza os difíceis tempos por que a Nação está passando.

O Sr.º Cancella de Abreu: - Muito bem!

A Oradora: - Abrem-se hoje ao ultramar largas perspectivas de desenvolvimento económico e social, através de leis, de medidas e de reformas que, para serem válidas e autênticas, têm de ser profundamente entendidas e amplamente executadas. Há para tal que se encontrar, não só os meios materiais, mas também, e, sobretudo, as pessoas que terão de estar não só preparadas e à altura das largas e difíceis tarefas que lhes são exigidas, mas também consciencializadas para as atitudes e sacrifícios que a emergência actual impõe.

Isto significa que temos de preparar, não só técnicos e especialistas, mas também cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres no conceito de uma nação distinta de qualquer outra pela sua maneira de estar no mundo, simultaneamente unida e diversificada.

Não me parece, Sr. Presidente, que a preparação para o entendimento deste conceito tão essencial à defesa da nossa política ultramarina, diria melhor, da nossa política nacional, porque é a própria sobrevivência da Nação que está em causa, esteja a ser feita com o dinamismo e o realismo que seriam necessários e desejáveis no cruciante momento de hoje.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Há, sem dúvida, manifestações e atitudes neste sentido, mas isoladas e descoordenadas.

Há que fazer, na metrópole e no próprio ultramar, uma consciencialização mais activa e profunda sobre o problema ultramarino, em todos os sectores da vida nacional, e criar também as condições necessárias para que todos, indistintamente, possam dar o seu contributo para a sua solução, solução que não admite abdicações em favor de estranhos e que só aos Portugueses pertence encontrar, na ordem, na justiça e no trabalho.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Camilo de Mendonça: - V. Ex.ª dá-me licença?

A Oradora: - Faça favor.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Minha Senhora: Eu estou a ouvi-la com o maior interesse, como sempre, a dar-lhe o meu pleno acordo, e mesmo quando eu queria abster-me de estar a intervir ou a interromper, sou, neste momento, forçado a fazê-lo, para pôr esta questão suscitada por acontecimentos recentes.

Suponho que se algum dinamismo tem havido na actual presidência do Governo, é em busca de soluções para o ultramar. Que, sem abdicar dos princípios, das intenções e das finalidades que estão em cada um de nós e que a todos cumpre defender, não se fechou a nenhuma pesquisa, a nenhuma procura, a nenhuma abertura, que chegaram, por vezes, a ser mal interpretadas.

Todavia, corajosamente, se não transigiu, se não abdicou, e antes manteve sempre a mesma fé e o mesmo objectivo. Presto a minha homenagem ao esforço, às diligências, às preocupações, que o Prof. Marcelo Caetano revelou neste particular, como correspondendo necessariamente à gravidade e profundidade de um problema, que é o maior do País.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Camilo de Mendonça: - Considero, portanto, perfeitamente inadequado, ilegítimo, que alguns procedam em atitudes que poderão ter-se como criminosas quando estão em causa problemas desta natureza e gravidade. V. Ex.ª, pelo que disse, convém comigo neste desabafo.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Camilo de Mendonça: - Eu respeito profundamente os problemas de consciência de cada um e da pesquisa de caminhos que a católicos ou não católicos se imponham. Mas não compreendo que possam dar lugar a atitudes contra a consciência nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Camilo de Mendonça: - Quando se chega a esse ponto, algo está profundamente doente ou mal. Respeito as preocupações de todos, as perplexidades que alguns até possam ter, mas, acima de tudo, a consciência nacional não permite a cada um, para lá das suas dúvidas ou hesitações, agir, manifestar-se