Srs. Deputados a que me referi inicialmente, e mais concretamente ainda nos relatórios já publicados pelos Grupos de Trabalho das Infra-Estruturas e do Turismo da Comissão de Planeamento da Zona Norte, a cujas conclusões, quanto a essa necessidade, dou o meu inteiro apoio; a beneficiação das pistas e da aerogare impunha-se para poder corresponder às crescentes solicitações de tráfego aéreo em passageiros e mercadorias enquanto se aguarda a decisão a que anteriormente aludi e, mais do que isso, a transformação obviamente morosa dessa decisão na realidade por que todos ansiamos: o aeroporto metropolitano do Norte, concebido e dimensionado com rasgada visão de futuro.

Na verdade, Sr. Presidente, tais ilações, se possíveis, para além de negarem o meu entendimento das coisas, negariam por completo os objectivos desta intervenção, que bem se poderão sintetizar assim: tentar repor o problema do Aeroporto das Pedras Rubras no verdadeiro quadro das realidades que o condicionam e chamar a atenção do Governo para as difíceis situações que se vão criando na ausência de uma tomada de posição que restitua aos povos a confiança no futuro e às suas autarquias a possibilidade de tomarem as melhores decisões na gestão dos interesses que lhes estão confiados.

Tenho dito.

O Sr. Nogueira Rodrigues: - Sr. Presidente: Acabado de chegar de Angola, foi com viva e sentida emoção que acompanhei a comunicação feita ao País pelo Chefe do Governo. Com viva e sentida emoção Angola a acompanhou também, pois que, de todas as afirmações produzidas pelo Sr. Presidente do Conselho, lhe fica a certeza de que pode continuar com a mesma firmeza e confiança a tarefa enorme, ingente, a que se vem dedicando: o engrandecimento daquelas terras de Portugal.

Lutando contra o tempo, empenhada em todo um processo de desenvolvimento que quase assombra mesmo os mais crentes, Angola cresce não só no económico, mas faz progressos tremendos nó social. É produto do esforço de gente que tem dado em todas as épocas lições ao mundo, de perseverança, de persistência, de espírito de sacrifício e, mais do que tudo ainda, de coerência: de coerência pela forma como está no mundo, de respeito para consigo mesmo, pela sua história, pelo seu passado, pelo seu presente e com preocupação pelo seu futuro.

Para quem vive no ultramar, ao ouvir o Chefe do Governo, atentar em certos pontos da sua comunicação, algum motivo de preocupação, de receio, e até de espanto, o obrigam a reflectir que, afinal, alguns sectores do País, do seu país, desconhecem, contagiados talvez por um modernismo -ou ânsia dele-, preocupados com o que eles mesmos não sabem bem quê, desconhecem, dizia, todo este esforço, todo o enorme esforço em que o País, todo o País, está empenhado. E tanto assim é que, mesmo de repetidamente esclarecidos, continuam a ignorá-lo. Mas a nossa fé, a nossa confiança, continuam inabaláveis, pois que nem só de mártires, nem de heróis, está a nossa história cheia, pois que traidores em todas as épocas os houve.

Ao escutar a comunicação do passado dia 15, em todos os seus pontos os meus pensamentos nela se detinham relembrando o quanto de há doze anos a esta parte, e mesmo mais já, todo um processo de descolonização, toda uma ânsia louca de libertação, se tem transformado em desgraça para os povos africanos; e em desonra, em vergonha, para o mundo. Todo um cortejo trágico de independências, em que as excepções se limitam, e estas resultado de um trabalho de preparação de há longa data e de concretização muito recente. E, em Angola, como afirmava o Chefe do Governo, bem nos recordamos de "ver alguns restos na trágica passagem por Luanda de tantas vítimas de corpos e de almas destroçados".

Em Angola bem nos recordamos do quanto sentimos na. própria carne. Foram os nossos irmãos brancos ou pretos que tombaram, às mãos das hordas ululantes de selvagens. Têm sido os jovens do País que, como espírito de quem é jovem e destemido, tantas vezes, alguns a sua própria vida lhe entregam. Mas os que lembram a sua passagem por lá e as circunstâncias os não fazem regressar -de muitos tenho ouvido ter sido o melhor tempo da sua vida. Gente abnegada, gente autenticamente portuguesa.

Libertar-nos, pois, de quê?

Libertar-nos, pois, de quem?

Há todo um tremendo equívoco, talvez desonesto equívoco de uns quantos; equívoco que o País tem que desfazer, e combater, a menos que queira mergulhar na desonra, contribuir para a desgraça de regiões e suas populações, que têm como vínculo, em certos casos, a condição única de poderem continuar portugueses.

Libertação, de quê e de quem?

Vivemos numa época em que a própria Europa, a velha Europa, procura encontrar um tipo de ligação económica que conduza até a uma união política; em que o mesmo sucede em outras regiões do Mundo. Isto entre povos em que as afinidades se situam na recordação de um passado cheio de hostilizações bélicas e económicas. E nós, que constituímos uma Pátria com mais de quinhentos anos?

Libertarmo-nos, pois, de quê e de quem? Meu Deus: que tremendo equívoco!

"Sobre os ombros de quem governa pesa a responsabilidade do ultramar português. Defendê-lo contra os perturbadores da sua paz importa sacrifícios. É verdade. Resta saber se renunciar a essa defesa não importará sacrifícios bem mais graves e bem maiores. Para cada um dos portugueses e para a Nação. Eu, por mim, não aconselharia a renúncia", dizia o Chefe do Governo ao terminar a sua comunicação, tão lúcida, tão convicente na sua argumentação.

Por nós, ao acabarmos de escutá-lo, redobramos a nossa confiança nos destinos da Pátria e vamos retomar o nosso trabalho imenso em Angola, que Angola sómente interrompeu no tempo suficiente para o escutar. Para escutar e para lhe agradecer muito comovidamente, Sr. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Montanha Pinto: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Montanha Pinto: - Quero apenas apoiar e solidarizar-me com as palavras de V. Ex.ª e pedir-lhe licença para acrescentar ou repetir que as palavras