Obrigado, Sr. Ministro, pela orientação e pela esperança que certamente inculcou na lavoura serrana algarvia.

Permiti-me deixar para o final destas considerações relacionadas com a pasta das Finanças a que mais me agradou e politicamente me satisfez.

Trata-se do velho problema, politicamente já muito gasto pela usura do tempo e das promessas eleitorais nunca cumpridas, mas ansiosamente sempre presente nos corações dos naturais de Monchique e de todos os algarvios, que em 16 de Novembro passado apresentei a esta alta Câmara, do aproveitamento das Caldas de Monchique, desde há muito semiabando-nadas.

Afirmei então, ao finalizar a minha exposição de Novembro, que deixava "uma palavra de confiança ao Governo na pessoa de S. Ex.ª o Ministro da Economia e das Finanças, conhecedor como sou", disse, "das suas. invulgares qualidades de trabalho e inteligência e da amizade que há muito dedica ao Algarve e às suas gentes" e que "seria agora que os Algarvios verão vencidas as forças negativas que subterraneamente têm esmagado as tentativas de ressurgimento das Caldas de Monchique".

Pois, Sr. Presidente, S. Ex.ª não esmoreceu a confiança que obviamente nele depositei, antes a robusteceu, já que no passado dia 9 de Janeiro o Conselho de Ministros, e por sua mão, aprovou o decreto-lei que abre concurso definindo as bases para a concessão das Caldas de Monchique.

Obrigado Sr. Ministro. Monchique, o Algarve e eu próprio estamos .extremamente gratos a V. Ex.

Tenho dito.

O Sr. António Lacerda: - Era meu desejo, que infelizmente não pude concretizar, assinalar no fecho do- primeiro período desta sessão legislativa o seminário sobre a participação das populações no seu processo de desenvolvimento, que teve lugar em Viana do Castelo nos fins da 1.ª quinzena de Dezembro. Foi de facto uma bela jornada - de que, aliás, a imprensa fez largo eco e de uma maneira geral louvou -, em que, com bastante profundidade, foram debatidos muitos dos aspectos do desenvolvimento rural e das suas numerosas implicações nos diferentes níveis em que ele deve ser concebido e tratado.

Não acompanhei pessoalmente, nem participei em grande parte das sessões de trabalho e de exposição dos diferentes e diversos temas propostos para estudo dos numerosos participantes, em que, aliás, se viam mais técnicos do que representantes das populações a quem as acções se destinavam. Este aparente desinteresse nada significa. É um fenómeno real que se conhece e já se tem na devida conta.

Mas foi de facto uma afirmação positiva de vitalidade e de interesse das gentes e técnicos do Norte e ainda de outros que lá se deslocaram e também da vizinha Galiza, no sentido de se darem a conhecer melhor, de assentarem em comum reais, possíveis, esquemas de trabalho. E foram relatadas experiências vividas em outros pontos e noutros países e que permitem recolher ensinamentos, levando a uma melhor coordenação de esforços em prol do bem comum, que todos ambicionamos.

Nunca será de mais tudo o que se faça no sentido de arejar e alargar a informação, pois os homens parecem apostados, com os seus cegos individualismos ou divisões, em contrariar as iniciativas úteis que lhes permitam pôr ao seu inteiro serviço os meios mais ou menos abundantes de que dispõem.

Acções como esta e outras, que em boa hora as comissões de planeamento vêm desenvolvendo, alargam âmbitos mais fechados, restritos, de departamentos específicos da Administração, alguns, aliás, muito ciosos da sua importância e tecnicidade, parece que ainda impermeáveis, e que isolados não podem atingir plenamente, ou poderiam atingir, o fim último a que se destinam - servir completamente o interesse da colectividade. E podem ser chamadas e dinamizadas tantas energias adormecidas que o precisam para ser plenamente conhecidas e compreendidas, até dos próprios, algumas vezes!

Com que saudade recordo uma reunião, em que tomei parte nos começos da minha vida profissional, em que um rapaz simples, modesto, de bom viver e pensar, expôs em termos rudes, mas justos e seguros, em palavra bela e chã, um límpido programa de sociologia rural que ele sentia em toda a verdade. E quase nem acreditava que tinha sido brilhante na justeza simples das ideias apresentadas esse moço de então, que, como tantos outros, poderia ter continuado adormecido nas suas insuspeitadas capacidades e energias. Este, e quantos mais, constituía e constitui o viveiro de homens dinâmicos, activos, com os pés assentes no solo, a cabeça e as mãos habituadas a trabalho fecundo, com experiência autêntica que distingue o sonho, que é só fantasia, daquele que pode transformar-se em autêntica e magnífica realidade.

É com homens assim que, a todos os níveis, se engrossam as élites profissionais, se cria o autêntico escol regional de que por esse país além, sempre e sempre, de cada vez com mais urgência se necessita para a aceleração do progresso geral.

E como é útil e consolador ver o entusiasmo com que reflectem judiciosamente nos problemas fundamentais, de que talvez nem se teriam bem apercebido na confusão enorme que a todos rodeia, penetrados porventura até de um certo desânimo, empastados na névoa perturbadora que não permite delimitar contornos razoáveis, ou a ampliação das autênticas perspectivas que se hão-de transformar na realidade de amanhã.

Chamados a reflectir, vão buscar aos recônditos do seu pensar, motivados algumas vezes por simples palavras, ou detalhes bem simples, forças ignoradas para enfrentar situações difíceis, permitindo obter soluções susceptíveis de fazer atingir fins justos. É possível que o exemplo destes homens dedicados e sãos nas suas intenções sirva de exemplo aos representantes mais ou menos qualificados da administração pública para coordenarem, ou deixarem coordenar, os magníficos esforços daqueles que, acima de tudo, pretendem o engrandecimento do seu sector ou da sua região.

Este esforço de reflexão deve ter sequência numa ampla participação de todos na solução dos problemas comuns e pressupõe uma adesão consciente à árdua tarefa que a todos incumbe. Uns podem certamente dar mais que outros de si ou do que é seu, mas na adesão de todos e na coordenação dos esforços se situa a grande possibilidade de êxito final.

Pode admitir-se que, havendo tanto e tanto que fazer e até tantos que o pretendam levar a cabo, não haja