O Sr. Cunha Araújo: - Está bem, mas V. Ex.ª deve abster-se de sustentar aqui opiniões tão verrinosas.

O Sr. Henrique Tenreiro: - V. Ex.ª não pode estar nesta Assembleia a criticar a acção militar dos nossos soldados em defesa do ultramar.

O Orador: - V. Ex.ª pediu a palavra?

O Sr. Henrique Tenreiro: - Não preciso de pedir a palavra para defender o meu país.

O Orador: - Sr. Presidente: Chamo a atenção de V. Ex.ª para o procedimento deste Sr. Deputado, que diz que não precisa de pedir a palavra.

O Sr. Henrique Tenreiro: - Para defender o nosso país não preciso.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Miller Guerra: Eu também tenho de pedir a atenção de V. Ex.ª para o facto de se estar a referir a certas circunstâncias em termos diferentes daqueles que parecem ser, segundo foi comunicado à Assembleia e até ao País, os do realmente sucedido. Eu não quereria estar a interromper V. Ex.ª, mas peco-lhe o favor de se lembrar de que o primeiro direito à audiência reside na objectividade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Agradeço a V. Ex.ª, mas parece-me que até agora não fui subjectivo.

O Sr. Cunha Araújo: - Foi verrinoso!

O Sr. Casal-Ribeiro: - Foi venenoso.

O Sr. Pinto Castelo Branco: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Tenha a bondade.

O Sr. Pinto Castelo Branco: - Eu, para já, Sr. Deputado, queria apenas chamar a atenção de V. Ex.ª para o facto de se ter referido "aos católicos reunidos na capela do Rato".

Eu, graças a Deus, prezo-me de ser católico, de procurar sê-lo o melhor ou, pelo menos, o menos mal que me é possível. Posso-lhe garantir que não estava lá. E posso-lhe garantir igualmente que a esmagadora maioria dos católicos portugueses também lá não estava. De maneira que, se V. Ex.ª quiser ser objectivo, terá de falar apenas em alguns católicos, muito poucos, aliás.

Vozes: - Apoiado!

O Orador: - Então, segundo vejo, a minha falta de objectividade está apenas numa palavra. Se eu disser "alguns católicos", parece-me que fica toda a gente satisfeita.

O Sr. Casal-Ribeiro: - É melhor pôr poucochinhos. O Orador: - Quantos, Sr. Deputado?

O Sr. Cunha Araújo: - Eram setenta ou oitenta. O Orador: - Oitenta? Ou seriam mais alguns?

O Sr. Cunha Araújo: - Mesmo que fossem cem ou cento e vinte, não interessa nada, não tem peso absolutamente nenhum.

O Orador: - Então onde é que está a objectividade?

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado: Não vou discutir com V. Ex.ª a objectividade, mas apenas lhe chamei u atenção para o facto de V. Ex.ª estar referindo acontecimentos de forma diferente daquela que a Assembleia tem todo o direito de crer que foi a da realidade. Aí é que eu encontrei V. Ex.ª em risco de falta de objectividade.

O Sr. Cunha Araújo: - V. Ex.ª dá-me licença que lhe faça uma pergunta?

O Orador: - Tenha a bondade.

O Sr. Cunha Araújo: - V. Ex.ª pode garantir à Assembleia que as pessoas que se encontravam dentro da capela eram realmente católicas?

O Orador: - As pessoas que vão à igreja suponho que são católicas.

O Sr. Cunha Araújo: - Não, Sr. Deputado, não basta.

Vozes: - Claro que não.

O Orador: - Mas isso é objectividade?

O Sr. Henrique Tenreiro: - Às perguntas com objectividade V. Ex.ª não responde.

O Orador: - V. Ex.ª tem aqui o microfone e pode vir fazer as perguntas com objectividade. Faça favor.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Dá-me licença que lhe faça uma pergunta?

O Orador: - Com certeza; não estou aqui para outra coisa.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Muito obrigado, Sr. Deputado. Eu queria fazer uma pergunta, dentro daquela liberdade de diálogo que V. Ex.ª defende e que acha que se deve fazer na igreja.

Eu não estou na igreja, estou na Assembleia Nacional, e faço-a: V. Ex.ª concorda que se discuta a presença de Portugal no ultramar? V. Ex.ª concorda ...

O Orador: - Só uma pergunta de cada vez, Sr. Casal-Ribeiro, senão fico atrapalhado.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª nunca se atrapalha...

O Orador: - Atrapalho, atrapalho...