quanto àquele problema, por todos os sectores da Câmara: Reafirme a política nacional de manutenção e defesa da unidade e integridade de todos os territórios portugueses, de protecção das respectivas populações e do seu desenvolvimento económico e social;

2. Declare o seu apoio à atitude do Governo e, por seu lado, rejeite com a maior firmeza as citadas resoluções das Nações Unidas;

3. Solicite do seu Presidente que transmita ao Governo quanto precede.

Por proposta do Sr. Deputado Alberto Meirelles, os Deputados que aprovassem a moção deveriam fazê-lo de pé.

Submetida à votação, foi aquela aprovada por unanimidade - repito, por unanimidade - e estavam presentes mais de 100 Deputados, e, entre eles, quase todos os que mais tarde haviam de ser designados pela ala liberal desta Câmara.

Será necessário fazer quaisquer comentários quanto ao espírito que reinava nesta Assembleia, e que, por certo, serenamente não pode deixar de- continuar a verificar-se? Creio que não. Repito, não pode existir, quanto ao ultramar, um só pensamento divergente, mesmo que noutros aspectos se tenham, como era natural, embora não essencial, extremado campos!

E já agora que a paz e a justiça são temas que andam em voga, conjuntamente com jejuns, orações, odes à liberdade, pedidos de clemência e de amnistia, sempre direi que há momentos na vida dos povos, como na vida das famílias ou das empresas, em que qualquer transigência ou perda de autoridade pode representar o ruir de muitos anos de esforço e de trabalho pela grei e de defesa contra os nossos maiores inimigos. E há pessoas cuja particular responsabilidade agrava a sua conduta na insistência e inoportunidade com que clamam, a despropósito, qualquer das coisas que no fundo todos nós ansiamos ter: justiça e paz! Belas e santas palavras estas quando não têm o travo amargo da subversão e da capitulação e quando não são pronunciadas -ou escritas - por quem tem sobre os seus ombros a enorme responsabilidade das funções que desempenha e da inteligência que possui.

Justiça e paz! Quem não deseja que seja ministrada e obtida neste mundo de loucos em que vivemos, e no qual dão cartas grupos de nações subdesenvolvidas, pobres países onde nunca chegou a luz da civilização, salvo na medida em que ela andava paredes meias com os interesses materiais de quem os explorava política e economicamente, e covardemente os abandonaram quando em Ialta soou a hora da deserção a bem dos direitos do homem e da sua libertação ... O resultado está, aliás, à vista!

Justiça! Palavra que está a ter entre nós o sabor do descontrole, da abdicação à autoridade, da permissão que se pregue -e se aplique- o direito à subversão sob um falso conceito de que ela não existe, na medida em que não se permite o regresso de desertores, a libertação dos que conspiram contra a segurança do Estado, ou contra o próprio povo, através de actos inqualificáveis que destroem o seu património e a ele próprio, se bem calha!

Paz! Pretende-se obtê-la capitulando e tornando vão todo o esforço de séculos, todo o sangue derramado na evangelização e desenvolvimento de vastos territórios, abalados ultimamente por vagas de terrorismo com base em países estrangeiros e mantidos por superpotências neocolonialistas, que apenas visam a morte, a destruição de tudo e de todos aqueles que se mantêm fiéis ao símbolo que de há séculos flutua nas suas terras, em nome de u ma só pátria que se habituaram a querer e a respeitar, porque é sua.

Nós, Portugueses, somos acusados de violar fronteiras, bombardear aldeamentos, cometer crimes, subvencionar revoltas; mas é do Congo, da Zâmbia, da Tanzânia, do Senegal ou da Nigéria, entre outros territórios do Terceiro Mundo, que partem, comandados por cubanos, chineses e russos, e treinados e armados por eles, agentes provocadores, cuja sanha é destruir todos quantos são fiéis a Portugal!

E é quando se vive assim, quando temos perante as populações autóctones a imensa responsabilidade da sua própria conservação e defesa contra a morte, os raptos, as violações e a desgraça, que se prega a paz, a justiça e a liberdade de um povo multirracial, multicontinental, envolvido em guerra de guerrilhas alimentadas do estrangeiro, e unicamente para benefício de estrangeiros.

De uma clara, patriótica e esclarecedora comunicação ao País feita ultimamente pelo Chefe do Governo, e esquecendo-se, intencionalmente, a mensagem de fim do ano, viril, vibrante, e que tanto ânimo nos deu, do Sr. Presidente da República, e de outras dos principais responsáveis pela condução da guerra que nos foi imposta, faz-se tábua rasa de uma frase, de um conceito, em que se diz, depois de se demonstrar firmeza inabalável e indiscutível:

Entro nestes pormenores para sublinhar perante o País que o Governo não está inactivo na busca de soluções políticas que sejam válidas para os territórios do ultramar.

E ignora-se o que se segue nessa comunicação, determinada pela autoridade, firmeza e portuguesismo:

Soluções nossas, e não impostas por outros, soluções na linha que um dia defini como sendo a de preparar o futuro para que seja um futuro português, construído por nossas mãos, para preservar a nossa alma.

Que quer isto dizer que não seja o querermos ganhar a nossa paz, aplicando a nossa justiça e a nossa autoridade, a verdadeira força da nossa razão e da nossa liberdade, mas não daquela que pretendem impor-nos a bem de internacionais socialistas e comunistas, cujos riscos parece ignorar-se tão levianamente?

Estamos num ano de eleições, e o que se pretende é demagogicamente destruir as nossas defesas para cairmos na liberdade dos últimos anos da monarquia, na liberdade dos primeiros anos da República, sob o falso conceito de uma democracia ultrapassada, anacrónica, mas sempre com os riscos do fascínio que a própria palavra encerra perante alguns, não a maioria!

Sim, queremos justiça para poder aplicá-la a nosso favor, do nosso povo, da nossa terra, mas não eufemisticamente para a sua autodestruição.