mente dos mecanismos que o movimentam e engrandecem, das forças ancestrais que o condicionam e determinam, das expressões da sua vontade comum perante os problemas dos nossos dias, da realidade telúrica que lhe dá aptidão para certas actividades, das condições ambieniciais que para ele, povo, possibilitam uma vida verdadeiramente humana. Para a engenheira Maria de Lurdes Pintasilgo o nervo da auto-suficiência saudável de uma sociedade está na capacidade de fazer face, de maneira original, aos seus próprios problemas.

Destes princípios, que procurei resumir com a possível fidelidade, decorrem as considerações de natureza metodológica, todas elas dependentes de uma questão prévia que, dentro da matéria de investigação e desenvolvimento tecnológico, levaria à prioridade - não expressa no projecto do Plano - dos estudos conducentes à descoberta de metodologias adequadas à planificação integrada, designadamente quanto à utilização de todos os recursos humanos portugueses e à revisão dos mecanismos da sua participação política e, num plano menos ambicioso, ao estudo das chamadas tecnologias intermédias. Entre as consequências nascidas da falta desta prioridade e do aparente primado do económico no processo do desenvolvimento formulam-se questões concretas sobre o papel que pode caber, na investigação, às empresas privadas (inseridas na realidade corrente) à Universidade (hoje posta em causa como ente alheio às duras realidades do dia-a-dia) e ao próprio investigador dependente dos Poderes Públicos.

Este voto, isolado mas firme, é uma maneira de pugnar por princípios aos quais - penso - todos nós, com maior ou menor convicção, com maior ou menor consciência, até aderimos. Ele revela-nos, para já e de chofre, como a política e, afinal, todas as actividades dos homens, por isso mesmo que o são, passam inevitavelmente pelo áspero caminho das grandes correntes filosóficas e morais. É um voto, em suma, que nos obriga a deter-nos e a meditar.

Governar é escolher. A escolha implica sempre o abandono de alternativas. E quanto mais conscienciosa ela for, mais nítido e mais doloroso este abandono pode vir a tornar-se. Julgo poder supor que, ao definir as grandes opções do Plano no passado Verão, foi este um dos problemas que se pôs ao Governo, como o prova o esforço de querer manter a todo o custo as linhas de aceleração do crescimento e da regionalização, que inicialmente lhe haviam sido postas como excluindo-se reciprocamente.

O IV Plano de Fomento não é um texto constitucional, nem um código de ética social. O IV Plano é um instrumento de trabalho; primordial, sem dúvida (é sintomática a manutenção do artigo definido na base II, contra o parecer da Câmara Corporativa), mas, em qualquer caso, um auxiliar. Guardadas as proporções, como a agenda do homem de negócios ou a agenda do pároco. Como os horários escolares dos nossos filhos.

Ele foi elaborado, por escalões ascendentes e convergentes, sob pressões não se identificando com esta, nos veio a prejudicar em todos os níveis - até ao da personalidade moral e ao da personalidade política. Por pensarmos demasiado no que tínhamos sido, por falarmos demasiado no que julgávamos ser, descuidámo-nos na preparação do que viríamos a ser, desde logo abrindo um caminho nosso para trilhar com segurança no futuro.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!

O Orador: - Não penso que os objectivos nacionais do Plano impeçam essa preparação. Pelo contrário: eles visam mesmo possibilitar-nos as condições mínimas para uma independência, a um tempo económica e mental, que nos possa garantir um futuro ajustado às nossas características próprias, e que a cada português faculte, se possível na sua terra, o realizar-se como ser humano, na mais elevada e completa acepção das palavras.

Vozes: - Muito bem!

aria de Lurdes Pintasilgo na achega que, com o seu voto de vencida, deu, efectivamente e em consciência, à preparação do IV Plano de Fomento.

Esse voto, cuja raiz ideológica não andará muito longe da minha, tem, para além dos méritos que já referi, um outro, de natureza objectiva, que me parece fundamental.

Ele será, no espírito dos executores do Plano - que seremos todos nós, portugueses - um memento homo permanente, que há-de assegurar o necessário contra-