Dos 540 000 novos postos de trabalho criados no sector industrial no decurso deste século, 95 % foram-no no litoral: as sub-regiões de Lisboa e do Porto fixaram à sua parte 73,5% dessa população fabril, o centro litoral (e particularmente Aveiro, fortemente polarizado pelo Porto) 19,2%.

No Nordeste transmontano diminui a população fabril ou artesanal desde o começo do século.

Haverá ainda quem discorde de que nesta nova fase de. integração das actividades económicas, não já no espaço nacional, mas em mais dilatados, como o da Comunidade Económica Europeia e outros internacionais, «o desenvolvimento das actividades da indústria não deverá continuar a depender de situações de relativa vantagem no tocante a níveis salariais», mas, sobretudo, de que «o indispensável aumento da produtividade média da população activa passará progressivamente a ter de basear-se mais na evolução dos processos tecnológicos e de gestão empresarial», como se reconhece no preâmbulo da propos ta de lei sobre o IV Plano de Fomento, para 1974-1979? O exemplo do que se passou em Trás-os-Montes deve ser sobremodo meditado.

Qual o papel da reforma do sistema educativo e o contributo da formação profissional extra-escolar para que «o crescimento mais acelerado da produção nacional e o aproveitamento dos recursos disponíveis possam fazer-se em condições tecnológicas e segundo linhas de especialização inovadora que assegurem a sua competitividade internacional», condição de sobrevivência?

À consideração do Sr. Ministro da Educação Nacional e dos serviços respectivos aqui- fica, uma vez mais, este meu apelo no sentido de uma maior habilitação técnico-profissional, sem descurar, evidentemente, a cultura.

O incrementado nível de vida que a industrialização acarreta, bem como a melhoria da produtividade agrícola nas regiões litorais, acaba por solicitar um re-forfco dos próprios quadros dos «serviços»: dos 645 000 novos profissionais que desde o começo do século vieram acrescer os efectivos do trabalho, 563000, ou 87% do total, fixaram-se igualmente nas sub-regiões junto ao mar.

A área metropolitana Lisboa-Setúbal absorve mais de metade dos novos postos criados, avançando decididamente não apenas para uma economia e sociedade industriais, mas despontando já para as formas mais evoluídas de uma civilização de «serviços».

Os novos postos de trabalho requerem trabalhadores, e estes fazem-se acompanhar ou constituem a breve prazo família. Surpreende, assim, que a estrutura percentual da população total, activa e não activa, presente nestes espaços se apresente de igual modo divergente de censo para censo?

Porque as séries estatísticas nos permitem uma análise mais dilatada no tempo, iremos considerar o século decorrido desde o primeiro verdadeiramente «censo» realizado em Portugal: o de 1864. Mas pode ter interesse uma estimativa que tentámos com base no «numeramento» dos habitantes do reino nesse ano já longínquo de 1535:

Há mais de quatro séculos a repartição da população, presente total do continente parece que seria a seguinte:

Equilibradas se mostravam as regiões, podendo quase dizer que. um em cada quatro portugueses de antanho residia em caída uma das actuais regiões do País. E entre o litoral e o interior não se afirmavam então, a nível global; grandes desequilíbrios: num lado, 52,8.%, no outro, 47,2 %.

À data do censo de 1864 a situação já era ligeiramente diferente:

não tanto entre o litoral e é interior, ainda, mas sobremodo entre o Norte-Centro e o Sul. Particularmente o Centro progride, o Sul alentejano retrograda. Uma melhor estrutura social, maior divisão da propriedade e distribuição da riqueza entre todos, a descoberta no Novo Mundo de novas culturas (nomeadamente do milho), vieram pacificamente revolucionar as economias e sociedades rurais: a população adensa-se, particularmente nos campos das Beiras Litoral e Alta, o Entre Douro e Minho, o próprio Nordeste transmontano beneficiam do acréscimo populacional.

O Sul, particularmente sangrado pelas descobertas e navegações marítimas, pelo povoamento e colonização de novas terras, estaciona, perde peso no conjunto demográfico continental. Escassamente, um em três portugueses reside no Sul e na região de Lisboa, partilhando o Norte e Centro os demais habitantes.

E eis-nos chegados a 1970: