de impertinência, por considerá-lo ponto fulcral que, de alguma maneira, pode obstar à repulsão demográfica de que também se faz eco o Plano de Fomento, no n.º 18 do citado título.

Constrange-me e dói-me na alma, como ferida aberta que não cicatriza, assistir ao depauperamento e à hemorragia humana de. populações e de terras, de vilas e de cidades que são parte integrante do País e que delas se serviu e nelas se apoiou, como sentinelas fronteiriças, para a manutenção da sua independência secular.

O Sr. Roboredo e Silva: - Muito bem!

O Orador: - O decréscimo previsto quanto à população do distrito é muito importante e significativo, pois passará dos 206400 habitantes, em 1970, para 157 500 habitantes no final do plano hexenal.

É a perda irreparável de 48 900 habitantes.

É por isso que se impõe alertar as consciências e os Poderes Públicos para porem em acção todas as medidas práticas e realísticas que obstem ao êxodo e que se destinem à criação de novos empregos bem remunerados, a par do desenvolvimento de fontes potenciais de riqueza que, certamente, existem, e que possam vir a beneficiar equitativamente os catorze concelhos do distrito da Guarda.

Assim, nas terras altas e de meia encosta, não mecanizáveis, e que, pela sua constituição agrológica, têm apenas aptidão florestal, é aí que o Estado, através do Fundo de Fomento Florestal, poderá exercer actuação benéfica na cobertura de vastas superfícies da serra.

Impõe-se que os técnicos desse organismo, cujos esforços se multiplicam po r áreas dilatadas, localizem no distrito uma delegação dos seus serviços, a fim de se evitarem demoras e contra-sensos de organização, como sejam o que se refere ao concelho do Sabugal, que tem a sua base de assistência, conforme informação colhida, em Portalegre, e o do resto do distrito que está dependente de Coimbra.

Por que não pensar também em termos de incrementar a Viniviticultura que constitui a maior riqueza agrícola da região?

A parte enológica dispõe já de uma rede de adegas cooperativas bem montadas e convenientemente situadas.

Seria da união delas todas que poderia resultar uma maior expansão comercial e a conquista de mercados com mais vasta expressão.

Haveria necessidade de criação de alguns campos experimentais de adaptação, de porta-enxertos e castas.

Numa região com larga heterogeneidade de solos era medida que se impunha.

O Sr. Roboredo e Silva: - Muito bem!

O Orador: - Dizia-me alguém, com certa graça, que já não estávamos no tempo de perguntar ao vizinho do lado a casta que melhor lhe produzia ou de ir à feira comprar o melhor barbado.

O Sr. Roboredo e Silva: - Muito bem!

O Orador: - Não irá longe a agricultura que não assente na investigação e na experimentação.

Na estrutura agrária, como em qualquer outro sector, haverá toda a conveniência de apontar para o futuro, revendo conclusões e atendendo às exigências do tempo e dos gostos do consumidor.

Sr. Presidente, não me competirá nesta intervenção ir mais longe nem focar outros capítulos cheios de interesse e de oportunidade. Reservo-se para melhor ocasião.

Mas não queria concluir estas considerações sem me referir elogiosamente ao trabalho sereno e consciente de milhares de individualidades e de técnicos responsáveis, a quem .presto o meu testemunho de muita admiração, e termino aprovando na generalidade o projecto do IV Plano de Fomento, posto em boa hora ao exame e apreciação desta Assembleia.

Na verdade, há sempre um ângulo de visão que nos impele a emitir uma opinião individual, um parecer responsável que pode contribuir para manifestação livre do pensamento e, um pouco, para melhor esclarecimento da opinião pública.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Moreira Pires: -Sr. Presidente: Vão para V. Ex.ª as minhas primeiras palavras. Elas são de saudação e respeito, para o cumprimentar por ter sido reconduzido nas altas funções de presidente desta Câmara, dado o brilho e superior elevação com que soube conduzir os trabalhos da anterior legislatura.

Srs. Deputados: A todos eu saúdo cordialmente, ao iniciar as minhas intervenções parlamentares.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ao subir a esta tribuna pela primeira vez, passa em mim um frémito de sentimentos de profundo respeito, admiração e culto por todos esses portugueses ilustres que tanto dignificaram este local.

Evoco essa plêiade de homens públicos que, com tanto brilho e rara coragem, defenderam e ergueram bem alto o nome de Portugal.

Ao abordar o tema da ordem do dia, o IV Plano de Fomento, mais do que o do projecto de lei que lhe deu expressão legal, eu sinto a impossibilidade de fazer uma análise profunda e crítica.

A dimensão, já aqui referida, traduzida em 1500 páginas, acrescidas de cerca das quatrocentas do parecer da Câmara Corporativa, a que foi chamado um verdadeiro tratado de economia, esmaga e afasta logo a possibilidade de um trabalho analítico e crítico na extensão desejada.

Apesar de se tratar de discussão na generalidade, pouco mais do que um ou outro apontamento me proponho fazer.

Começarei por lembrar que ao técnico compete auscultar, estudar, equacionar apresentando alternativas.

Ao poder político compete fazer as opções.

Parece-me que este trabalho deverá fazer-se em complementaridade, e nunca, em luta estéril de sobreposição.

Somos latinos, com todas as suas qualidades e defeitos.

As coisas sérias e importantes não se podem planear sobre os joelhos, é certo, mas também não será apressadamente que se obtém êxito capaz.