Para apreciar o projecto de plano logo na fase de relatório preparatório torna-se necessário, feita a prévia e indispensável prospecção das potencialidades com rigor e exactidão, conhecer a extensão do plano e a capacidade financeira e outros meios com que se conte para o tornar viável.

Um plano não pode nunca ser um armazém de necessidades ou um amontoado de pretensões.

Estabelecidas as várias alternativas para a solução de um problema, só então o poder político poderá fazer as opções consideradas mais convenientes. De outro modo, mais não lhe caberia do que aprovar a única solução apontada.

Tem por finalidade o IV Plano de Fomento o desenvolvimento.

Difícil se torna estabelecer uma verdadeira ética de desenvolvimento. É, contudo, plausível, é mesmo necessário estabelecer sobre ele conceitos ou fazer algumas considerações.

Os limites de uma ética, como que de uma «personalização» de ideias bem firmes ou definidas, diluem-se no estado actual do saber , especulativo e imperfeito, do pensamento humano.

O desenvolvimento autêntico terá de abranger o homem em todas as suas dimensões, numa ascese humana, como refere Goulet.

Encarar o desenvolvimento no aspecto apenas material seria encarcerar o homem em limitações sufocantes e dolorosas.

O desenvolvimento total do homem toma o sabor vivência de uma ascese permanente e sempre inacabada, numa ânsia de mais e mais, a caminho da sua própria, transcendência.

Planear o desenvolvimento será procurar concretizar de forma prática e viável esse caminho de progresso humano, por etapas, por acções encadeadas, sucessivas e harmónicas.

O desenvolvimento da técnica, apanágio dos nossos dias, originou o. aumento e variedade da produção de bens. Com esta surgiu a necessidade de colocar os produtos. Para tal conseguir tornou-se imperioso criar necessidades, estimular outras em ritmo cada vez maior, e assim chegámos à sociedade de consumo. Todavia, já se ouvem vozes a anunciar a sociedade de sobrevivência!

O homem, .sob o signo da técnica, pensou que a felicidade residia na posse e consumo do maior número possível de bens materiais.

Ora, o homem, dominado pelos fulgores da matéria e da técnica, ficará dela prisioneiro, encarcerado numa dimensão em que racionalmente não cabe. O homem passou a sofrer as limitações inerentes a essa situação, com as consequentes frustrações, que ocasionam sofrimento.

Assim, no século da técnica duvida-se de que a Humanidade seja mais feliz.

Um dia, desabafava comigo um distinto cientista, eminente catedrático alemão: «Os povos latinos não têm realmente o mesmo nível de vida que nós, os alemães, mas item uma alegria na vida que nós não temos!» E concluiu, em ar de tristeza: «Nós temos demasiada civilização!»

Estas palavras ecoaram em mim de tal maneira que são base de meditação frequente.

A multidão de tecnocratas tem aumentado a sua esfera de acção, o seu campo de domínio, e vai a pouco e pouco impondo a sua férrea e desumana ditadura, presidida pelo seu deus - a técnica.

Aos dados científicos dos computadores, por muito rigorosos e combinados que sejam, faltará sempre a humanização das soluções e, quando não, até a veracidade das situações. A crise do petróleo não fazia parte do ficheiro dos computadores, e, todavia, dele está dependente a execução do Plano.

A técnica deverá servir o homem, e não escravizá-lo.

Não se poderá, sub-repticiamente, criar um «subestado» dentro do próprio Estado?

Sobre os pecados do planeamento no mundo marxista, vem a propósito citar Kossyguine, quando chama ao Gosplan o «estado-maior da economia soviética», lamentando que esta se inspire sobretudo em dados estatísticos, sem submeter os problemas a uma análise profunda e sem elaborar medidas «economicamente justificadas» para os resolver.

Portugal não esgotou a sua capacidade realizadora com as descobertas... para passarmos o tempo a copiar do estran geiro!

O valor das soluções exige vivência dos problemas, espírito de justiça, tendo em mente uma sadia hierarquia de valores, sem atropelos ou perda da visão de conjunto ou, o que seria pior, dos verdadeiros fins a atingir.

Os tecnocratas, que em todos os escalões pululam por aí fora, serão presa fácil de certas doutrinas ... que vão entrando. Através da tecnocracia é mais fácil introduzir o veneno ideológico, minando a sociedade, na medida em que as cedências tecnicamente buriladas possam constituir um veículo almejado.

A tecnocracia pode, através de «independentes» tecnocratas «libertos de alienações», cuidadosamente enroupados, constituir um perigo para as nossas estruturas sociais e morais e para a nossa razão de ser.

Como homem do interior, preocupa-me em particular, no plano regional, a incidência que nele terá o IV Plano de Fomento. Este particularismo regional não deve nem pode tirar a um Deputado da Nação a visão do conjunto, pois que toda a política regional só será autenticamente válida quando integrada no todo da Nação.

Uma das tónicas do IV Plano de Fomento é a eliminação dos chamados desequilíbrios ou assimetrias regionais.

Toda a zona interior, e mais especificadamente os distritos de Bragança e Guarda, é dos exemplos mais flagrantes em desequilíbrios ou assimetrias a nível nacional.

Como em medicina, é a partir dos sintomas que se chega ao diagnóstico. Quando se depara idêntica sintomatologia, estabelecer-se-á idêntico diagnóstico. Logicamente que a terapêutica será idêntica, se realmente queremos curar os doentes.

No caso vertente, na impossibilidade de suprir rapidamente tamanha assimetria ou recuperar atrasos muito vincados, eu temo que os critérios que presidam ao estabelecimento de uma hierarquia de valores e consequentes prioridades possam levar a situações relativas de injustiça.

Evidentemente que um plano hexenal não pode resolver todos os problemas. Tem limitações próprias.

Dentro da relativa capacidade, haverá, pois, que evitar cair nos mesmos pecados que lamentamos nou-