de Aveiro, Dr. Francisco do Vale Guimarães, que na Casa irmã tem assento por direito próprio e para gáudio dos seus numerosos e dedicados amigos!

É, pois, sob o signo da Universidade que me vejo pela primeira vez enredado nas dificuldades do meu mandato.

Universidade que todos nós, concordando ou discordando do caminho escolhido, queremos verdadeiramente nova sem esquecer a riqueza acumulada da tradição, evoluída sem desprezar a prudência do bom senso, aberta sem descurar a defesa da nossa civilização, generosa sem se deixar destruir pela indisciplina e pela dispersão.

Universidade que constitua autêntico alfobre de elites, colhidas nos variados estratos da nossa terra, em que atinjam o cume os mais válidos, intelectual e moralmente, sem olhar à sua condição social, ao seu credo ou à sua cor.

Élites que sejam o cérebro da promoção social e económica do povo português, que desamarrem de complexos e atrasos inadmissíveis, em autêntica liberdade responsável.

Élites que ocupem os espaços vazios da ignorância e afastem dos caminhos rasgados do futuro os oportunistas, os despeitados e os vendilhões do solo pátrio..

Vozes: - Muito, bem!

O Orador: - Élites que apoiem, com tenacidade e tolerância, os sinceros e inequívocos propósitos de Marcelo Caetano numa evolução ascendente, que apenas abrande em homenagem à defesa da integridade da Nação e só pare com a completa e possível felicidade do povo português.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Reparo agora que atraiçoei, involuntariamente, o meu proposto horário, lançado nas asas da emoção.

Vou terminar.

Mas não o quero fazer sem recordar recente e amargo desabafo de um conhecido homem público francês: «É necessário despender grande soma de energia nervosa para resistir, não aos ataques dos adversários, mas às espadas dos amigos!»

Esse o drama de quem abraça com sinceridade, devoção e desinteresse material a vida pública.

Saibamos criticar o Governo com isenção e sentido das conveniências superiores, mas saibamos com igual coragem aplaudir o muito que de bem faz, coadjuvá-lo nas ingentes tarefas que se propôs e livrá-lo dos falsos amigos da Pátria, em que tantos se demitem da sua autoridade de pais, de mestres, de funcionários, de sacerdotes.

Só assim poderemos terminar o honroso mandato com a aprovação da nossa consciência e do bom povo que em nós confiou, que mais não deseja do que a edificação de uma sociedade verdadeiramente cristã, onde liberdade seja igual a justiça e justiça seja igual a amor!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Moreira Longo: - Sr. Presidente: Não é fácil calar no nosso espírito de patriota a repulsa contra os ataques ignominiosos que nos são dirigidos, ardilosamente preparados nos bastidores da O. N. U.

A proposta que ali foi apresentada por países africanos e aprovada por maioria contra Portugal, no passado dia 18 de Dezembro, tem como objectivo principal impedir os delegados ultramarinos da representação portuguesa, o que constitui a maior violação à carta da O. N. U. e a mais aviltante manobra que ali tem sido urdida!

Subtilmente orientados por nações hábeis, que desde o início da magia das independências souberam dar as mãos aos novos Estados africanos independentes, perante a falta de visão e a passividade das nações ocidentais, aproveitando a sua imaturidade para uma catequização que lhes viria a ser conveniente, os países africanos tudo têm feito sem o menor escrúpulo e cometendo as mais degradantes acções para fazer desaparecer a presença do branco em terras de África!

Pura ilusão essa, a de a julgarem prescindível, pois jamais se poderá dissipar a civilização que os brancos criaram e desenvolveram em África, no interesse e proveito até dos próprios negros, que se autodeterminaram graças precisamente à civilização que lhes foi ministrada pelo Ocidente.

Aos países de visão racista, como referiu então o Sr. Embaixador António Patrício na sua patriótica e firme resposta, causa estorvo o carácter multirracial da delegação de Portugal naquele palácio de vidro, que foi concebido para a paz e tem servido o desalinho que pode conduzir à guerra, na inexplicável atitude de se consentir a falsidade e a mentira, em vez da verdade, e onde a intriga tem sido prática válida!

Portugal entrou para a O. N. U. há já dezanove anos, e desde então sempre representou, legal e moralmente, todas as suas parcelas de aquém e de além-mar com elementos portugueses, naturais do continente, ilhas e do ultramar.

Sempre assim se entendeu e aceitou, à luz clara do direito e da honestidade.

Não houve, nem podia haver neste capítulo, alteração à carta que rege os passos da O. N. U.

Como se consentir então e se admitir agora a descabida proposta, que é gritantemente contra a ética da própria O. N.º U., que desde 1955 considerou sempre legal a representação portuguesa na sua pura expressão, como honestamente deve ser entendida?

A resposta ressalta clara do funcionamento da própria organização, onde a preponderância ocidental tem cedido lugar aos países de feição comunista, que facilmente conquistam para si determinadas abstenções de alguns países, aos quais interessam situações de meias tintas!

A Europa, inerte e com pés de barro, assiste a todo um desenrolar de crimes de toda a ordem, sem dar o menor vislumbre de uma união que a perversidade do mundo aconselha e impõe, para defesa da civilização ocidental, antes que seja tarde de mais.

Nós, os Portugueses, temos que nos precaver contra todas as hipóteses que tudo indica venham a avolumar-se.

Nesta concepção, tenho dito, sempre que me é oportuno, que temos de arrumar a nossa própria casa, pois ninguém a vem arrumar por nós. Quanto mais desarrumada ela estiver, melhor servirá os fins de quem nos ataca.

Impõe-se; cada vez mais, a coesão de todos os portugueses para apoiar o Governo, que nos tem orientado por caminhos certos.