Tonéis

Vistam os nossas fazendas e nós bebemos o vosso vinho

Três artigos apenas, dos quais o terceiro é pura formalidade protocolar, fazem deste pacto um modelo de concisão.

O Governo Português obrigou-se, nos termos do primeiro artigo, a «admitir para sempre, daqui em diante, no reino de Portugal os panos de lã e mais fábricas de lanifícios de Inglaterra, como era costume até ao tempo em que foram proibidos pelas leis».

O Governo Inglês comprometeu-se, pelo segundo artigo, a «admitir na Grã-Bretanha os vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja paz ou guerra entre os remos de Inglaterra e de França) não se poderá exigir direitos de alfândega nestes vinhos [ . ], directa ou indirectamente mais que o que costuma pedir para igual quantidade de vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do direito do costume» Se em qualquer tempo este abatimento de direitos fosse por alguma forma infringido e prejudicado, poderia o Governo Português, legitimamente, proibir de novo a importação dos panos ingleses.

«O vinho português começou por constituir um bom frete de retorno para os barcos ingleses que frequentavam Portugal (que, mesmo assim, regressavam com frequência vazios) e que, naturalmente, só fariam essa viagem se ela constituísse ou envolvesse negócio quanto melhor e mais segura venda tivesse o vinho português, mais rendosas.

31 «Declínio do vinho do Porto como produto de exportação depois da última guerra mundial», pelo Instituto do Vinho do Porto, in Jornadas Vinícolas, 1962, vol. v, p 61.

A designação «Porto» foi empregada pela primeira vez, pelo menos de que se tem conhecimento, no alvará com força de lei de 21 de Julho de 1807, pelo qual se concedia à Junta da Administração da Companhia das Vinhas do Alto Douro o privilégio de vender engarrafados os vinhos denominados «do Porto» para evitar a falsificação de que nesse tempo eram objecto.

33 Cf, por exemplo, A Guerra Tenreiro, «Douro Esboços para a sua história económica», in Anais do Instituto do Vinho do Porto, 1942, vol. 1.º, pp 235 e segs , idem, 1943, pp 19 e segs , idem, 1944, pp 3 e segs.

se tornariam as viagens inglesas a Portugal Ganhando na venda dos seus tecidos, ganhavam com a carga de regresso» 33

A exportação de vinho do Porto em médias anuais por decénio teve, entretanto, a seguinte evolução. 34

A expansão da cultura da vinha arrastou uma quebra de preço do vinho os preços por pipa, que chegaram a 60$, já em 1731 andavam à roda de 48$, para não pesarem de 6$ a 7$ no tempo do Marquês de Pombal. Quais as consequências do Tratado de Methuen?

Eis o depoimento de Damião Feres, na História de Portugal. 35

Das vantagens iniciais, traduzidas no aumento das exportações de vinhos e na alta dos seus preços, advieram depois graves prejuízos, em grande parte explicáveis pelos defeitos da gente portuguesa em matéria de actividade económica. A intensificação da viticultura, tão útil quanto ao Douro por tornar ricas algumas extensas áreas até então de escasso ou nulo rendimento, não tardou que fosse desordenadamente feita, criando uma nova crise, quiçá mais grave que a anterior ao tratado. Crescendo muitíssimo a produção de vinhos, caíram os preços, e ao mesmo tempo, invadindo a vinha terrenos móis próprios para a cultura de cereais, agrava-se, ou pelo menos mantinha-se com prejuízo da Nação, o déficit da produção cerealífera. Este mal foi desde cedo reconhecido, em 1709, escrevendo ao conde de Viana, José da Cunha Brochado já o apontava [ ]. Contudo não se procurava atalhá-lo então, apesar de estarem dentro da correr t e dominante, de uma economia oficialmente dirigida, quaisquer me didas de limitação opostas ao puro arbítrio dos viticultores D. João V deixou, porém, em aberto este problema, de modo que só o marquês de Pombal - brutalmente, como era seu costume - veio a tentar modificar o desequilíbrio da distribuição das cul-

33 Dicionário da História de Portugal, cit. , vol. III, p 50.

34 Dicionário da História de Portugal, cit., vol. IV, pp 316.

Transcreve-se do trabalho, já citado, de Jaime Lopes de Amorim (in Anais do Instituto do Vinho do Porto, 1942, vol. I, p 14), o seguinte passo.

O consumo do vinho do Porto na Grã-Bretanha não aumentou substancialmente muitos anos após a assinaatura do Tratado de Methuen, na primeira metade do século XVIII (Enciclopédia Britânica, vol. 23, p 656), porque ele pouco tinha que o recomendasse a não ser o seu baixo preço (André Simon, Wine and the Wine Trade, p. 11)

Porem, durante a segunda metade do referido século, o consumo dos vinhos franceses diminuiu rapidamente, em virtude da sua excessiva tributação aduaneira, e, por outro lodo, melhorou tanto a qualidade do Porto que o consumo deste aumentou de 40 por cento da totalidade dos vinhos consumidos no fim do século XVII para 72 por cento no fim do século XVIII (Enciclopédia Britânica, vol. 28.º, p 656)

Este aumento de consumo e melhoramentos de qualidade do vinho do Porto ocasionou uma elevação gradual doa seus preços, até que a sua superioridade sobre todos os outros vinhos se tornou parte essencial do credo de todos os verdadeiros e sinceros ingleses (André Simon, lline and the Wine Trade, p. 11)

35 Edição de Barcelos citada, vol. VI, p. 409.