Eu quero ver neste momento todos eles, os que já partiram deste mundo e que para nós estão presentes em espírito, juntando-se aos que vivemos, e em uníssono dar graças a Deus pelo benefício transcendente da nossa Escola Normal Superior.

Todos a conquistaram, e do seu somatório resultou a felicidade vivencial do objectivo.

Que ela seja o germe de novos cometimentos, numa promoção cada vez mais acentuada e progressiva.

Os sentimentos de todos os trasmontanos juntam-se em uníssono, esquecendo divergências pessoais ou sensibilizações políticas restritivas, para como um todo coeso viver este momento alto da vida intelectual trasmontana.

Louvamos o Governo de Marcelo Caetano, a quem se deve o apoio firme, resoluto, generoso e lúcido nesta arrancada histórica da batalha do ensino.

Só em ambiente de paz se pode trabalhar e só com trabalho tenaz, persistente e continuado será possível levar a bom termo as ciclópicas tarefas que o Presidente do Conselho referiu em tempo.

Ao Ministro Veiga Simão, grande obreiro do ensino, são devidas as nossas efusivas saudações, em perene sentimento de gratidão, já que com raro brilho e denodada coragem tem rasgado novos mares às naus do espírito, pretendendo beneficiar todos os portugueses, sem discriminação.

Ele tem sabido encarnar as virtudes do povo de que se orgulha de provir, para, em rasgos de audácia e serena persistência, arrostar com mil dificuldades e incompreensões.

"Quando mais cultos mais livres seremos", como afirmou o Ministro Veiga Simão Este caminho é o da independência intelectual e tecnológica, que contraria certa forma de colonialismo em que alguns povos têm sido submergidos.

A todos aqueles que mais directa ou indirectamente souberam contribuir, talvez silenciosamente e com rara subtileza, inteligência e fino tacto político, para que a nossa Escola Normal Superior seja hoje uma realidade, o nosso obrigado, o calor da nossa gratidão.

Nesta fase da expansão do ensino na nossa região falta a instalação do Instituto Politécnico de Vila Real, com a sua extensão em Mirandela. Se nos regozijamos em partilhar os benefícios da nossa Escola Normal Superior com os trasmontanos do distrito de Vila Real, maior será ainda a nossa euforia ao comparticiparmos tão directamente no Instituto Politécnico, na medida em que tão incisivamente nos beneficia, dando-nos parte da sua alma e do seu espírito existencial que beneficia directamente Mirandela, sem dúvida das mais progressivas terras bragançanas e merecedoras do nosso mais justificado carinho e empenho.

Verifica-se a singular coincidência de um ilustre catedrático oriundo do distrito de Vila Real vir dirigir a Escola Normal Superior de Bragança. Em contrapartida, cabe a vez a um não menos ilustre e jovem catedrático nascido ali na cidade de Bragança, que é bem a sua, ir dirigir o Instituto Politécnico de Vila Real, e ao mesmo tempo este bragançano ir partilhar o seu saber e toda a sua capacidade realizadora directamente em Mirandela.

Que estas realizações no caminho do futuro cimentem cada vez mais a unidade trasmontana em termos de realizações, já que étnica e culturalmente possuí-' mós marcada e expressiva personalidade.

Faço votos para que o mais rapidamente possível possamos compartilhar em sadio trasmontanismo a nova jornada do Instituto Politécnico, sem dúvida expressão bem marcada de valorização da nossa "ilha" do interior, como já foi denominada nesta Câmara.

Directamente em relação a Bragança, onde a Escola Normal Superior constituía uma questão de sobrevivência para a cidade, como referiu Veiga Simão, contrariando conceitos tecnocratas bem conhecidos, direi que faço votos para que breve quanto possível se erga um edifício próprio e nas condições que o moderno ensino exige, de modo a constituir o alicerce de futuros cometimentos.

Ainda o Centro de Juventude agora inaugurado pelo Ministro da Educação, que livre e espontaneamente já conta com duas mil inscrições, desejamos seja instalado em condições mais capazes de servir o futuro promissor de tão larga iniciativa.

Um problema candente - a exigência de instalações condignas da numerosa população escolar Desaparecido o Colégio de S. João de Brito, em holocausto à Escola Normal Superior, em condições de marcada e inexcedível generosidade, mais carenciada ficou a juventude escolar nessa matéria.

Este problema é sem dúvida dos mais agudos na nossa terra, que nem as poucas possibilidades oferecidas de momento conseguem suprir senão em muito modesta percentagem.

A educação integral da nossa juventude exige que este problema seja equacionado e resolvido sem delongas e com a mesma grandeza, coragem e visão que caracterizam a reforma do ensino.

As condições dignas de trabalho e habitação, neste caso escolar, constituem um dos factores mais válidos e operantes no sentido de contrariar múltiplos complexos que podem marcar o jovem.

E, para terminar, não quero deixar de fazer um voto, já, aliás, expresso aquando da criação da Escola Normal Superior. Que ela não venha a constituir um foco de contestação sistemática e injustificada ou de subversão, à semelhança do que infelizmente acontece noutros estabelecimento de ensino.

Para além do ambiente de indisciplina e desordem, preocupa-nos acentuadamente a entrada insidiosa, de doutrinas destrutivas, e que venenosamente atacam a própria alma da Nação, corrompendo a Juventude, o Portugal do amanhã.

Sabemos que a carência de professores não permite executar exigentes critérios de selecção.

Preocupa-nos que certos elementos ideologicamente perniciosos se possam instalar em posições de relevo, ingénua ou conscientemente aceites, dada a candura ou até o brilho da roupagem que usam.

Na batalha da educação não se pode permitir a destruição dos valores autênticos que fizeram grande a Nação Portuguesa ou negar os princípios sobre que assenta a nossa temática e pelos quais vale a pena viver

Não precisamos de copiar os erros do estrangeiro para sermos grandes e não está esgotada a nossa capacidade criadora e realizadora.

A batalha do ensino é tão importante para a existência da Pátria como a luta do ultramar. Não pode ser perdida.