Damos graças a Deus por pertencermos a um povo que em dado momento da sua história fez rasgar os humanos limites do espaço e à sua frente faz dobrar os séculos.

Vozes: - Muito bem!

A Sr.ª D Maria Luísa Alves de Oliveira: - Sr Presidente, Srs Deputados Ao usar da palavra pela primeira vez nesta Câmara, cumpre-me apresentar a V Ex. ª, Sr Presidente, os meus mais respeitosos cumprimentos, bem como o testemunho de admiração e respeito pelas invulgares qualidades de V. Ex.ª

Com o início deste novo ano de 1974, durante o qual entrará em execução o IV Plano de Fomento, e hábito de se fazer uma síntese retrospectiva, em jeito de balanço, afigurou-se-me quase como um dever.

Não se pode dizer que 1973 tenha sido fácil para a Nação Portuguesa.

Problemas houve que não se solucionaram, como a guerra nas três fronteiras do País, a incompreensão de muitos, as dificuldades de ordem económica que nos atingiram, pelo aumento do custo de vida, com particular incidência nos artigos de primeira necessidade, a crise energética de que não somos os únicos a queixarmo-nos, as perturbações na vida escolar, e tantos outros de menor importância que, se não afectaram profundamente o País, provocaram, todavia, perdas de tempo, do qual necessitávamos para construir um mundo melhor. Magoou-nos, sobretudo, a atitude de organizações e homens responsáveis, que, contrariando o espírito dos princípios que os regem - a paz e a caridade -, nos tenham hostilizado, tentando banir-nos daquilo que nos pertence.

Embora eivados de contrariedades, aqueles trezentos e sessenta e cinco dias levaram-nos mais longe no caminho que determinámos seguir. E se estranhos e alguns dos nossos criaram entraves ao progresso, nem por isso deixámos de reagir num sentido positivo de acção precisa e prática.

Foi ainda ao longo de 1973 que Angola firmou a sua posição de Estado dentro do contexto nacional.

Esta data marca profundamente a vida histórica daquele Estado.

A proposta do Governo Central de revisão da Constituição Política da Nação, que a Assembleia da X Legislatura aprovou, a Lei Orgânica do Ultramar e, finalmente, o Estatuto Político-Admmistrativo de Angola, que entrou em vigor precisamente a l de Janeiro de 1973, são indícios de uma força, uma vontade dentro da Nação, caracterizada por uma maturidade responsável do momento que atravessamos.

Como portuguesa angolana, com raízes de várias descendências já, não podia deixar de me congratular com o reconhecimento, por parte da metrópole, do desenvolvimento de uma das suas parcelas, como um pai dá ao mundo o seu filho e como este considera sempre sua a velha casa de seus pais.

Angola, a maior, a mais rica região de Portugal, iniciou já a sua arrancada do progresso, num ritmo imparável, em convulsões de gigante que desperta de longo letargo, abrindo chagas, dando vida, esventrando riqueza, regando o seu solo com o sangue jovem dos militares e o das inocentes populações fronteiriças.

Angola é força bruta de vida pujante que precisa de quem a refreie e canalize esse vigor no sentido do desenvolvimento em geral e bem comum das gentes.

É, concretizando, um território em plena crise de crescimento.

Achou por bem o Governo da Nação -e em boa hora o fez- nomear o engenheiro Santos e Castro para as altas funções de Governador-Geral daquele Estado.

Foi o regresso do Homem, talhado à dimensão daquela terra cada vez maior, mais rica, mais poderosa, cada vez mais difícil, mais diferente, com projectos ultrapassados, rebentando com estruturas que se calculavam largamente marginadas, num crescer desmedido e acelerado.

Foi o trocar um futuro que se avizinhava calmo e sereno, como em geral se aspira, por uma vida trepidante, de luta contínua Foi uma doação -com todas as implicações que daí poderiam advir - à terra onde se viveu, à terra que se ama.

É que Angola só aceita esta forma- estuante de viver, porque no nosso Estado tudo é rápido e novo. Tudo é sacrifício e trabalho. A par do fenómeno da industrialização, da normalização cambial que se avizinha, há também um mundo de dificuldades, de limitações, de ambições, dos que buscam os seus interesses pessoais dificultando a tarefa da melhoria sócio-económica do povo.

Não nos devemos admirar que nesse local a ganância exterior e a maneira de ser portuguesa se encontrem frente a frente, empenhadas numa luta sem tréguas que a coesão e a renúncia dos portugueses de todas as latitudes levarão à vitória final.

É chegado o momento de todos nos unirmos e envidarmos os nossos esforços na valorização do País.

Gostaria que o dinamismo angolano contagiasse o todo nacional, que o trabalho de todos convergisse para a construção de um mundo fraterno proporcional a nós mesmos.

É em momentos semelhantes a este que o homem prova a sua capacidade de realização. Pois mostremos de quanto somos capazes.

A S Ex.ª o Governador-Geral de Angola, defensor lídimo da justiça social, orientador arguto daquele Estado, totalmente debruçado para a promoção das suas populações, a todos os Pares desta Câmara, quero dizer que sempre que erga a minha voz, quer para agradecer, quer para apontar deficiências e dificuldades, quer para esclarecer dúvidas sobre a terra que me viu nascer, um único princípio, um único fim, me norteia.

Que a minha Pátria ocupe no Mundo o lugar que lhe pertence por direito.

É fundamento as razões desta afirmação na capacidade de criação de um tipo de homem que não é europeu nem africano, mas um misto de duas civilizações que se fundiram, no facto de nunca a metrópole ter sangrado as riquezas naturais do ultramar em seu exclusivo benefício, mas deixando-as intactas, de modo que sejamos todos a colher o fruto dessa atitude - e da qual nos podemos orgulhar-; fundamento ainda na necessidade de os elementos rácicos da Nação conhecerem melhor o todo nacional, por meio de uma ampla divulgação do conjunto que formamos, para nos interpenetrarmos totalmente nos