O Orador: - Essa é a mais decisiva das frentes onde se trava a nossa luta, e, para que a vençamos, há-de prosseguir-se na política de aldeamento das populações ultimamente empreendida, na certeza de que não poderá levar-se a cabo a grande empresa de promoção enquanto existirem populações dispersas por locais aonde não seja possível fazer chegar os benefícios da civilização, ou sejam as condições que assegurem a promoção social e moral.
Para se alcançarem tais objectivos impõe-se, no entanto, assegurar os meios de defesa adequados às circunstâncias presentes O massacre de Nhacambo veio demonstrar a vulnerabilidade dos aldeamentos, ou pelo menos de alguns deles, face a um inimigo desesperado e disposto a tudo sacrificar à violência. Impõe-se, por conseguinte, rever o sistema de defesa dos aldeamentos e dotá-los de instrumentos que lhes permitam responder pronta e eficazmente a ataques como o da noite de 6 para 7 do corrente, pois só assim as populações encontrarão neles as efectivas condições de segurança a que inquestionavelmente aspiram E é necessário continuar a preservá-los, pelos meios adequados, das sempre possíveis infiltrações ideológicas subversivas.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Por outro lado, e especialmente enquanto não houver sido possível agrupar em aldeias todas as populações que ainda se encontram dispersas, torna-se urgente aperfeiçoar os nossos diversos dispositivos de segurança, sobretudo no mato.
Sacrificadas por longos e penosos anos de luta nas três frentes da Guiné, Angola e Moçambique, têm as forças armadas portuguesas sabido responder com exemplar dedicação e patriotismo ao desafio lançado ao País Espelho vivo da Nação, verdadeira imagem da Nação em armas, como já muito justamente se disse, elas têm-se desdobrado em actividades por vezes mal conhecidas e até porventura indevidamente apreciadas, que vêm permitindo conter o inimigo dentro de limites razoáveis e assegurando que nenhuma porção, por pequena que seja, do território pátrio haja sido alienada à efectiva e permanente soberania nacional. Nunca será de mais reiterar aos que cumprem o seu dever o merecido elogio, a incondicional admiração, o profundo respeito e a confiante certeza na sua missão, que nunca deixei de lhes tributar, em público e em particular, como ainda recentemente fiz da tribuna desta Assembleia, onde fala quem detém o mandato da Representação Nacional.
Numa luta como aquela que nos é imposta, não seria, porém, razoável esperar-se, nem exigir-se, que as forças armadas regulares se encontrem em toda a parte onde pode rebentar uma mina, que ora faz descarrilar um comboio, ora destrói um camião, ora decepa transeuntes, ou em todas as propriedades que podem ser assaltadas, ou junto de cada cidadão ou aglomerado populacional passível de um ataque de surpresa. Sabe-se quão fácil é executar acções desta natureza, basta pensar em Munique, ou em Londres, ou em Madrid, ou na nossa metrópole antes da recente prisão de um grupo terrorista.
Este último exemplo demonstra bem a importância de que podem revestir-se, quando convenientemente apetrechadas e apoiadas, as forças policiais e de segurança não militar. Moçambique necessita urgentemente de que sejam revistos e alargados os quadros destas suas forças e que lhes sejam proporcionados meios adequados à realização de uma tarefa de transcendente importância no âmbito da sua competência e da sua vocação específicas. O que até hoje se lhes ficou já devendo é penhor seguro dos altos serviços que legitimamente se pode esperar delas, em colaboração, que importa estreitar, com as forças armadas. Como importa também não esquecer o papel desempenhado por corpos especiais e auxiliares das nossas forças militares: os chamados GEs e GEPs, grupos especiais e grupos especiais pára-quedistas, os comandos, exemplares pela sua bravura e decisão e pela sua particular adaptabilidade ao terreno, bem como as milícias, constituem instrumentos de actuação que de modo nenhum podem desprezar-se, antes interessa sobremaneira multiplicar e valorizar, na certeza de que constituem forças do maior mérito e das mais preciosas no tipo especial de luta a que temos de fazer frente.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Sr. Presidente: Estou certo de me haver ocupado de apenas um aspecto da actual conjuntura moçambicana; não ignoro que as dificuldades do momento presente em Moçambique se radicam também noutras causas, nomeadamente económico--financeiras, a que do mesmo modo urge fazer face, para ultrapassar as vicissitudes da hora que passa Delas me ocuparei ou se ocupará algum dos meus colegas numa próxima oportunidade.
Desejo apenas recordar que nunca Moçambique regateou à metrópole o seu apoio, sempre que ele foi necessário, e por isso confia no apoio que inevitavelmente e a metrópole não deixará de continuar a prestar-lhe, na certeza de que, com o maior empenho em ajudar a resolver as dificuldades, o Governo não deixará de se debruçar atentamente sobre a situação e na garantia, por nossa parte, da inabalável decisão de todos os moçambicanos de se manterem unidos na Pátria comum.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Callapez Martins: - Sr. Presidente. Ao usar pela primeira vez da palavra nesta Assembleia de tão antigas e ricas tradições, seja-me permitido saudar V. Ex.ª, apresentando as minhas mais respeitosas homenagens, que procuram traduzir o reconhecimento do talento e qualidades invulgares que V. Ex.ª possui em elevado grau e que muito justamente o levaram a ocupar a presidência desta Câmara.
É com a maior sinceridade, Sr. Presidente, que lha ofereço a minha modesta colaboração de homem independente no pensar e no agir, que põe acima de tudo a Pátria, a sua integridade territorial, o prestígio das suas instituições e o bem-estar dos nossos povos, numa ambiência única de amizade plurirracial.
Srs. Deputados Saúdo também VV Ex.ª desejando-lhes as maiores felicidades no exercício da alia função em que estão investidos, oferecendo-lhes a minha muito modesta mas muito leal colaboração, com total espírito de camaradagem que lhes devo, meus muito ilustres Pares, a significar-lhes todo o