tempo suficiente para isso, ditar juízos, mas tanto quanto pude apreciar opiniões das mais diversas, todos viam nela um renovo de possibilidades, um refrescar de potencialidades de que se auguram bons resultados para o País.

Vai ser primeiro tema das nossas preocupações, durante o quadriénio do nosso mandato, o IV Plano de Fomento. Ele é rico de medidas tendentes a assegurar o desenvolvimento de todo o País, aquém e além-mar. Se é próprio das intenções humanas perderem-se, é bom que os actos humanos, os programas dos Governos e das pessoas sejam ditados por intenções que antes vão além das capacidades do que se fiquem aquém. Esperemos que o Plano de Fomento, que nós poderemos ajudar a aperfeiçoar, traga efectivamente o reforço de condições de desenvolvimento que todos esperamos ter, e se realize na plenitude dos seus vastos propósitos.

Vai o Plano desenvolver-se numa conjuntura difícil, como todas as conjunturas, mas vão aparecendo no rodar dos anos formas novas de dificuldades; e como há pouco foi apontado, parece que não só Portugal, como todo o Mundo, está à beira de aspectos novos de problemas, alguns dos quais são de sempre e outros pareceriam estar dominados. Justamente com a melhoria de vida, com o crescer dos consumos, com o apurar dos apetites, veio a verificar-se, mais cedo do que seria de esperar, o fundamento dos prognósticos dos que, duvidando das possibilidades de longo crescimento exponencial num mundo finito, anunciavam carências de matérias-primas. Parece que tal carência está realmente às nossas portas. Não insistirei no aspecto mais actual, mais agudo, porventura mais dramático, pelo menos mais largamente publicizado; não insistirei tão-pouco naquele outro aspecto não menos pungente que representa a subida constante do custo de vida, do agravamento da inflação, que parece nenhum país ter conseguido ainda travar.

Mas aparecem dificuldades novas, faltas que se irão repercutir, porventura, no desenvolvimento da actividade económica, sob todas as formas: a carência de matérias-primas, determinando paralisação ou redução de actividades industriais, determinando a necessidade de vida mais austera, quando todos nós olhávamos para vida mais folgada. Ainda há poucos dias tive ocasião de ler um comentador do mais rico país do nosso mundo, que afirmava actualmente só se notar ali uma fartura, a de variedades de escassez.

É bem possível que nós, que tínhamos começado a abandonar os velhos princípios de comedimento, característicos da civilização latina, quando julgávamos ter por aí encontrado o caminho da modernidade, nos vejamos dentro em breve forçados a retomar austeridades de que nos julgaríamos libertos.

Essa é uma característica delicada da conjuntura em que vamos exercer a nossa actividade.

Certamente VV. Ex.ªs a terão em conta nos nossos trabalhos, certamente a venceremos todos, unidos e decididos, como temos vencido outras, como é próprio do homem vencer obstáculos que se lhe deparam, perdendo aqui ou além um pouco de substância, empobrecendo além ou aqui algum sonho, mas subsistindo e encontrando nessa mesma subsistência novas razões de esperar, novas razões de se prolongar, novas razões de viver, novas forças. Que essas forças e essas razões inspirem e alimentem VV. Ex.ªs é o meu primeiro voto, no mesmo momento em que recordo diante de vós algumas das dificuldades que porventura encontrarão, para despertar, para tornar mais intensos os vossos esforços.

Gostaria ainda de fazer brevíssimas considerações sobre o papel da Assembleia. Se me pedissem para resumir a minha opinião, em curtas palavras, sobre as suas relações como o órgão de soberania mais próximo de nós, que é o Poder Executivo, eu diria que, no exercício das suas funções de apreciação da Administração e dos actos do Governo, ela não deve ser nem um flagelo nem um registo de vontades. Deve manter o seu espírito crítico, no sentido de que a colaboração não se exerce na su bserviência, mas no sentido de que ela também não se exerce na contestação.

Há quatro anos procurei marcar aqui o limite dos passos da Assembleia Nacional, lembrando que ele estaria à beira da descoordenação com o trabalho do Governo. Até lá, filio da inteligência de VV. Ex.ªs, que eles se desenvolverão na recta, larga senda do melhor interesse nacional.

Srs. Deputados: Certamente VV. Ex.ªs quererão acompanhar-me numa palavra de respeito e de homenagem ao venerando Chefe do Estado. Português de rija têmpera, bom homem até à medula, dotado de qualidades de chefe político que temos podido apreciar, nas conjunturas difíceis em que foi chamado a exercê-las, o Sr. Almirante Américo Tomás conquistou já tão largo capital de estima, de respeito, mesmo de amizade, do País que ele encabeça, que quase é redundância, quase será pretensão ociosa pretender expô-las em termos novos. Limito-me a pedir a VV. Ex.ªs o vosso apoio, com o vosso respeito e cumprimentos, ao Chefe do Estad Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Deveremos desenvolver a nossa vida, acompanhando a passo e passo a acção do Poder Executivo, temperando-a se necessário for, informando-a quando convier, respeitando-a sempre, porque disso é digna, sem desmerecermos do nosso mandato, sem empobrecermos os nossos deveres.

O Sr. Presidente do Conselho, disso posso eu dar testemunhos, e faço-o gratamente, procurou sempre, durante a última legislatura, pôr à disposição da Assembleia Nacional todos os meios de acção que está no seu poder proporcionar. Daí, eu fazer este registo e tirar dele a segurança primeira de que podemos contar com a colaboração leal e rectamente intencionada do Poder Executivo, para o desempenho do nosso mandato. Assim lhe retribuamos nos mesmos termos.

Gostaria também de aproveitar a oportunidade para enviar daqui uma saudação amiga e compreensiva à Câmara Corporativa, que nos apoiará constantemente com os seus pareceres e com os seus estudos. Não suponho, nunca supus e cada vez creio menos, ao contrário do que alguns algum momento quiseram imaginar, que a simples apreciação técnica especializada das questões políticas e administrativas baste para lhes encontrar a melhor solução. Há uma multidão de pequenos reflexos, há um mundo de peculiaridades que é preciso serem trazidas ao exame das questões por quem esteja em posição de as sentir,