algarvio, que eu tenho a honra de representar nesta Câmara, muito menos lhe concedendo as tão apregoadas «iguais oportunidades» de valorização.

O Sr Leal de Oliveira: - Muito bem!

A Oradora: - No dia 4 do corrente mês, Évora escreveu mais uma página imorredoura do seu já brilhante passado a Universidade ressurgiu, enquadrando-se na cultura, na história e na monumentalidade incomparável da cidade-museu.

Mas precisamente porque ela vem sendo designada por Universidade do Desenvolvimento do Sul, deverá destinar-se a servir toda a região de além-Tejo, isto é, o Alentejo e o Algarve.

Mas a servir quem (e como)? Os habitantes de Évora e todos aqueles que para aquela cidade se desloquem, sujeitos aos tradicionais inconvenientes que uma deslocação implica?

Será este realmente o espírito de descentralização perfilhado pela reforma educativa?

Estes pontos de interrogação fazem-nos crer que é chegada a altura de definir «Universidade do Desenvolvimento do Sul» com uma clareza marginal a possíveis especulações regionalistas.

O artigo 7.º do Decreto-Lei atrás referido esclarece que:

O Ministro da Educação Nacional poderá autorizar o funcionamento de unidades de ensino e investigação em localidades diferentes das sedes dos estabelecimentos do ensino superior.

Também o magnífico reitor da Universidade do Desenvolvimento do Sul, numa passagem do discurso que pronunciou na tomada de posse da Comissão Instaladora daquela Universidade, se referiu s. . ao caso de haver, como se espera, unidades de investigação e ensino em localidades diferentes das da sede da instituição»

É concludente que nos espíritos do Sr. Ministro da Educação Nacional e do esclarecido reitor da Universidade do Desenvolvimento do Sul existe uma abertura francamente positiva a situações como a do Algarve - que numa ânsia de valorização cultural inegável (comprovada pelos 604 estabelecimentos de ensino existentes e pelos 39 201 alunos matriculados nos diferentes graus de ensino), aguarda, expectante, do Sr. Ministro da Educação Nacional, a diversificação da Universidade do Desenvolvimento do Sul com a efectiva criação, na sua capital, de departamentos plurisdisciplinares.

Aliás, a pretensão da consciente população algarvia justifica-se, até porque, tendo sido a cobaia de misturas étnicas ancestrais, continua sendo agora de culturas que os estrangeiros vêm promovendo. É justo, é imperioso, e urgente, que se sustenha a descaracterização cultural de uma região singularmente histórica e eminentemente portuguesa.

O Sr Leal de Oliveira: - Muito bem!

A Oradora: - A criação de departamentos universitários naquela província constituiria uma medida de profilaxia de uma cultura que não tem nem pode ter apoio na técnica Porque, enquanto as Universidades conduzem à mais organizada criação da cultura de um povo, permitindo-lhe uma visão mais profunda da vida, uma mais ampla compreensão de valores, a técnica não possui sequer as enzimas do pensamento que conduzem ao conhecimento do homem e da sua natureza, elevando-o acima da sua condição material.

Com razão tomou Sócrates para fundamento básico da sua filosofia a inscrição do templo de Delfos «Conhece-te a ti mesmo»

Não é a técnica que eleva o espírito humano às regiões onde se pode encontrar a verdadeira felicidade: a felicidade de desvendar o imo abismal do homem.

As potencialidade da região algarvia justificam que, em departamentos universitários a que têm direito, se ministrem, entre outros, estudos superiores de longa duração de engenharia biológica, de biologi a marítima, pois que a costa algarvia foi considerada ideal para culturas de peixes, de moluscos e outras espécies animais, pelo Dr. Harold Weber, técnico americano de representação mundial na especialidade.

Também o estudo das pescas a todos os níveis deveria vir a processar-se no Algarve, dada a sua incomparável situação geográfica para tal objectivo.

Acaso faltará ao Algarve raiz histórica para a justificação da criação de departamentos da Universidade do Desenvolvimento do Sul?

Podemos encontrar raízes de estudos universitários nos tempos remotos da moirama, onde aquele espírito fulgurou desde as Academias do Chen-Chir até à criação da Escola de Mareantes de Sagres.

Não teria sido aquela Escola autêntica Universidade, à qual se deve o cunho universal de um povo que ainda hoje projecta no Mundo a sua feição intercontinental ímpar?

Onde devem ser implantados os estudos universitários da Escola Náutica do Sul?

Onde melhor poderá ser estudado o aproveitamento da energia solar, se o Algarve possui um céu azul invulgarmente límpido e um clima único na metrópole?

As potencialidades do Algarve, ainda em grande parte por explorar e até por descobrir - como muito bem o afirmou o distinto algarvio Prof. Engenheiro Lajinha Serafim -, oferecem um vasto campo de estudos étnicos, geográficos, arqueológicos, minerais, vegetais, marítimos, climáticos, etc.

No âmbito da sociologia, por exemplo, a comunicação social conduziria a uma formação cultural de primeiro plano, preparadora do desempenho de funções de alio nível no campo das actividades sociais, cívicas, económicas, turísticas e educacionais.

Do mesmo modo se justificariam sobremaneira estudos superiores de turismo, de ciências humanísticas e de línguas vivas como instrumentos de trabalho numa terra que, em ritmo surpreendente, se vai tornando cosmopolita.

A carência de professores do ensino preparatório e secundário - verdadeiros pilares de uma estrutura educativa nacional - verifica-se em todo o território português, mas muito mais alarmantemente no Algarve, onde vão sendo mais gritantes as diferenças salariais entre o funcionalismo público e as empresas privadas.