Que caminheiros do funcionalismo se atreverão hoje em demanda de terras algarvias na aventura de um tão limitado vencimento de sobrevivência?

Quão lógico e justo seria que naquela província o funcionalismo público, sofredor das consequências negativas do turismo, auferisse um suplemento compensador do elevado custo de vida!

No caso particular do professorado, cremos que a situação alarmante do problema educativo, provocada sem dúvida por questões de ordem económica, transcende o preocupante número de lugares ainda vagos Poderão na realidade ser dignos do nome respeitável de professores do ensino secundário todos aqueles - e são tantos - cujas estreitas habilitações não ultrapassam as do curso geral ou complementar dos liceus?

Acaso poderão ser professores os que não ensinam nem educam, antes subvertem a juventude que os não respeita, juventude essa que constitui a parcela maior e mais rentável do património moral e espiritual da Nação?

Disse alguém que ser-se professor é ser-se missionário E eu pergunto- como poderá haver espírito missionário na frustração?

Bem chocante e não menos significativo é o jocoso desabafo de um ilustre professor do liceu:

Perante situações de despromoção como esta, e para bem do ensino, faço votos sinceros de que os vencimentos do funcionalismo público sejam rápida e conscientemente revistos, mormente no que respeita aos agentes de ensino, como o foram recentemente, e com toda a justiça, os das forças armadas portuguesas.

Mas no que se refere ao caso particular da província algarvia, a crise angustiante do professorado não poderá ser solucionada sem a criação de um Departamento das Ciências da Educação, com base na diversificação da Universidade do Desenvolvimento do Sul.

É urgente que o Sr. Ministro da Educação Nacional ouça este meu apelo, onde se reflecte o apelo uníssono daquela provincial precisamos de professores no Algarve, que se formem no Algarve.

Estudante algarvio que tenha de encarar despesas de pensão para cursar estudos superiores longe da sua província não enveredará certamente pelos caminhos do professorado; e, se o fizer, dificilmente regressará ao Algarve para ali exercer a sua profissão, ali onde o elevado custo de vida o não compensará devidamente dos anos passados fora do lar, nem de tantos sacrifícios económicos.

Porém, se vier a ser criado no Algarve um Departamento das Ciências de Educação, quantos jovens se não decidirão pelos cursos do ensino, deste modo mais económicos e acessíveis?

Separado dos centros universitários existentes pelo adamastor das serranias; atordoado por um desenvolvimento turístico que se processa num ritmo cada vez mais acelerado, necessitado, mais e mais, de gente especializada em todos os sectores do trabalho, desejoso de «iguais oportunidades» de ensino, até como armas verdadeiramente eficazes de fixação de seus filhos- o Algarve, mercê de uma população escolar esmagadora, promove um elevado número de alunos ao ensino superior, ombreando eloquentemente com o somatório dos outros três distritos que constituem a zona de planeamento em que se insere.

Vejamos os dados estatísticos referentes ao ano de 1971-1972 (Anuário de Estatística de 1972, vol I) No distrito de Faro-4121;

b) Na sub-região alentejana (Évora, Beja e Portalegre) -7488. No distrito de Faro -5027;

b) Na sub-região alentejana - 6628 No distrito de Faro - 356,

b) Na sub-região alentejana - 373 Do distrito de Faro -1510;

b) Da sub-região alentejana - 2429.

Os números apresentados dispensam comentários.

Preterido em muitos sectores da vida nacional, o Algarve constitui, no entanto, uma província onde a liquidação dos principais impostos, por habitante, se cifrou, no referido ano, em 1570$, enquanto na sub-região alentejana não ultrapassou 1015J (melhor dizendo, menos de dois terços daquele número) Compreendemos perfeitamente a natureza desta diferença de encargos, visto que nela se espelha de certo modo a imensa extensão desértica alentejana, de uma lonjura sugestiva e poética Mas ousamos perguntar se um bom contribuinte, pelo facto de sê-lo, correrá o risco de perder certo peso na balança de determinados direitos.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: O assunto desta intervenção poderá parecer, à primeira vista, eivado de um regionalismo tolo e pretensioso, olhado por um ângulo de observação menos avisado No entanto, eu creio sinceramente que ele transcende qualquer remoto clima regionalista, pela inegável dimensão com que se projecta na vida nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Pinto Castelo Branco: - Sr Presidente: No curto espaço de um mês foram apresentados ao País três conjuntos de elementos da maior relevância para a definição e para a explicação ao País da política económica e de desenvolvimento nacionais Refiro-me ao Orçamento Geral do Estado para 1974 e às comunicações recentemente feitas pelos Srs Ministros das Finanças e da Economia e de Estado através da televisão, da rádio e da imprensa.

A estes elementos há que juntar o conteúdo dos debates e dos textos aprovados pela Assembleia Nacional