despesa total, deduzida dos investimentos. A expansão dos investimentos públicos desencadeará naturalmente efeitos multiplicadores no rendimento nacional, que contribuirão para a ampliação da capacidade produtiva e também por essa via para a estabilização da conjuntura.

Por outro lado, a política orçamental continuará a ser estreitamente coordenada com os demais Instrumentos de combate à inflação, com particular relevo para a política monetária e para a política contratual de preços A estes instrumentos caberão, pois, pesadas responsabilidades na difícil tarefa de assegurar a expansão através da estabilidade.

Assegurar a expansão através da estabilidade em meia dúzia de palavras vemos claramente definido um programa que só por si é um mundo - e uma cabal manifestação de confiança no futuro das finanças e da economia nacionais -, e isto apesar da preocupação necessariamente causada pelo peso das ameaças que principalmente de fora (neste campo também) pesam sobre o bem-estar do País.

Para melhor caracterizar a amplitude dos desequilíbrios que o Mundo neste momento atravessa no âmbito específico da economia, direi o seguinte: o petróleo bruto do golfo Pérsico, que em Junho de 1972 era cotado a 2,6 dólares por barril, é-o agora a 11,9 dólares, ou sejam quase cinco vezes mais. No lapso de um ano e meio, o alumínio passou de 12 para 23 contos a tonelada; a gusa, de 1000$ para mais de 2100$; o enxofre, de 700$ para mais de 1500$, as fosfontes, de 375$ para mais de 1100$; o amoníaco, de 1100$ para 3000$ a 5000$; o sulfato de amónio, de 800$ para 3000$, a ureia, de 1600$ para 5700$; o caprolactamo (matéria-prima para o nylon 6), de 8 a 12 contos para 25 a 40 contos; o polímero de fibra poliéster, de 25 para 45 contos - preços todos eles entendidos por tonelada no mercado internacional.

Quer dizer, em menos de dezoito meses as matérias-primas ou os produtos essenciais que acabo de referir -e a sua lista poderia estender-se quase ao infinito- duplicaram de custo, na melhor das hipóteses. A maior parte, porém, triplicou, quadruplicou e, nalguns casos, quintuplicou de preço!

Simultaneamente, os salários, cá e lá fora, continuam também a inflacionar.

Ora, por muito que se melhorem as tecnologias e que a produtividade orgânica das empresas aumente- e em Portugal é manifesto estar-se a fazer um esforço sensível neste sentido e que só não tem tido repercussões profundas no mercado do trabalho porque a expansão da economia tem vindo a reabsorver a mão-de-obra assim disponibilizadas, é evidente que os produtos acabados, sejam eles quais forem, e os serviços têm forçosamente de acompanhar este agravamento dos seus custos, com as consequências que estão à vista e todos sentimos- e de que não temos sofrido mais porque até agora tem sido possível, em média, compensar (e mesmo mais) a inflação dos preços com a inflação dos salários.

E qual é, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a posição e a situação do nosso pais em semelhante contexto mundial, por que não é, obviamente, responsável e sobre o qual não pode ter senão uma influência limitada?

Pois bem: Olhando para quanto vai pelo Mundo fora e muito especialmente para o que se passa na Europa, em África e no Extremo Oriente, isto é, nos três continentes em que existem parcelas de população e de território portugueses, creio bem que a nossa situação, apesar de tudo, ainda é uma das mais desejáveis. Já vimos, por um lado, que o Governo, com a serenidade, a cautela e a persistência que a situação requer, não só está atento à evolução da conjuntura, como tem vi ndo a tomar e prevê ir tomando as medidas realisticamente possíveis para a compensar. (As medidas utopicamente perfeitas, essas são apanágio dos críticos profissionais, mormente da Oposição!)

Simultaneamente, vê-se que o espaço económico nacional está em condições de suportar, melhor do que, por exemplo, o resto da Europa, o peso desta situação adversa, graças à natural complementaridade das suas varias parcelas qual seria a situação de qualquer delas no momento presente se não possuíssemos no ultramar petróleo bruto suficiente para, em caso de emergência grave, que, aliás, ainda não chegou, assegurar a totalidade do abastecimento nacional? Que seria também das províncias ultramarinas, no seu estádio actual de desenvolvimento, se, perante a carência aflitiva de produtos acabados ou semimanufacturados que se verifica em todo o Mundo, a metrópole não tivesse já atingido um grau de industrialização capaz de garantir o abastecimento das províncias ultramarinas, pelo menos, nos produtos mais indispensáveis para a vida das populações, ou, ainda, se em vez dos sucessivos programas de electrificação iniciados na metrópole logo que a conclusão da guerra de 1939-1945 o permitiu, e no ultramar à medida que os recursos em pessoas e bens o têm proporcionado, e se tem acentuado nos últimos anos, apesar do terrorismo, que seria,- dizia eu, se, por exemplo, a metrópole não pudesse ir buscar às barragens, nesta altura, 85% da sua produção de energia, o que nos confere no conjunto da Europa uma situação perfeitamente privilegiada?

Duas conclusões daqui resultam.

A primeira é a de que, para além dos aspectos morais e políticos, o bem-estar material e sócio-económico das várias parcelas da Nação Portuguesa dependem cada vez mais da sua complementaridade e, portanto, da integração das várias políticas locais numa política global comum que, assegurando a necessária articulação entre elas e, simultaneamente, com as regiões geo-económicas em que cada um a se encontra inserida, permita a optimização, de outro modo impossível, do conjunto dos recursos nacionais, a maximização do seu crescimento e uma melhor distribuição da riqueza assim produzida, concomitantemente com a prossecução de uma política geral que continue a assegurar ao País aquele mínimo de independência sem o qual a Nação perderia a sua própria razão de ser.

A demonstração a contrario do que afirma pode r buscar-se ao que está a acontecer à Europa, em , consequência do embargo dos países produtores de petróleo, e em que o velho continente acaba de revelar-se um verdadeiro «gigante com pés de barro», simplesmente por ter esquecido a natural complementaridade euro-africano e oceânica que Portugal con-