preparam-se para aceitar o que na semana anterior teriam repudiado em nome dos princípios básicos orientadores da vida colectiva, do patriotismo, da economia, da resistência de um grupo humano que era coeso, firme, determinado na acção e na fidelidade às grandes linhas que congregam e personalizam a comunidade nacional, que cimentam a sua integridade.

Isto passa-se lá, em Moçambique, sob pressão directa da violência inimiga, e passa-se aqui, na Europa portuguesa, mediante a instalação subtil dos venenos do espírito que pululam entre nos através da propaganda directa, das dúvidas sistemáticas, do desfazer de reputações, das explicações que ficam a meio, insinuando calamitosas fraquezas ou cumplicidades ou, até, traições ...

É assim que se diluem as virtudes nacionais. É assim que, através dos progressismos e das modas mais ou menos encapotadas em liberalismos salvadores, se gera a erosão das forças morais. É assim que os conceitos basilares da Família, da Pátria e de Deus são contestados e relegados para as velharias de que a juventude foge por receio e vergonha de "não sarem do seu tempo" e certos homens em idade madura rejeitam para que se não negue que são ainda "jovens de espírito".

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem conduz a guerra e as campanhas contra Portugal sabe usar magistralmente esses métodos que noutros países e, ainda muito recentemente, têm resultado, perdendo eles a sua independência e os seus cidadãos a liberdade de se determinarem

Nós temos resistido, Deus louvado!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas sabemos também que não podemos perder nunca a atenção aos intuitos e às manobras dos inimigos, pois eles persistem, têm o tempo que querem e o seu trabalho de destruição encontra por esse mundo fora, e fronteiras adentro, cumplicidade em interesses materiais, que acalentam a troco de promessas e esperanças, e cumplicidades morais, que asseguram através das mais variadas instituições, nas quais, dolorosa e lamentavelmente, se incluem hierarquias e servidores directos do Estado e das próprias igrejas cristãs.

Contra esta forma de luta a que estamos sujeitos a resposta tem de se basear fundamentalmente na manutenção das forcas espirituais de cada português e da Nação, a par das medidas que garantam soluções militares, sociais e económicas De nada valerá ganhar a guerra armada se não tivermos a vitória moral assegurada De nada valerá vencer o inimigo se imediatamente a seguir tivermos que aos entregar a forças económicas estranhas. De pouco valerá retomarmos a normalidade de vida no ultramar se, no País inteiro, se tiver instalado a desorientação social, o espírito de revolta, a injustiça ou a anarquia de grupos.

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - A verdadeira vitória tem de ser construída pela conjugação de todos estes factores, cimentados pelos que respeitem à resistência moral ao inimigo da Pátria. Enfraquecer o esforço em qualquer destas frentes significa enfraquecer o conjunto e aceitar a derrota em plena batalha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ora, este esforço a que me refiro, no seu somatório certo, constitui a política nacional equilibrada que pode permitir continuar a luta enquanto for necessária e garantir a vitória da nossa unidade através da vontade e da tenacidade dos Portugueses.

Exposto isto, Sr. Presidente, volto a fixar a atenção em Moçambique.

O terrorismo começou oficialmente há dez anos, embora, para os que ali vivem, os seus sintomas sejam bastantes anteriores Ao longo destes anos, o mal derramou-se desde o Rovuma até ao centro da província, aos distritos de Vila Pery e da Beira. Não pode haver ilusões sobre se existem ou não condições de latência do mal para sul. Existem.

O significado destas verificações não nos pode levar a conclusões em termos de estarmos a ganhar ou a perder a guerra. Neste tipo de luta, o terreno onde se exerce ou as áreas infestadas têm a importância que lhes dá o número das populações em contacto ou sob a ameaça dos terroristas, sujeitas à sua propaganda e aos métodos desumanos com que fomentam adesões e obediências forçadas.

O que importa são as almas que o inimigo conquista para si e não os quilómetros quadrados em que as acções militares se exercem. Mas há, pelo menos, dez anos que o terrorismo perturba a paz desde o cabo Delgado até agora ao coração de Moçambique, sem que se tenha podido fixar com carácter permanente em qualquer zona significativa. No entanto, repito, há longos anos que a paz nos espíritos e a normalidade da vida deixaram de existir onde ele se apresenta.

As populações sujeitas às suas acções e à nossa têm verificado por si próprias, na sua esmagadora maioria, que o futuro das etnias moçambicanas está em se desenvolverem cada vez mais, como portugueses. Isto explica que ao fim de tão longo período nem nas zonas onde inicialmente se infiltraram tenha havido subversão generalizada e se mantenha a luta de tropas portuguesas contra bandos esparsos, que o inimigo maneja sob a protecção dos santuários de fronteiras estrangeiras vizinhas.

Procurando uma estratégia global, a nossa resposta tem sido alargar a acção armada por uma gigantesca promoção das populações, de que são instrumentos principais o aldeamento, a escola, a assistência sanitária, a elevação dos níveis de salários e de vida, a sempre crescente comparticipação das populações na vida cívica, nos seus diversos escalões, desde o local, ao municipal e ao provincial.

O Sr. Almeida Santos: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor

O Sr Almeida Santos: - Tenho ouvido com muito interesse a brilhante alocução de V Ex.ª e pretendo fazer uma pergunta entende V. Exa. que, como elemento válido para ajudar à promoção social das populações e para as integrar na nossa tradição de portuguesismo, radicar mais o portuguesismo entre essas