residência que "reconhecia que é absolutamente natural que a Beira vivesse intensamente o crime cometido perto de Manica, não lhe ficando dúvidas de que a população civil desejava colaborar totalmente com as forças da ordem".

Mas é necessário que, no clima a que me referi, a este louvável e humano propósito se não deixe misturar aquelas sementes de desorientação política que podem levar a consequências menos portuguesas de actos que, na sua genuína boa fé, são conduzidos por intenso patriotismo.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!

O Orador: - Há que estar precavido contra as aventuras desse moçambicanismo não português, propalado por elementos semeadores da discórdia nacional e que saberão aproveitar estes períodos de essencial exaltação patriótica para a desvirtuarem e tentarem conduzir a atitudes que, uma vez tomadas, atacarão frontalmente a suprema necessidade de unidade nacional.

Comecei a minha vida moçambicana como beirense. Ali conto alguns dos bons amigos que criei em África. Confio na Beira e nos seus elementos mais responsáveis para distinguirem o trigo do joio, aquilo que é verdadeiramente português, nas atitudes assumidas, do que pode ser produto de doutrinas que conduzam à confusão e ao agravamento de problemas provinciais e nacionais.

Um dos aspectos graves que tem de ser examinado também nesta perspectiva é o económico. A situação de Moçambique é a de estar ainda a investir em infra-estruturas económicas que hão-de produzir os seus frutos dentro de poucos anos. Mas, até lá, a situação financeira está longe de ser satisfatória e com o problema dos chamados atrasados e o desequilíbrio natural da sua balança de pagamentos, em fase de arranque para uma economia industrializada, precisa de amplos créditos com que enfrente o dia-a-dia. A situação actual é de sérias dificuldades, não tenhamos ilusões. A carga tributária atingiu os limites máximos toleráveis. Os montantes necessários a uma estabilização temporária daquelas dificuldades e para uma arrancada possível, sem desunimos de falta de esperança, esses montantes são muito altos e não estão, por enquanto, à nossa disposição. Mas estou convencido de que, com as garantias idóneas, elas se poderão obter Garantias idóneas, no entanto, só podem ser as do próprio Estado. Quaisquer outras deixar-nos-iam hipotecados a interesses que podem vir a não ser os nossos.

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - Pois se o Estado ali tem investido verbas avultadíssimas, se não pode negar a sua confiança no futuro da província, creio que não poderá, sem estranheza de muitos, deixar de fomentar tais créditos, sem os quais, podemos ter a certeza, Moçambique não progredirá e o êxodo dos que lá estão - de todas as raças- agravar-se-á em relação ao que já no último ano se verificou. O problema é serio.

Sei que as verbas a que me refiro são muito altas, repito Mas precisamos, neste momento, menos do que em boa hora se investiu em Cabora Bassa, e agora é de toda a província que se trata. A tantos apelos que de lá têm vindo junto o meu, daqui, desta tribuna, para que o Governo, com urgência, possa dar solução a este caso de aflitiva premência para nós.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O benefício que tal garantia dada pelo Estado traria à confiança dos estrangeiros e dos nacionais melhorai ia só por si a situação moral da província, e quero bem crer que a própria situação social e militar daí tiraria muito significativos e benéficos resultados Confio no Governo nacional, confio em Portugal inteiro, para uma vez ainda acorrer a uma das mais importantes parcelas com decisão, oportunidade e a prova de que a solidariedade nacional é uma enorme força a unir-nos a todos.

O Sr Tito Jeque: -V. Exa. dá-me licença?

O Orador:-Faça favor

O Sr. Tito Jeque: - Desejo apoiar as palavras de V. Exa. e ao mesmo tempo desejaria obter um esclarecimento

Desejo perguntar se V. Exa. está a par do que está a ser feito para recuperar a civilização que Portugal espalhou na índia Portuguesa e que fomos obrigados a perder.

O meu receio é precisamente saber se, em relação a Moçambique, poderemos contar sempre com o apoio daquelas nações que se dizem nossas amigas, ou se na hora grave nos abandonarão.

O Orador: - Agradeço muito a interrupção de V. Exa.

Sobre o caso de Goa, apenas poderei dizer aquilo que sinto1 como português, vivo numa comunhão permanente de espírito e de alma com os portugueses de Goa para que esta um dia possa ser liberta.

Quanto a Moçambique, não tenho dúvidas nenhumas de que Goa não se repetirá.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A solução dos problemas económicos não basta para tudo o que ali temos de fazer e resolver. Mas será condição essencial, sem a qual tudo o mais pode vir a revelar-se efémero ou menos sólido para Portugal.

Sei, Sr. Presidente, que proferi palavras duras e palavras amargas Mas não me arrependo de o ter feito Vejo começarem a vicejar entre nós, ainda que tenuemente, doutrinas que já não são portuguesas em relação a Moçambique. Vejo o desânimo a começar a aflorar em alguns bons moçambicanos. Vejo as flores do mal dos ambientes que se deterioram. E a experiência diz-nos que medidas decididas, tomadas a tempo, podem parar males que, mais tarde, custam mais a desfazer, quando ainda tenham remédio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E sinto, ao pesar as minhas palavras, o frémito de entusiasmo, volto a dizê-lo, com que na recente campanha eleitoral Moçambique, com brancos e pretos, com amarelos e mestiços, nos entregou o mandato imperativo de aqui, nesta Assembleia, defendermos acima de tudo a unidade nacional em que