Um grande rio separa duas terras. Um grande no liga duas terras À necessidade de movimento, característica das economias de troca, opõe-se a dificuldade do meio físico, contra o qual o homem, tem de lutar, cada vez mais frutuosamente, à medida que as técnicas melhoram A simples deslocação do homem foi-se, pouco a pouco, acrescentando de novas necessidades A circulação aparece-nos, finalmente, como meio complexo, e não como realidade que em si mesma tem o fim Circulação de pessoas, circulação de bens, até à circulação de ideias-fazem-se num espaço físico, recebendo dele condições e influência e agindo também sobre ele São verdades de todos conhecidas as afirmações de que regiões de circulação intensa são zonas de alta civilização material, e que uma boa rede de circulação é o suporte de qualquer desenvolvimento, mesmo sectorial.

A geografia da circulação tem por objecto principal estabelecer como, segundo as regiões, os homens ordenam os transportes, os modificam co nforme as suas necessidades técnicas ou grau de civilização, precisar a realidade convergente dos diferentes modos de locomoção, cuja complexidade, colaboração ou concorrência vão crescendo com o grau de evolução das sociedades humanas e da sua economia.

Sector de conhecimento que envolve a análise factorial dos condicionalismos físicos do espaço e o uso de todas as técnicas ou ciências da Natureza, à luz dos princípios cada vez mais claros e distintos que as ciências do homem caracterizam, nomeadamente a psicologia e a sociologia, e definidores do homem como realidade-pessoa e realidade-social, envolvendo-se aquela nesta.

A circulação terrestre, a. rodoviária, a ferroviária, a fluvial, a especial, constituída por oleodutos e gasodutos, a marítima, a de cabotagem, a aérea, etc, são resultantes de processos de interacção de todos os elementos que constituem a geoeconomia dos espaços. Regista a influência das condições humanas e também ela, circulação, vai actuar sob re os próprios grupos humanos Não é apenas disciplina de síntese A geografia da circulação, conhecendo os problemas gerais, identificando-se com tantos e tão diversificados problemas locais, deve dedicar-se ao estudo de qualquer realidade social humana, não só nos aspectos físicos do seu meio, como nos geoeconómicos, assente na ideia de que o bem-estar social e político exige implantação na base do bem-estar económico.

A realidade física e humana da bacia do estuário do Tejo é hoje bem diferente das que se foram definindo ao longo dos tempos A margem sul permaneceu séculos refugiada nas suas vilas acasteladas, dispensando-se em quintas para o interior da península, nos espaços de melhor terra que os pinhais consentiam, ou aparelhando madeira na praia recolhida do Seixal, cumprindo o destino de pôr velas no pinhal e mandá-las ao mar.

Via-se Lisboa das vilas e era uma cidade afastada Lisboa conheceu todos os esplendores. A Outra Banda era a costa em que se buscava socorro nas aflições do cerco, como no tempo do mestre, e em que a secular tradição da construção naval do Seixal caía, pouco a pouco, no silêncio e na inanição, a partir do estaleiro de Belém, donde se foi à índia.

É uma realidade tão autêntica, esta, que encontramos sinais seus até na literatura dos séculos XV a XIX.

É pensar em Fernão Lopes e o cerco, em Fernão Mendes Pinto e o seu retiro do Pragal, em Manuel de Sousa Coutinho e os governantes filipinos, até em Garrett e Bulhão Pato.

A realidade hoje é totalmente diversa Mas há quem ainda pense e sinta nos moldes dessa realidade velha.

As vilas saíram das ruas estreitas entre os muros e alargaram-se pelas planícies de areia As comunidades vicinais cresceram a ponto de se tocarem e fundirem Surgiram os grandes empreendimentos, alguns dos maiores, mesmo, que se situam em território metropolitano, como a Lisnave e a Siderurgia Nacional, que se acrescentam e amplificam, actualmente, pela denodada procura de novas fontes de produção de riqueza, na península ribeirinha, e se aprofundam para o interior do distrito, por Setúbal, até Sines.É uma vasta área de que já é lugar-comum afirmar o extraordinário conjunto de potencialidade, que encontrou o seu caminho e nele abre passos largos por realizações sucessivas e progressivamente audaciosas.

A criação, pelo Governo, de um gabinete para o estudo dos problemas do desenvolvimento urbanístico da região de Lisboa resultou, e muito bem, da concepção da unidade urbanística que as duas terras que as margens do Tejo ourelam devem constituir na variedade e natural diversidade dos seus interesses e da sua gente.

Outros sectores do desenvolvimento regional não foram, em minha opinião, entendidos na mesma perspectiva ou, ao menos, em semelhante grau de profundidade.

A geografia da circulação regional tem de inquirir todos os grupos humanos e todas as actividades, as havidas e a haver, para, num trabalho indutivo, estabelecer a solução de conjunto que se impõe, e nessa tarefa devem participar todos os ramos interessados na circulação da zona - o rodoviário, o ferroviário e o fluvial, em entendimento estreito com o marítimo, pois o espaço físico da navegação fluvial é repartido com o que liga toda a região ao Atlântico e ao mundo.

Que condições estão hoje postas, na ordem social e na económica, a definir os termos em que tal tarefa se há-de realizar?

Por um lado, um desenvolvimento industrial da margem sul que só nos concelhos com porta e janela para o rio atinge números insuspeitados. Segundo o recenseamento industrial respeitante à última semana de actividade de 1971, em Alcochete 176 unidades industriais, no Barreiro 293, 231 na Moita, 320 no Montijo, 232 no Seixal, 647 em Almada.

De todas as dimensões e variada natureza, é evidente.

Mas vale a pena referir que, dela, 53 têm entre SÓ a 99 pessoas ao serviço e 44 empregam mais de 100 pessoas, contando-se, entre elas, sem falar na Siderurgia do Seixal, a Timex e a Lisnave de Almada, as quais dão trabalho, por si sós, a quase 10000 operários.

E todos cremos que esteja por realizar o maior volume desse escalão industrial.

Por outro lado, uma acentuada vocação urbanística, garantindo infra-estruturas de preço médio e baixo, a benignidade do clima de transição de que goza