tuguês, coloque-se politicamente em que campo se colocar, mas desde que exista dentro de si próprio um sentimento que não é realmente aquele que se prega em certas homilias e em certas igrejas como, por exemplo, já vem sendo hábito na capela do Rato. Aliás, essa mesma «folha» o indica e denuncia através de incompletos relatos do que se passa em algumas paróquias onde existe sempre, como nas fábulas, um bom padre perseguido pela Direcção-Geral de Segurança e, onde, por acaso, em algumas das respectivas residências paroquiais -ou anexos- existiam malas cujo conteúdo era da ignorância do prelado, injustamente detido, horrivelmente martirizado, tiranicamente roubado à convivência fraterna dos seus irmãos paroquianos..
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Cazal-Ribeiro
Talvez fosse conveniente V Exª esclarecer se onde disse «prelado» não quereria dizer «pároco».
O Orador: - Exactamente, Sr. Presidente, eu emendo.
Por esta forma, talvez qualquer dia saibamos que foi por bem, ou por pura coincidência, que na Faculdade de Medicina -Hospital de Santa Mana - havia dependências e oficinas de impressão valiosíssimas e clandestinas... E, naturalmente, por coincidência também, ali se encontrava vastíssima propaganda subversiva! Assim certamente sucederá se entre os faltosos existir algum eclesiástico, ou ex-eclesiástico, ou simplesmente algum frequentador das tais igrejas ou capelas conhecidas pelo «progressismo» dos seus responsáveis...
Srs. Deputados. Estamos em guerra .O Mundo debate-se numa avassaladora onda de perigosa inconsciência que o vai empurrando para a sua total destruição. À custa de muitas vidas, fazenda e sacrifícios sem fim, Portugal tem dado um salutar exemplo de dignidade, de bravura, de coerência com um passado que não pode esquecer-se e nos aponta o futuro que mais pode interessar à Nação. Por ele se trabalha no presente, infatigavelmente.
O Sr. Joffre van Dunem: - V Exª dá-me licença?
O Orador: - Faça favor.
O Sr. Joffre van Dunem: - Como o Sr. Deputado Cazal-Ribeiro, eu também, sob muitos aspectos, e até por isso mesmo é que estou aqui, sou cristão e sou católico praticante. Fico espantado quando leio com frequência uns tantos papéis que uns Srs. Sacerdotes católicos estão apostados em espalhar pelo País, pelo País que é deles, mas que também é nosso e muito nosso, porque é de todos nós.
Vozes:-Muito bem, muito bem!
O Sr. Joffre van Dunem: - E pergunto' Que espécie de igreja servem esses Srs. Sacerdotes?
Será que servem apenas capelas ou pretendem servir de facto a Igreja?
Capelas, cada qual terá as que quiser Igreja há apenas uma, e essa é de todos nós.
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Joffre van Dunem: - . e ninguém tem o direito, na Igreja que é de todos, de estar apostado, como estão, deliberadamente, em separar-nos.
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Joffre van Dunem: - Não posso entender isso.
Exactamente como V Exª, porque sou cristão, porque sou católico e até praticante, eu devo dizer o seguinte, para todos os Srs. Deputados, para toda a Igreja e para todo o Mundo os indivíduos apostados em destruir Portugal estão apostados, pura e simplesmente, em destruir a última possibilidade que há neste Mundo de fazer a Igreja que Cristo instituiu.
O Orador:-Muito bem!
O Sr. Joffre van Dunem:-No dia em que não houver, Portugueses, eu não creio, não quero crer, não posso crer, que depois disso ainda seja possível fazer a Igreja de Cristo.
Nós somos, tenho para mim, a última possibilidade neste Mundo de se fazer a Igreja tal qual Cristo a instituiu na sua pureza, talvez com progressos, mas sem esses «progressismos».
O Orador: - Muito bem!
O Sr. Joffre van Dunem: -... que por aí se espalham, como se se tratasse de uma igreja nova, quando a Igreja é eterna.
Vozes:-Muito bem, muito bem!
O Sr. Joffre van Dunem: - Gostava imenso de acabar estas palavras cumprimentando o Sr. Presidente, embora o facto de o fazer no fim das minhas considerações seja pouco ortodoxo, pois é costume fazê-lo no início.
V. Exª , Sr. Presidente, há-de ter a bondade de compreender que por vezes é preciso acabar como deveríamos ter começado.
Portanto, queira V. Exª receber os meus respeitos. Aliás, devo dizer, muito honestamente, ser V. Exª o Presidente que esta Câmara merece.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Joffre van Dunem: - Nestes curtos dois meses já encontrei aqui muito bom português Já entrei aqui, aos olhos de Deus, homem, muito homem, mas devo dizer que raras vezes na vinha vida me tenho sentido tão homem e tão português como nesta Câmara, graças a todos VV Exª, e em especial ao Sr. Presidente.
O interruptor não reviu
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Presidente: -Sr. Deputado V. Ex.ª, como estava a interromper, fazia-o apenas com consentimento do orador. Agradeço, no entanto, as amabilidades que me quis dirigir