O Orado:- Sr. Deputado. Nem V. Ex.ª calcula quanto lhe agradeço a sua interrupção, pois veio dar mais brilho as minhas humildes considerações.

Agradeço-lhe penhoradamente a atenção que lhe mereci.

Padres como o Ver º Hastings, o que inventou um massacre numa aldeia que não existe, porque tal lhe foi relatado por três camaradas espanhóis - do mesmo pendor político -, têm entre nós alguns, receio bem, apaniguados em excesso, e senão pergunto por que não foi denunciada a chacina de Nhacambo em oportuna homilia?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seria, penso eu, excelente tema para demonstrar a todos os portugueses, a todos os verdadeiros portugueses, a razão, indesmentível razão, por que nos batemos em África!

Mas não, não convinha. Esses padres progressistas, que se servem de lugares sagrados para obterem os efeitos que procuram e servem apenas a sua causa, só são contra a violência quando esta, mesmo falsamente, é atribuída às forças armadas ou aos servidores do Regime. Talvez por isso, e como se pode ler no comunicado em análise, que reproduzo, «por um lado, a doutrina da Igreja condena o uso de meios violentos e, por outro lado, afirma a necessidade de os cristãos se dedicarem a uma acção persistente para a realização dos direitos humanos ainda não conhecidos ou respeitados» . O que quer dizer esta subtil conclusão da «folha» da capela do Rato em apreciação?

Não será uma justificação ou até um convite à violência, a praticar por eles?

O Sr. Cancella de Abreu: -É

O Orador:- É. Mas quando calha, certo sector da Igreja também sabe ser duro e implacável nas suas determinações e para bem da sua disciplina Que o digam os paroquianos de S. Martinho de Mozelos, por exemplo.

Não, eu nunca pretendi «tecer considerações sobre os cristãos», nem dar lições de patriotismo a ninguém. Menos ainda da forma como deve proceder um cristão. Mas também não aceito nem recebo lições, nem de uma coisa nem de outra, quando os mestres são do estilo do inspirador da «folha» emanada da capela do Rato. Sou um pecador que apenas terá a virtude de reconhecer os seus próprios erros ou culpas.

Não posso deixar de referir neste momento uma frase de um príncipe da Igreja, o bispo do Porto, proferida há dias e glosada pelo «democrata» Dr. Oscar Lopes na última sessão comemorativa do «31 de Janeiro» realizada no Porto. «É preciso denunciar a ideia insensata e propriamente idiota de que Portugal é outra coisa que não os portugueses. Evidentemente temos um passado a honrar, como temos um futuro colectivo a assegurar, mas um e outro passam pelo direito e pela responsabilidade dos portugueses híc et nunc existentes [...]»

«Estou certo», disse o democrata Oscar Lopes, comentando esta frase, «de que a imensa maioria dos portugueses vê actualmente com profunda repugnância o facto de, em todo o mundo, os seus governantes apenas encontrarem incondicional e descarado apoio só por parte da escumalha racista que desde 1890 veio sobrepor-se aos sonhos megalómanos do mapa cor-de-rosa. E, se um dia, de acordo, aliás, com uma convenção internacional vigente, os Ian Smith e os Voerster, responsáveis pelos genocídios físicos e culturais da África Austral, se sentarem no banco dos réus, como os chefes nazistas se sentaram em Nuremberga, que ninguém tenha dúvidas acerca do firme repúdio de qualquer cumplicidade com esses criminosos por parte dos milhares de democratas portugueses participantes em sessões que, como esta, só a muito custo e com muito sacrifício e riscos, conseguimos levar a cabo.» (No Diário de Lisboa, de l de Fevereiro corrente)

O Sr. Morais Barbosa: - Os democratas lá estarão para os fuzilar e a nós outros portugueses também.

O Orador:- Espero que não Chama-se a isto falta de liberdade de expressão ou «pôr as barbas de molho» Como se ajustam as teorias de certos prelados (Sr. Presidente, aqui tenho mesmo que dizer prelados ) (risos) e de certos democratas quando se fala no ultramar! É dignificante e significativo.

Srs. Deputados Enquanto vamos imaginando um novo julgamento de Nuremberga e antevemos, suspensos e vagamente inquietos, o dedo acusador do «democrata» Dr. Oscar Lopes, o Lopes do 31 de Janeiro de 1974, não podemos deixar de pensar nos idealistas que fizeram a revolução de 31 de Janeiro de 1891 como reacção à perda de prestígio resultante para Portugal, da sujeição ao ultimato de 1890, enviado pela nossa lealíssima e secular aliada Inglaterra, causa próxima, ao que se sabe, do movimento então levado a cabo pelos republicanos do Porto e tendente a derrubar a Monarquia e com ela quem (segundo eles, claro está), consideravam incapaz de defender os legítimos interesses nacionais em África. Vá lá entender-se esta gente!

Muito obrigado, Sr. Presidente

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Câmara Pereira:- Sr. Presidente, meus senhores Depois da oportuníssima intervenção do Deputado açoriano Álvaro Monjardino, na passada quinta-feira, fiquei a reflectir silenciosamente quanto agora podemos ver solucionado na problemática do arquipélago dos Açores.

Quando toda a minha atenção devia estar concentrada, como a dos meus colegas de profissão, na proposta de lei nº 6/XI, sobre o regime de condicionamento do plantio da vinha, matéria essencial à economia agrícola do País, estou a ocupar-me de assuntos da já muito conhecida insularidade.

É que eles tocam-nos. Tocam-me na individualidade e na representação.

Todos os acontecimentos têm que ser aproveitados por nós quando sentimos que a corrida se está a perder ou que a corrida para o progresso de nós, insulares, se processava com penosa aceleração.

Estou consciente e atento à importância do acontecimento em que parte, digo, em que uma importante parcela da Nação Portuguesa -os Açores-,