por força de circunstâncias já previstas, mas acidentalmente ocasionais, se encontra num momento histórico da sua vida.

Os Açores estão na encruzilhada do mundo ocidental e é-lhes atribuída a mais distinta e destacada estratégia atlântica, quer na defesa do continente americano, como na honrosa perseverança da velha civilização ocidental e cristã-esta é que é a realidade da nossa existência no último quartel do século XX.

Pois é neste momento que, por razões bastante óbvias, mais se destacam os problemas graves e prioritários açorianos, quais sejam a asfixia pelos varia-díssimos espartilhos da insularidade.

É neste momento preciso que mais sentimos as deficiências das nossas comunicações, das nossas ligações aéreas com o Mundo, problema prioritário que acentua o nosso tão penoso isolamento.

Infra-estruturas portuárias, aéreas e marítimas em todas as ilhas do arquipélago, facilidade de movimento de bens, de deslocação de pessoas, melhoria substancial de radiodifusão, instalação urgente da Radiotelevisão Portuguesa ou outra, transmissões rápidas e baratas, etc, é algo de quanto carecemos, na devida proporção, em matéria de comunicações em geral, para satisfação das nossas necessidades prioritárias.

É neste momento que sentimos quanto podem os Açores beneficiar de financiamento fácil para a perfeita realização do IV Plano de Fomento e quanto podem contribuir, pela sua posição de privilégio, para que outras zonas, «as ilhas do interior», possam ter melhor oportunidade, conforme, em dada ocasião, nesta magna sala, foi posta em causa.

Sr. Presidente, Srs. Deputados. Os nossos velhos amigos Norte- Americanos desejam pagar, podem pagar, devem compensar, até é honroso para a grande nação americana, o justo preço das regalias que estão usufruindo e continuarão a usufruir na estratégica base açoriana.

É conveniente, é sensato, que me circunscreva ao assunto dos transportes ou das comunicações açorianas e fundamental mente agora só a alguns dos seus aspectos mais graves e carecidos.

Neste momento, preciso, sou a voz dos anseios do povo da minha terra e a expressão bem viva daquele português insular que, honrando o seu berço onde quer que esteja e da sua origem pátria seja orgulhoso, tem sempre o mar salgado nas veias, o horizonte nostálgico e distante no olhar e na tez e no rosto enrugado e triste o iodo húmido e saudável.

Somos insulares rodeados de água salgada e funda e vivemos distantes do continente português imensos 1500 km.

Somos ínsulas de sobrevivência humana e sentimos quanto para nós devia ser fácil a deslocação aérea e quanto para nós são difíceis de usar as carreiras aéreas e marítimas, pelas suas deficiências.

Julgamos que, exploradas em regime de exclusivo, como estão, põem-nos em inteira dependência da rendibilidade da sua função explorativa.

Os transportes para os ilhéus terão de ser, em primeiro lugar, instrumento de função política, integrando-os no todo nacional, embora a sua exploração, compreende-se, deva ser, tanto quanto possível, uma função económica; devem ser o veículo de integração de uma região isolada na grande massa nacional.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Muito bem!

O Orador: - É mesmo na qualidade de mandatário de uma população de um círculo insular que venho apreciar diversos factores respeitantes às comunicações aéreas que na vida das nossas ilhas e pela visão das suas gentes, especialmente das de S. Miguel, avultam e agigantam a sua já difícil problemática.

Quando são outorgadas funções de serviço público vitais, as empresas, ligadas ou não ao Estado, que satisfaçam, para além das suas forças, o objectivo que lhes for confiado e couber ao âmbito da minha representação, não hesitarei em reconhecer o mérito do procedimento, fazer no momento próprio o devido destaque e a oportuna justiça.

Mas quando, por outro lado, a empresa em causa não satisfizer os objectivos desejados, com expressivo prejuízo para a comunidade que sirva, então criticarei o seu serviço ou mesmo condenarei o seu inconveniente procedimento.

Felizmente, nem tudo é mau na vida açoriana.

Há grande fé na sua gente. Há esperança nos seus homens.

T emos um potencial de beleza inesgotável.

Temos uma população altamente valiosa que, uma vez desenvolvida, mostrará do que é capaz.

É bem feliz a imagem do Açoriano fora da sua terra.

Esperamos por melhores dias, porque acreditamos na justiça.

Sabemos quanto o Governo de Marcelo Caetano nos estima e está atento aos nossos problemas e sensibilizado à nossa problemática.

Merecemos excepcional atenção, porque a vida nos é madrasta e dura, os nossos condicionamentos têm especificidade ímpar.

Já muitos ilustres pares estarão cansados de nos ouvir neste tom contundente. Em boa verdade, talvez não, porque, sendo uma expressão humana da luta pela vida de cada povo, todos o compreenderão.

Muito obrigado por isso.

Como ia dizendo, o povo açoriano está esperançado no Governo de Marcelo Caetano, na sua arte, no seu critério, na sua justiça.

É profundamente grato para mim testemunhar quanto o coração do povo daquelas ilhas é reconhecido e agradecido aos ilustres membros do Governo pelas visitas que nos últimos dois anos lá fizeram.

Gritam ainda os benefícios das suas passagens por essas terras.

Como pudemos testemunhar pelas últimas eleições de Outubro e nas conversas do dia-a-dia, o povo daquelas ilhas, e são quase 300 000 almas bem portuguesas, tem admiração excepcional pelo seu actual Presidente do Conselho.

O povo açoriano, com a sua fé ardente, pede a Deus que o conserve em saúde e por longa vida e lhe dê coragem bastante enquanto for o timoneiro querido que conduz o pesado barco onde, com todos nós, navega em águas agitadas, atravessando um oceano de incompreensão e de injustiças.