Sr. Presidente, Srs. Deputados: Apesar da expectativa de melhores dias para o País, a população insular sente as suas deficiências, os entraves, os espartilhos, e sente que tem de ser rápida e corajosamente destruídos alguns, alargados outros, para melhoria substancial da sua vida. Não pode esperar mais. Não dá tempo de esperar mais.

Acusamos a gravidade da nossa sujeição a interesses de maiorias instaladas, de empresas monopolistas e de situações de exclusivo.

Bem bastam os desequilíbrios sociológicos que incidem sobretudo na sua população rural, expressos na desequilibrada posse da terra de cultivo.

O povo daquelas terras está ciente, sente-o no sangue e na mente, que o regime de serviço em exclusivo, salvo, mas nem sempre, quando pertencente ao Estado, por melhor que seja a intenção de bem servir da empresa concessionária, produz inevitavelmente inconvenientes sociais de monta.

Sabe mesmo que há tipos de empresa privada, em situação de monopólio, que, por melhor que ela seja, há-de fazer depender toda a gente, a vida inteira de um povo que sirva, aos seus próprios interesses, normalmente muito legítimos estes, mas conduzidos por uma gestão cada vez mais materializada na finalidade lucrativa.

É a competição, é a concorrência, que promove e abranda a agressividade das empresas em favor do mundo da procura.

Ora, o primeiro grande custo da insularidade é a pequenez, mesmo aquela que nos é imposta por uma sujeição aos interesses e aos esquemas das empresas transportadoras.

Isolamento. Desumano isolamento. E então .

O resultado de muitos anos é observarmo-nos sempre de mala de viagem na mão em gesto choroso de despedida.

Tem sido afinal desde a última década do século passado a grande opção da humilde gente açoriana - estou a lembrar-me do velho quadro do emigrante do pintor micaelense Domingos Rebelo, também emigrado nesta devasadora Lisboa.

Há dias, quando a Pan American Airways, a mais antiga das companhias de navegação aérea que demandava os Açores, desde há quarenta anos, nos anunciou que ia suspender as suas quatro carreiras semanais por Santa Maria, em cada sentido, recrudesceu no povo da minha terra a terrível sensação de insularismo, a do seu isolamento.

A Pan American alegou restrições de fornecimento de combustíveis, informando que só haveria possibilidade de regresso daqui a um ano, etc.

Ao mesmo tempo anunciava que iria inaugurar novas carreiras aéreas para algumas localidades da América do Sul.

Jogos caprichosos de grandes senhores Conveniências ou trusts?

Os homens dos Açores reagiram com dezenas de telegramas de justificado protesto.

É que todos sentem que os E U A têm nas suas cidades de luz muitos pedacinhos de cada família açoriana.

São muitas as centenas de milhares de açorianos e descendentes e seus afectos que lá mourejam, honradamente contribuindo para a boa economia norte- americana.

Não são fáceis as comunicações aéreas para os Açorianos, interilhas e destas para o exterior, e a supressão das carreiras desta importante companhia estado- uinidense que ligava comunidades irmãs, os açorianos dos Açores aos açorianos das Américas, foi sentida com muita mágoa e desânimo.

Ficámos, no tráfego internacional, mais pobres e quase ao sabor das conveniências já referidas, como nas ligações com a metrópole tratados com expressivo alheamento dos nossos interesses.

Nunca foram fáceis para o Açoriano as suas deslocações.

A transferência dos seus bens de produção não tem estado na devida conta, aquela é cara e, portanto, economicamente proibitiva.

Sabemos que a transportadora nacional sabe fazer bom serviço e o seu bom nome, o que muito nos honra, corre mundo.

Sabemos que a TAP faz bom e seguro serviço nas linhas de Angola e Moçambique, nas da Gume e Cabo Verde, nas dos E U A, nas de Londres e Francoforte, Paris ou Roma, etc.

Por que não poderá ser feito pela mesmíssima companhia bom serviço para os Açores? Será que não dá lucro?

E se for? Pois parece não haver outras razões senão interesses.

O afunilamento mais estrangulador da nossa vida e da actividade económica insular é todo o sistema de transportes de pessoas e bens, agora mais do que nunca, que se sente cada vez mais o império da via aérea na circulação, no seu espaço e deste para o exterior.

No século XX, época em que se realça cada vez mais que o «tempo é dinheiro», esse transporte, essa via normal e «ordinária» de comunicação, é a via aérea, ficando a via marítima tradicional relegada apenas a transporte de mercadorias a granel.

Para o Açoriano viajar já não é luxo, mas uma necessidade vital. Para a sociedade e economia açoriana a via aérea vai-se tornando a pouco e pouco, mas com firmeza, o seu processo «ordinário» de deslocação. A via oficial tem que ser a via aérea.

Todo o obstáculo à sua deslocação fácil é para o Açoriano um estrangulamento ao seu progresso, uma afronta à sua liberdade.

Na ilha de S. Miguel, a maior e de capital importância na vida económica açoriana, conta-se como substancialmente estrangulador a deficiente estrutura aeroportuária, ou o seu mau uso, admita-se ainda, mas, para já, sobretudo, a acidentalidade e precariedade das carreiras da transportadora nacional.

O problema dos transportes daquela ilha é problema de 160 mil açorianos que lá vivem, do embaraço às suas inesgotáveis potencialidades turísticas, termais, etc.

As actuais realidades económicas locais contam no conjunto açoriano com mais de 60 % da sua importância global sócio-económica.

Imaginarão VV. Exmas que só a ilha de S. Miguel produz perto de 100 milhões de litros de leite e que os seus lacticínios representam para o País mais de 20 % do seu total.

O atraso no seu desenvolvimento é penalização demasiada para todos os Açores e para o País inteiro.

Todos perdemos com isso