carrinhos de rodízios para o transporte das vasilhas) ou a electrificação dos fogos, a atestar a sanção, o reconhecimento da sua existência. Ao longo das vias, predominantemente em terrenos públicos, jamais para o interior. Uma fieira apenas.

Trepando a cabeços, pude divisar os contornos de quase todo o concelho de Oeiras com outros, nomeadamente Sintra, pelos lados de Queluz O limite das freguesias bem marcado, as barracas a pulularem em suas franjas. Mesmo sem acessos ou caminhos, transportes, serventias capazes.

Algumas voltas dei pelo interior do concelho de Oeiras, pelas zonas urbanas da Amadora e outros aglomerados, a apreciar o urbanismo Florestas de cimento armado por todo o lado, quase sem uma nota de verdura ou flores (Alfragide é excepção), a lembrar a Natureza. Inumano.

«Que triste é verificar como, nos numerosos bairros que surgiram e surgem em volta de Lisboa, se ignorou totalmente o necessário equilíbrio entre a paisagem natural e a urbana, para, em obediência apenas ao lucro fácil, obtido pela especulação fundiária, se erguerem, sem gosto nem critério, edifícios chinfrins (mas rendosos), não havendo a integrá-los os necessários espaços verdes, onde a vegetação constitua as largas manchas repousantes que irão retemperar os nervos e a saúde a todos os que aí moram e aí regressam depois de uma densa jornada de trabalho.

Temos que reconhecer - afirmou-se em recentes jornadas de floricultura - a necessidade de arrepiar caminho, para não chegarmos ao ponto de tornarmos inabitáveis certas áreas urbanas, à força de nelas acumularmos habitações sem as integrarmos em espaços verdes com flores, árvores e plantas ornamentais.

O Sr Ávila de Azevedo: - Muito bem!

O Orador: - Importa criar uma mentalidade que hostilize, sempre que se manifeste, todo o acto especulativo deste género e que imponha, em obediência ao bem-estar das populações, o respeito por normas de utilização do espaço disponível, que é património de todos nós, que não conduzam a uma desumanização do ambiente » (José Duarte Amaral - «O papel da Administração no fomento da floricultura»).

Em contrapartida, que se nos ofereceu à vista? Maciços vegetais, quase nenhuns, zonas verdes, as dos poucos campos de cultura que ainda subsistem, logradouros mais transformados em oficinas de reparação de veículos ou garagens ao ar livre do que parques e jardins, onde crianças e idosos, jovens adolescentes ou adultos pudessem divertir-se uns, recrear-se outros, descansar os demais nos tempos livres das suas ocupações.

«É da maior premência [ . ] elaborarem-se e generalizarem-se planos de ordenamento racional da paisagem, onde, sem se hostilizar esta, se inserissem as estruturas e as infra-estruturas necessárias à vida urbana.

Nesse ordenamento seria - deveria ser - dada importância à vegetação. A agressividade dos edifícios e dos pavimentos seria quebrada pelo arvoredo e por grandes relvados, nos quais as flores constituiriam grandes manchas de cor e de alegria.

Por-se-ia, deste modo, cobro à criação desses grandes aglomerados, onde prédios altos, de arquitectura pobre e de mau gosto, se dispõem sem graça ao longo de ruas estreitas e de pracetas acanhadas, sem que entre eles se estabeleçam os grandes espaços que dêem desafogo e onde cresça a vegetação que permita a renovação do oxigénio da atmosfera e purifique os pulmões dos que nela vivem e que a cidade, constante e persistentemente, intoxica».

Iremos «permitir que tudo o que nela existia de válido como área de habitação e zona de relações e de convívios sociais desapareça em obediência a critérios de pseudo modernismo, que pretendem reduzir o viver a uma permanente corrida, na qual não há lugar para um passeio a pé ou para uma reflexão calma, num banco de jardim à sombra amiga de uma árvore, preocupados como estamos todos em nos estafarmos correndo de uma actividade para outra, numa ânsia desenfreada de atingirmos... nem nós sabemos bem o quê...»?

E que dizer das ruas da Buraca e da Venda Nova, da Damaia e da Brandoa, da Falagueira e de Alfornelos, da Amadora e de tantos outros aglomerados de Oeiras interior, algo menosprezados por quem habita voltado para a Costa do Sol e as grandes extensões do oceano?

Para além dos buracos e dos troços por pavimentar, asfaltar ou empedrar, do deficiente saneamento e limpeza e recolha do lixo a desoras - já passava do fim da manhã e ainda os montes dos detritos domésticos se estadeavam pela berma dos passeios ou já desfeitos os juncavam -, chocou-me o número de automóveis abandonados, carcaças, algumas apenas, que me garantiram ter presença marcada de há muito nessas ruas Incúria. Desleixo. Abandono.

«Já garagens e subordinar a vida dos que nela habitam às exigências dessa moderna via de escravidão [...]

Porque é que o lugar dos automóveis, quando fora de utilização, há-de ser a via pública, obrigando a sacrificar-lhes os parques, as placas arrelvadas, os grupos de árvores, os canteiros de flores», em vez de se acomodarem nos baixos dos prédios, pensados garagens?

E que dizer dos equipamentos sociais e serviços colectivos (educação e cultura, saúde, abastecimento de água, saneamento, transportes, mercados, comunicações)? Admirar-se-á que eles em muitas dessas ur-