valor comercial, causa de dispendiosas intervenções de garantia de preços, mas que progressivamente poderá ser atenuada, quer pela reconversão cultural, quer pelo pagamento desses vinhos apenas pelo seu rendimento em aguardente ou álcool, único destino que a sua baixa qualidade admite.

Factor fundamental de melhoramento da qualidade do vinho será também a rigorosíssima fiscalização do cumprimento dos planos constantes das licenças ou alvarás a conceder - especialmente no que respeita à variedade de castas a empregar.

A rede de adegas cooperativas tem dado um apoio decisivo à melhoria da qualidade do vinho.

Importa prosseguir nesta política, completando-a, conforme está previsto no IV Plano de Fomento, com programas de construção e ampliação que, só na área abrangida pela Junta Nacional do Vinho, se prevê atinja «imediatamente» 54 unidades vinificadoras e 3 centros industriais de aproveitamento de subprodutos.

Necessário será também que as cooperativas de vinicultores sejam dotadas com apoio financeiro que lhes permita suportar os encargos derivados do envelhecimento dos vinhos, os quais se traduzem por um considerável empate de capitais.

Crédito adequado terá de ser igualmente concedido à implantação de vinhas com destino à produção de vinho, de forma que dela possam beneficiar os empresários com menores possibilidades financeiras.

Encarada a proposta de lei, quanto ao Alentejo, numa perspectiva global de percentagem de área ocupada pela viticultura ou na de produção de vinho, poderia concluir-se, apressadamente, que para a economia regional é de menor importância o que nesta Assembleia se decida sobre o regime de condicionamento do plantio da vinha.

O Alentejo participa com um modestíssimo centésimo na produção vinícola nacional. E bem se compreende que, na análise da repartição regional da vinha inserta no valioso parecer n.º 35/X, se lhe faça apenas fugaz referência.

No entanto, a verdade é que o assunto interessa, interessa mesmo muito, ao Alentejo!...

A vinha existe, na província transtagana, em quase todos os concelhos-situação que reflecte, aliás, o que se passa no continente português.

Atinge assinalável grau de concentração em pequenas manchas em redor de Borba, Reguengos de Monsaraz, Redondo, Vidigueira, Serpa, Portalegre, Granja (Mourão) - quase todas já servidas por adegas cooperativas. E desempenha nestas zonas um valioso papel económico e social, pela fixação de populações trabalhadoras, pela justificação de pequenas e médias propriedades rústicas, pela movimentação de trabalho e de comércio que arrasta consigo, pelos rendimentos que aduz aos vários sectores da actividade.

Também aqui se confirma a flagrante «correspondência entre a densidade populacional e a intensidade dos vinhedos», a que se refere o parecer. A afirmação de que «até no Alentejo, Cuba, Vidigueira, Borba, Vila Viçosa, zonas mais populosas em províncias rarefeitas, são igualmente as qu e dispõem de vinhedos», sem esgotar a verdade, dá uma indicação muito aproximada da realidade actualmente existente.

Na restante vastidão da planície alentejana, a vinha ocupou, durante séculos, lugar de relevo, quase sempre, por efeito da apontada correspondência, acomodada às fazendas e quintas que habitualmente circundam os povoados da província.

Os meus comprovincianos desculpar-me-ão que, nesta compita em que todas as regiões aqui se encontram para realçarem a antiguidade, a qualidade, a potencialidade dos seus vinhos, não me atreva a valorizar a antiguidade dos vinhos do Alentejo com a nebulosa presunção de que, já há 17 000 anos, os povos transtaganos que frequentaram, decoraram e se serviram da gruta do Escoural provavelmente aí invocariam e propiciariam os espíritos no meio de cerimónias em que certamente haveria libações rituais, se não de vinho, pelo menos de bebida com ele aparentada.

Modestamente me contento com citar a regulamentação pormenorizada da venda de vinho na carta foral afonsina concedida a Évora logo após a reconquista da cidade por Geraldo, o Sem Pavor, em 1166 - prova da existência de abundantes vinhedos locais sob a ocupação muçulmana.

Numerosíssimas são as referências às vinhas de Vale de Moura, Peramanca e Torregela, no século XIV; às de Valbom, Mamzola, Louredo, Casbarra, Enxarrama e Espinheiro, no século XV.

São, de resto, muito vulgares em toda a província as denominações toponímicas a lembrar vinhedos, muitos dos quais desaparecidos: a Vinha Velha, a Vinha do Arco, as Entrevinhas, tantas mais.

No final do século passado, pouco antes da filoxera, muito antes da campanha do trigo, foi no meu concelho, em Viana do Alentejo, que o rei D. Carlos e a rainha D. Amélia festivamente inauguraram, em 25 de Junho de 1892 a primeira adega social.

Da alta qualidade dos vinhos do Alentejo sei que não duvidarão nem os que deles tenham provado, nem os que deles tenham ouvido a fama.

Duarte Nunes de Leão escrevia, no século XVI, que sem Alentejo há os vinhos devora, de que são muy estimados os de Peramanca em sabôr e substância, por os quaes dizia um grande médico, que por serem muy amigos do estômago e da natureza tanta força punham em hum corpo como pão, vinho e carne de outras partes [...]».

As cooperativas alentejanas de vinicultores têm conquistado as mais altas classificações nos concursos da Junta Nacional do Vinho.

Borba iniciou a sua actividade em 1958 e alcançou logo o 1.º prémio, classificação que repetiu em 1959, 1964 e 1970, tendo obtido a taça da Federação dos Vinicultores em 1964;

Redondo venceu em 1965 e 1969, arrecadando naquele ano a taça da Federação;

Reguengos de Monsaraz começou a laborar em 1972 e já recebeu informação de logo se ter alcandorado ao lugar cimeiro.

Também produtores isolados de Estremoz, Évora, Grândola, Portalegre e Reguengos de Monsaraz têm merecido lugares de honra nos concursos nacionais.

Mesmo em certames internacionais não desmereceram do prestígio do País como produtor de óptimos vinhos. Refira-se apenas o saudoso lavrador José de Sousa Rosado Fernandes, que, com o seu «tinto velho» de Reguengos, ganhou uma medalha de prata no concurso internacional de Bucareste, em 1968, e uma medalha de ouro no de Brastilava, em 1971.