Nos Estados Unidos, o escândalo Watergate continua, sem que se torne possível suster a erosão maléfica, como se se tratasse de tumor canceroso insusceptível de ceder terreno, mesmo através da mais avançada e radical terapêutica cirúrgica

O Japão ajoelha ante o boicote árabe, esgotadas as suas fontes de fornecimento de energia, em resultado de haver pretendido imiscuir-se no imbróglio político do Próximo Oriente. A tentativa de liderança asiática tem-se revelado verdadeiramente decepcionante para os súbditos de Sua Majestade Nipónica.

Em face da crise, tão genérica e profundamente assinalada, não seria possível evitar que as nuvens prenunciadoras de tempestade continuassem ao largo, afugentadas pelo habitual anticiclone centrado sobre os Açores.

Eis-nos, portanto, a sofrer e a suportar os efeitos e as consequências do temporal que desabou sobre o Ocidente.

É possível que nos possam ser assacadas algumas culpas específicas. É possível que o combate à inflação Finanças da estirpe de Valéry Giscard d'Estaing, não tem conseguido superar as dificuldades económicas e o agravamento do ciclo inflacionista Ao passar recentemente por Paris foi-me dado verificar que os Franceses discutem e protestam, mas não põem em causa a competência do Ministro, porque ninguém ignora que a força dos acontecimentos é superior ao génio dos homens.

Chegados a esta conclusão - que nenhum subjectivismo representa -, o que importa será reiterar, com redobrada fé e energia, a confiança no estadista que, em hora feliz, o Chefe do Estado designou e o País aclamou como o mais qualificado e indiscutível intérprete do interesse nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Deixarmo-nos vencer pelo desânimo, entregarmo-nos nos braços da descrença, consumirmo-nos nos alçapões da crítica fácil - como tudo parece fácil quando não se comanda nem decide! -, poderá ser cómodo, mas não será responsável. Poderá revelar oportunismo, mas não será patriótico.

Poderá ser demagógico, mas não será construtivo. E, acima de tudo, não será digno da nossa condição de Portugueses, nem da hora difícil que o País atravessa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Muito antes da presente crise internacional, o Chefe do Governo teve ensejo de alertar o País, recordando que a têmpera e a coesão das comunidades forjam-se nos momentos difíceis, sobretudo na hora das provações. E ainda recentemente, ao receber os delegados do I. N T. P., voltou a referir-se às dificuldades que nos esperam.

Se é, pois, verdade que atravessamos um desses momentos, se é certo que se apresentam difíceis os tempos que se aproximam, ajudemo-nos fraternal e mutuamente a vencer os obstáculos que nos surjam pelo caminho, confiando no estadista exemplar que generosa e firmemente prossegue a sua ingrata missão Na certeza de que, vencida a tempestade - na união, na coesão, na constância dos grandes princípios a que aderimos -, saberemos colher os frutos que a bonança do futuro não deixará de nos proporcionar.

Sr. Presidente: Entrarei agora no segundo capítulo das considerações que me impus fazer. Se V. Exa. e a Câmara continuarem a revelar a indispensável paciência para me ouvir.

Ao falar sobre o ultramar - donde, aliás, recentemente regressei cada vez mais seduzido e entusiasmado com as potencialidades que o desenvolvimento dos territórios nos oferecem -, não me anima o propósito de alimentar qualquer polémica ou de pôr em causa afirmações nesta mesma Casa recentemente proferidas por colegas que muito aprecio e estimo.

Desejo apenas fazer o meu depoimento. A Câmara e a opinião pública pronunciar-se-ão livremente sobre o mérito ou demérito dos conceitos que vou expor.

A presença de Portugal em África não se discute Poderemos ser vencidos pela «razão» da força. Jamais aceitaremos transigir sobre a força da nossa razão.

Mas estar hoje em África, e sobretudo ficarmos em Afinca, não pode identificar-se com a nostalgia do passado nem tão-pouco com a aparente comodidade do imobilismo.

A evolução internacional das últimas décadas e o desenvolvimento económico dos territórios constituem uma realidade que o interesse do País não pode nem deve ignorar, sob pena de ser ficticiamente defendido. O que atrás dissemos da metrópole aplica-se ao ultramar.

Daqui resulta que temos de estar e ficar, de forma que, pelo menos no nosso foro íntimo, nunca seja possível deixarmo-nos assaltar pela dúvida quanto à justiça da nossa posição.

Para tanto não parece que os outros, sejam eles quais forem, se encontrem em melhores condições do que nós próprios para prosseguir a missão hercúlea que nos cumpre levar a cabo.

O caminho que temos a percorrer é o caminho português. Não passam pelas linhas do mais genuíno interesse nacional quaisquer exemplos oriundos de outras paragens e ensaiados - quase todos tragicamente - ao sabor de circunstâncias inteiramente diversas.