o Governador-Geral, Pimentel dos Santos, que mantém a lucidez e a serenidade indispensáveis nos momentos difíceis que se vivem em Moçambique.

O Sr. Morais Barbosa: -V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Todas as licenças.

O Sr Morais Barbosa: - Tenho estado a ouvir a intervenção de V. Ex.ª com o maior interesse, que se explica até pela razão de me encontrar, nesta Câmara, eleito por um circulo ultramarino -pelo círculo de Moçambique- que V Ex.ª tem estado a referir.

Não queria apenas, nestas palavras, testemunhar-lhe o muito apreço por quanto tem dito, mas acrescentar alguma coisa mais é que, embora representante da Nação, nesta Casa, eleito por um círculo ultramarino, dificilmente seria possível encontrar, nesta Assembleia, uma expressão tão exacta e tão autêntica do que é a situação no ultramar, e particularmente no círculo que me elegeu.

E isto renova-me a certeza de que não somos nós apenas, os eleitos pelos círculos ultramarinos, que temos ou detemos a certeza, a palavra exacta, o exclusivo do entendimento mais perfeito do que nesses círculos se passa.

Verifico, pela exposição de V Ex.ª, que alguém, vinculado ao ultramar como todo o bom português se lhe encontra vinculado, esclarecido por uma inteligência superior e por uma capacidade de apreciação notável, pôde efectivamente aperceber-se, nos seus contactos, que não são tão prolongados como os nossos, mas que são frequentes e íntimos com o Estado de Moçambique, da verdadeira situação deste Estado, e trazer a esta Câmara, e portanto ao País, a expressão de anseios que são anseios de todos nós, a expressão de aspirações que são as nossas aspirações, e o testemunho do apreço que é inegavelmente, inquestionavelmente devido ao Sr Presidente do Conselho, que V. Ex.ª citou na primeira parte da sua exposição, ao Sr. Ministro do Ultramar e ao Sr. Governador-Geral de Moçambique.

Muito obrigado.

O Orador: - Para ouvir as palavras de V. Ex.ª, eu felicitar-me-ia por ter tido a intenção ide proferir estas palavras.

Bem haja por elas.

Quando, dentro de algum tempo, os travos amargos da provação começarem a esbater-se e o território readquirir o equilíbrio momentaneamente perdido, estou certo de que a serenidade há-de voltar a bafejar as gentes e as terras daquele pedaço do Portugal africano.

Então haveremos de reconhecer que terá valido a pena lutar e persistir

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr Aguiar Branco: -Sr Presidente, Srs Deputados: A presente situação social e política, de feição cada vez mais preocupante, impeliu-me a usar da palavra para, em voz alta, fazer algumas reflexões São apenas uns tantos apontamentos despretensiosos Não obstante, e talvez por isso, julgo necessário afirmar que sou movido, exclusivamente, por uma recta intenção e pelo sentimento de indiscutível patriotismo.

Feita esta afirmação, em termos tão peremptórios, não concedo a quem quer que seja o mínimo de dúvida E se ela - mau grado meu - surgir no espírito de algum de VV. Ex.ª, é porque, expondo simples apontamentos, não logrei ser tão claro quanto desejo

Mercê de uma política de relações externas, habilmente perscrutada e conseguida na época do último conflito mundial, não sofremos, na nossa carne, os horrores desse conflito Sena injusto se não prestasse aqui e por este facto a minha homenagem ao obreiro dessa política- o Presidente Salazar, que a História regista já como estadista inesquecível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Finda a guerra, os povos que directamente a sofrerem, gastos e martirizados nos corpos e nas almas, apenas desejavam, ansiosamente, o estabelecimento da paz E nem atentavam se a mesma paz era ou não oferecida em condições aceitáveis Mas não podemos criticá-los Temos que compreender o fenómeno; e, para tanto, basta que nos situemos com eles no tempo e nos factos. Nós, por certo, não procederíamos com melhor discernimento.

Nós não sofremos os efeitos directos e imediatos da última guerra Mas sentimos depois todos os efeitos dela decorrentes, mormente os de natureza ideológica Era impossível o isolamento perfeito Aliás, não seria nunca de aconselhar e de prosseguir tal isolamento. Os povos, como os homens, têm que sofrer os impactes dos acontecimentos para saberem reagir-lhes com reacção, que será tanto mais fácil e, porventura, mais adequada e eficiente, quanto menos imprevisto for o impacto. Verdade é, porém, que sofremos os efeitos do pós-guerra com as consequentes crises sociais de adaptação a novas realidades, resultantes, sobretudo, do impacto das novas ideologias sociais e políticas vitoriosas Também nós não nos pudemos furtar a um generalizado e dominante desejo de paz semelhante ao dos povos que haviam sofrido a guerra.

Apercebendo-se desta situação de angústia e de amolecimento colectivos, o comunismo internacional, que não deixa nunca escapar os momentos propícios ao expansionismo da sua ideologia, lançou ele próprio, por um lado, os movimentos ditos pacifistas dentro dos países do Ocidente, e, por outro lado, lançou o movimento político «da coexistência pacífica» entre as nações de estrutura capitalista e as de estrutura comunista Tratava-se, porém, de política falaciosa, destinada a fazer ruir o capitalismo por duas vias convergentes E a política de falso pacifismo e de falsa coexistência foi lançada no terreno de mais fácil frutificação- o da juventude, com incidência particular na estudantil.

Mas nos países comunistas preservou-se a juventude Não se lhe tirou a ideologia política nem se lhe proporcionou vida fácil - sem estudo e sem trabalho-, visionária de miragens Proibiu-se o uso da droga e a pornografia. Ao contrário, nos países ditos ocidentais e de estrutura capitalista, o comunismo internacional incentivou a juventude ao absentismo, à ingestão da droga e apontou-lhe como ideologia, agressiva e violenta, a da destruição de todos os vá-