Enalteço as suas virtudes, exalto o seu contributo no engrandecimento e defesa da integridade da Pátria.

Muito foi feito, muito terá que se fazer ainda em todos os sectores. Não se poderá parar, não poderemos sequer abrandar o ritmo da construção do futuro de Moçambique, e sobretudo do futuro cultural e sócio-político das suas gentes.

Só um povo consciencializado política e socialmente se poderá determinar, poderá saber o que quer e lutar pela unidade nacional, sem quebras nem dúvidas.

Esta consciencialização começa no campo educativo, no âmbito da escola e dos educadores.

2 Na minha primeira intervenção nesta Assembleia, eu falava da nossa juventude, que tem direito a ser acreditada.

Permita-se-me perguntar agora por aqueles que deverão ajudá-la a crescer na liberdade e para a responsabilidade. Grande é no mundo de hoje o papel de educador. Será que temos educadores à altura das circunstâncias difíceis em que somos forçados a viver? E será também que damos condições suficientes àqueles que, por vocação e missão, devem ajudar a crescer a gente moça, crianças, adolescentes e jovens?

Se educar é sobretudo responsabilizar e libertar, a comunidade portuguesa deve sentir a importância do educador dentro dos seus quadros, para que ele seja, mais do que um dirigente, um companheiro, mais do que um opressor que obrigou a criar hábitos, um guia que permita opções progressivamente mais conscientes, mais do que agente do ensino, um verdadeiro mestre que comunique a experiência de vida que ele mesmo já viveu e permita ao discípulo construir no ideal comum os próprios itinerários.

Toda a educação supõe em quem educa uma vocação, qualidade nata para acompanhar os mais novos, uma missão, responsabilidade concreta, entregue pela comunidade, uma competência, preparação explícita para responder às interrogações e projectos daquela que a comunidade lhe confiou.

3 Sinceramente eu interrogo-me acerca das condições em que vivem os nossos professores primários em Moçambique, acerca da preponderância que tem em todo o ultramar a tarefa do professor primário, em ordem à construção do ultramar do futuro, no difícil contexto em que os homens de amanhã continuarão Portugal.

l º - a) Já atentámos bem nas condições geográficas e sociais em que são obrigados a viver?

Muitas vezes isolados em pequenas aldeias do interior, quando não perdidos no mato, quase sempre longe de lugares onde a convivência com outros lhes permita um crescimento na cultura, os professores primários queimam os melhores anos da sua vida numa solidão estranha, a de quem tem tudo para dar sem receber em troca outra retribuição do que a certeza de alfabetizar um povo e de colocar os primeiros fundamentos de um desenvolvimento de que já não serão porventura testemunhas.

Os professores primários ensinam a língua (elo de ligação e entendimento entre os povos), despertam crianças e adultos para a civilização, são a ponte entre as raças, conseguem afirmar o milagre de uma África aberta ao progresso, à ciência e à cultura.

Privados muitas vezes da família, longe dos seus, não voltaram a cara à aventura que nem a promoção económica consegue justificar. O que os moveu? Estou convencida de que foi a vocação de educador que os atirou para o caminho do sacrifício e da renúncia, que acabaram por aceitar. Compensações quase as não têm, além da alegria do dever cumprido; incertezas no seu actual estatuto são o amargo pão de cada dia.

b) Entre 195O e a actualidade, a percentagem do aumento nas remunerações do professor do ensino primário em Moçambique foi cerca de 48%, mas a base era já diminuta e os ganhos de hoje são inferiores aos da maioria dos empregados de escritório e de tantos funcionários públicos, muitas vezes com habilitações inferiores às suas. Se pensarmos no aumento do custo de vida, nas despesas que implicam a educação de um filho, no valor de um livro, indispensável aos agentes de ens ino, constatamos facilmente como é deficitária a situação dos professores no contexto económico-social da comunidade humana em que vivemos. Vencimentos não proporcionais ao aumento do custo de vida nem à qualificação social indispensável a um educador da sua craveira, o professor primário é, no conjunto de homens que servem o ultramar, porventura o menos recompensado materialmente.

4 Não será possível alterar esta situação, enfrentar este problema, descobrir soluções corajosas e eficazes? Quem quer o fim quer certamente os meios Comprometemo-nos a atirar Moçambique para um nível de desenvolvimento compatível com as suas capacidades. Temos de nos comprometer a estimular o meio fundamental para este desenvolvimento, que é, precisamente, o professor do ensino primário, aquele que mais de perto contacta com as populações a promover e mais estimula as capacidades latentes de um povo e as virtudes de que todos os homens são portadores.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - 2 º Afirmava-se recentemente no IV Congresso da Mulher da África Austral.

A falta de professores qualificados é uma constante que preocupa todos os povos, mesmo os mais progressivos. Também em Moçambique o problema nos aflige Apesar das duas escolas de preparação de professores do ensino primário e das doze (e mais duas a funcionar no próximo Setembro) de preparação de professores de posto escolar, os professores não chegam. Apenas 50 % do pessoal em exercício ê diplomado. E os restantes?

Os restantes são monitores escolares.

E que preparação se dá a estes dedicados obreiros da educação em Moçambique, de modo a também eles poderem não só alfabetizar crianças, mas também educar e promover populações?

Assim se entende, em Moçambique como em toda a África, que a escolaridade deve ser faceta dominante do «desenvolvimento de comunidade», porque, processando-se desatenta desse desenvolvimento integral, será fatalmente instrumento de desagregação social e de instabilidade.