carinho que merecem; que lhes nega um indiscutível direito e não um favor, em contraste flagrante com outros, que não estando sujeitos às mesmas condições de sacrifício, de enorme desgaste físico e psíquico e de indomável coragem, beneficiam, e implicitamente os seus familiares, de um estatuto de prioridade e de benefício económico no referido abastecimento de gasolina.
Para confirmar a falta de atenção e de carinho, para não dizer outra coisa, de que esses rapazes são vítimas, vem a propósito, porque a oportunidade se me depara, referir aqui um facto passado há alguns meses no Aeroporto de Lisboa.
Aos passageiros, que chegados do Porto deveriam seguir viagem mais tarde para Luanda, foram distribuídas senhas para que pudessem almoçar no restaurante do Aeroporto. Porém, aos militares que de férias regressavam novamente ao cumprimento do sagrado dever de defender o nosso património nacional foi-lhes recusado o fornecimento de tais senhas com o desumano e injusto argumento de que faziam a viagem beneficiando de um desconto especial sobre a tarifa normal.
Assisti, revoltado, a este triste e degradante espectáculo, que não se pode admitir a ninguém, mas muito menos a uma companhia a quem um estatuto de monopólio concede o exclusivo de transportes aéreos entre as várias parcelas do espaço português.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - É altura de perguntar, onde está a justiça, a gratidão, o reconhecimento, a recompensa e a homenagem que esses autênticos e indiscutíveis heróis merecem? A que esses generosos e valentes rapazes têm direito?
Srs. Deputados: Regimentalmente cabe-nos a responsabilidade de fiscalizar os actos do Governo e de os criticar, construtivamente, quando eles provocam o mal-estar da população ou quando esta é vítima de qualquer injustiça de ordem moral, social, política, económica ou de qualquer outra ordem.
É no cumprimento dessa obrigação que me permito chamar a atenção do Governo para esta injustiça, injustiça que prejudica o bem-estar do povo português e é contrária à política de «renovação na continuidade» em que eu, e suponho que a grande maioria dos portugueses, acreditamos, porque é a política que nos tem sido anunciada pelo Sr. Presidente do Conselho.
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Presidente: - Vamos passar à
Continuação da discussão na generalidade da proposta de lei sobre o regime de condicionamento do plantio da vinha.
Tem a palavra o Sr. Deputado Ávila de Azevedo.
pratos da culinária portuguesa, a rescendente «alcatra»; é o vinho dos bodos e das «funções» do Senhor Espírito Santo, que rega a massa sovada, é o vinho com que se dessedentam os «foliões» da ilha de S. Jorge e os romeiros da ilha de S. Miguel. É um vinho que não embriaga facilmente, aromático, excessivamente aromático, um tinto de cor mais ténue. Não é, evidentemente, um licor de qualidade e de marca e um néctar que nos delicie, mas ainda se avantaja a muitas outras mistelas engarrafadas que fazem a fortuna dos fabricantes de bebidas alcoólicas e não alcoólicas.
Mas, meus senhores, no solo vulcânico e atormentado dos Açores, nas torrentes de lava que desceram das montanhas até à borda do mar, no chão de «lagido» e no chão de «biscoito», formado por materiais em desagregação, também foram plantadas desde o século XV cepas do chamado «verdelho», que produziram vinho da mais alta e reputada qualidade. Entre eles adianta-se o privilegiado vinho do Pico.
Ao que no s narram as crónicas, os bacelos de verdelho provieram do Lácio, na Itália, certamente transportados por irmãos de S. Francisco, que povoaram e missionaram as ilhas logo nos primeiros anos do povoamento. E desde então, entre outras castas, o verdelho tomou foros de casta-mãe, numa espécie de microclima, no concelho da Madalena e noutras pequenas faixas do Pico rasantes com o mar, a tal ponto - como se diz na ilha - que ele ouve cantar o caranguejo ...
Este vinho famoso já era celebrado no século XVI por Gaspar Frutuoso, o micaelense autor das Saudades da Terra, com o nome de vinho passado, envelhecido mediante estufagem de exposição ao sol, como nos explicou o Deputado Linhares de Andrade. Possuía as mais extraordinárias virtudes empregava-se, como sublinha o historiador, em gastar os maus humores, em confortar o estômago, alegrar o coração e avivar e não fazer perder o juízo e o uso da razão, além do suavíssimo gosto, e muito confortativo, ainda que só com o cheiro...
O renome mundial do vinho do Pico atingiu o seu auge nos princípios do século passado. Um oficial da marinha sueca, que viajou pelos Açores, Gustavo Hebbe, notava em canhenho de notas que o seu sabor era mais suave e mais agradável que o do Xerez. Testemunhava ainda o viajante que os veleiros chegavam a carregar 25 000 pipas nos anos de grande produção, destinadas aos mercados mais distantes da América e da Europa, desde Hamburgo a S. Petersburgo, onde figurava, segundo a tradição,