do passado, e devido à falta de suficiente capacidade de armazenamento e de uma política activa de promoção de exportações, a Junta Nacional do Vinho viu-se coagida a retirar do mercado e «a queimar», a destilar, parcela avultada de vinhos comuns, cerca de 1 600 000 hl em média nos anos 1963, 1964, 1965 e 1966, com a perda que tal facto significou a curto e médio prazos na desvalorização e venda do produto.

Apesar de a capacidade pública de armazenagem na área da J. N. V. ter aumentado de 400 milhares de hectolitros em 1952 para 1885 milhares em 1966, o facto é que não conseguiu acompanhar a formação de excedentes provocada por desajustamentos entre a produção e o consumo anuais, obrigando, à falta de previsão e melhor política, à destilação desses excedentes 6 400 000 hl ao quadriénio, em regra mais que a produção anual na área da J. N. V. em qualquer das campanhas posteriores. A capacidade de armazenamento, público ou privado, cooperativo ou não, deve ser assim aspecto essencial a rever na política vitivinícola.

Importa ter ainda em consideração que as séries utilizadas na produção e no consumo não se referem a volumes do vinho com as mesmas características, à medida que se deslocam nos canais de comercialização, vão perdendo a sua homogeneidade, mesmo sem falar nas modificações introduzidas no «Poço do Bispo» e hoje um pouco espalhadas por esse Portugal além.

Com efeito, nos diferentes estádios de comercialização vão-se verificando alterações no produto inicial, pela prática de loteamentos que envolvem volumes de vinhos dos dois tipos tinto e branco, de diferentes regiões e graduações alcoólicas Com cruzamento e «mistura» de tipos e cores, ou sem ela.

A análise das séries dos destinos da produção regista um certo decrescimento do consumo interno, após ter sido atingido um nível de saturação do mesmo para os vinhos comuns lá pelos anos 1962 e vizinhos.

Se tivermos em consideração o que oportunamente afirmámos acer ca da emigração e redução da população presente ou residente do continente, e particularmente da activa agrícola ou mesmo total, não surpreenderá o facto, sabido para mais que muita dessa emigração é constituída fundamentalmente por camadas populacionais que faziam apelo predominante a vinhos comuns em seu acompanhamento das refeições.

O escoamento dos excedentes passa, assim, a estar essencialmente condicionado pelas possibilidades de exportação para o estrangeiro e ultramar - e tal me levara a episodicamente intervir no decurso da X Legislatura acerca da dificuldade das exportações dos nossos vinhos para o além-mar (compreensivelmente, aliás, em termos de prioridade) Exportação como destino fundamental, assim, dos excedentes de um consumo interno em ligeira regressão quantitativa, a menos que se queiram reeditar maciças destilações do pastado à custa do erário público, do dinheiro de todos nós, com bem mais produtivas e socialmente úteis aplicações.

A exportação apresenta uma evolução ascendente, e altamente favorável nos últimos tempos, também para os vinhos da área da J. N. V, embora seja fácil ou possível inferir que poderão vir a apresentar-se dificuldades crescentes, quer pelo aumento de concorrência nos mercados internacionais, quer pelas exigências de qualidade em quantidade capaz, às quais a produção nacional não parece estar, de momento, em condições de responder em larga escala e a curto prazo - mas disso não se culpem fundamentalmente os agricultores, antes as organizações e, sobretudo, a política agrária e, vamos lá, do comércio.

Anotem-se, apesar de tudo, os valores, recentemente tornados públicos, de 3 383 000 contos de exportação de vinhos portugueses no ano findo, o que deveria levar a considerar com um pouco mais de realismo, boa vontade e consideração o contributo da agricultura para o desenvolvimento económico e social do País e equilíbrio da sua balança comercial - mas isso são outras e mais larg as histórias.

Nos mercados ultramarinos tem-se assistido, por seu turno, a uma concorrência áspera, movida principalmente através das chamadas «bebidas fermentadas», com base em frutos - e não só - aí produzidos, ainda que ultimamente se haja verificado maior regularização da matéria.

Um outro destino da produção, integrado, aliás, no consumo interno dos vinhos comuns da área da J. N. V., mas desagregado do consumo dito «público» na dos vinhos verdes, é o autoconsumo.

Nesta última região é possível determinar uma forte correlação positiva entre a flutuação cíclica da produção e do autoconsumo. Os preços o explicam bebe-se mais na «casa agrícola» do lavrador, dispensa-se ao pessoal ou oferecesse mais quantiosamente a amigos quando os preços se encontram na maré da baixa do que nos pináculos das subidas.

O autoconsumo tem, assim, em certas regiões, efeito estabilizador dos preços quando se verificam altas produções, como a moderação do consumo doméstico servirá a atenuar a alta dos preços quando as colheitas se revelam escassas e os preços se afirmam mais vantajosos no mercado.

Na área da J. N. V. a exportação representa papel muito apreciável no escoamento da produção de menos de um quinto do volume do consumo interno há um quarto de século passou a interessar mais de metade, com valores bastante significativos, rondando o milhão e meio de contos de vinhos comuns.