Luso-Brasileira têm dedicado o maior interesse e carinho, numa manifesta prova de profunda amizade pela velha Nação Portuguesa.

Nesta vetusta sala, vozes autorizadas enalteceram inúmeras vezes a amizade luso- brasileira, o que nunca é de mais realçar, pelo significado que ela traduz no conturbado mundo em que hoje vivemos, ao qual Brasil e Portugal dão um permanente exemplo de vivência fraterna entre dois povos separados pelo vasto mar Atlântico, mas unidos por fortes elos cimentados pelas mesmas origens, pela mesma língua e pela inquebrantável fé no destino comum das suas pátrias.

Resulta que, perante o significado que estas palavras encerram, Portugal e Brasil têm que estar atentos para se defenderem com coragem de todos os que possam perturbar a unidade das duas nações e a integridade dos seus territórios.

Portugal levou ao Brasil um património pelo qual lutou, em épocas distantes, contra a avidez de algumas nações, conseguindo manter, com indómita perseverança, as fronteiras do portentoso Brasil de hoje.

Não há muito afirmei aqui que os nossos irmãos brasileiros precisam de conhecer melhor as nossas realizações e o surto de desenvolvimento que Portugal está atravessando para atingir os objectivos da sua política sócio-económica.

É, pois, nosso dever levar ao conhecimento do povo brasileiro o que é a realidade portuguesa, para que, esclarecido, ele possa compreender e repudiar as deformações, as mentiras e as insinuações mal-intencionadas que são propagadas por certa imprensa de duvidosa amizade para com Portugal.

Vai V Exa. ter o ensejo de visitar os dois maiores Estados portugueses do ultramar - Angola e Moçambique -, e estou certo de que regressará ao Brasil impressionado com as grandiosas obras de fomento já ali realizadas e em curso, que constituem um conjunto de assinalado progresso, com as inevitáveis incidências no bem-estar das respectivas populações.

Entre muitas dessas realizações, verificará Exa. que a capacidade de criação e de organização dos Portugueses está bem expressa no fabuloso desenvolvimento de Angola e no grandioso empreendimento da barragem de Cabora Bassa, no Estado de Moçambique, que virá contribuir para o progresso de uma enorme região

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Permita-me, Sr Deputado Daso Coimbra, que realce neste momento um factor de extraordinária importância para a nossa Comunidade a constante fidelidade aos princípios em que se tem baseado e intensificado a amizade luso-brasileira, através de um maior reforço nos intercâmbios económicos e culturais entre os dois países e na explicação mútua dos problemas que porventura surjam, muitas vezes com origem em figurinos estrangeiros que não servem os interesses reais das nossas nações.

A existência, tanto em Portugal como no Brasil, de duas comissões parlamentares não poderá destinar-se apenas a meros expedientes protocolares, mas muito em especial a, em conjunto, bem próxima uma da outra, trabalharem afincadamente no vasto programa que temos à nossa frente e de tão relevante importância para o fortalecimento das relações dos nossos países.

Eis, pois, uma razão, mais do que suficiente, para que as comissões a que temos a honra de presidir estabeleçam um contacto cada vez mais íntimo e mais profícuo, com a finalidade de um entendimento recíproco que facilite aos Governos das duas Nações não só a aplicação das altas atribuições em que se alicerça a Comunidade Luso-Brasileira, mas também que os alerte e esclareça dos problemas que possam vir a afectar a secular amizade e o entendimento que deve imperar entre os nossos países.

Certo de que todos os meus pares me acompanham numa saudação amiga a V. Exa., formulo votos sinceros de uma boa estada em Portugal e que a visita ao ultramar lhe proporcione a maior satisfação, dela tirando os mais proveitosos resultados

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Daso Coimbra: - Desde o momento em que pisei este solo amigo de Portugal, as emoções se sucedem num crescendo constante já não sei mais se admirar a fidalguia das autoridades e do povo português, se o encanto que descortinei dos mirantes de Lisboa, se as preciosas relíquias históricas de Sintra e Queluz, se a dadivosa beleza que contemplei da serra da Arrábida, se a palavra sincera, por vezes causticante, mas sempre verdadeira, do vosso Primeiro-Ministro no último sábado, se estas homenagens de que agora sou alvo aqui na Assembleia Nacional.

Tudo isto vivi intensamente nestes quatro dias que estou em Portugal. E mais coisas sentirei e viverei ao passar pelo centro de cultura que é Coimbra, ao conhecer o Porto e Braga - terra dos meus avós-, ao percorrer o encantador Algarve e pisar os penhascos do promontório de Sagres, onde se planejaram os grandes descobrimentos do século XV.

Pensando no Portugal msular e ultramarino, prolongamento deste Portugal continental, onde a presença lusíada foi a constante marca da ordem e do desenvolvimento daquelas regiões, medito profundamente no que seja o respeito a uma população nativa e na integração pacífica daquelas terras e povos a este Portugal, onde não houve conquista pelas armas, mas onde impera, há cerca de cinco séculos, o espírito de dar, de amar e de congregar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nesta hora presente se nos impõe um grande desafio - a nós, Brasileiros e Portugueses -, em face da tremenda realidade do Mundo em que vivemos, profundamente conturbado e ameaçado.

O Ocidente está em crise e isto muito bem o disse o vosso Primeiro-Ministro, Sr Prof. Marcelo Caetano, naquela bela peça oratória que li e reli com prazer, vendo o vosso Chefe, como bom professor que ainda o é, a desdobrar da sua cátedra os bons ensinos e os alevantados princípios.

Estamos em crise Crise especialmente de espírito.

E a Comunidade Luso-Brasileira, que domina hoje as mais importantes áreas do Atlântico Sul, tem sobre ela voltados os olhos do Mundo