Respeita um ao justificado relevo nele dado ao ultramar. Sem dúvida, e particularmente desde que assumiu o Poder, nunca o Sr. Presidente do Conselho suscitou, por palavras ou por actos, uma dúvida que fosse quanto à sua decisão de o defender e valorizar

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas nos tempos que correm, onde tão curta é a memória de muitos, como surpreendente a facilidade com que se desvirtuam intenções e levantam suspeições, sabe-se lá com que propósitos - e por vezes até se sabe demasiado bem -, torna-se necessário insistir na doutrina assente e que deveria ser insusceptível de discussão ou sequer de dúvida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por outro lado, e perante acontecimentos recentes que inquietaram a opinião pública, não só em Moçambique, mas também em outros pontos do território nacional, e de que se ouviram ecos nesta sala, compreende-se que no contexto ultramarino haja avultado a presença daquela província estou certo de que ao espírito de quantos nela vivem e lutam e trabalham levou a palavra do Presidente do Conselho a renovada certeza de que o Governo Central os não esquece nem desampara, de que se não perderá o domínio da situação e de que prosseguirá a convivência pacífica de todas as raças e o acesso às funções apenas em razão da capacidade e dos méritos de cada um.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não poderia o Sr. Presidente do Conselho ter sido mais afirmativo na determinação que manifestou O próprio anúncio que fez de um iminente auxílio financeiro, indispensável no momento actual ao revigoramento de uma economia débil, constitui testemunho de solidariedade e confiança e é de natureza a dissipar também em Moçambique quaisquer nuvens pessimistas Pronto a interpretar aqui há exactamente três semanas inquietações e sobressaltos do meu círculo e a chamar para eles a atenção do Governo, não desejaria deixar de testemunhar hoje o salutar reflexo que nele inevitavelmente terão as palavras do Sr. Presidente do Conselho

Não se reveste de menor importância o outro ponto do discurso a que pretendo referir-me, embora o faça brevemente.

Chamou o Chefe do Governo a atenção do País para a reivindicação de privilégios hoje generalizada no Ocidente também nós em Portugal, e sobretudo na metrópole, padecemos desse mal também aqui estudantes, eclesiásticos, grand es capitalistas, sindicatos operários se empenham tenazmente, e por processos subversivos, em enfraquecer o Governo, também aqui se vai tendendo a perder o sentido da disciplina e o respeito das instituições; também aqui se tenta violar a ordem pública, sob os mais variados pretextos não há dúvida, numa palavra, de que também aqui de dia para dia se pretende mais degradar a autoridade e o poder do Estado.

Disse o Sr. Presidente do Conselho

Sobretudo, meus senhores, evitemos o regresso a tempos em que a vontade dos Portugueses estava corroída e dissolvida pelos ácidos de um negativismo aniquilador. Para construirmos o futuro precisamos de não nos deixarmos perder outra vez nas dúvidas sistemáticas e nas rixas de facções em que o verbalismo estéril tomava o lugar da acção.

Sr Presidente há que pôr cobro, por todos os meios adequados, às tentativas de degradação do Poder a que dia a dia assistimos: o regime político em que temos vivido continua a ser o que melhor serve o País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr Moreira Longo: - Sr. Presidente esta será, porventura, uma das mais breves intervenções feitas nesta Assembleia.

Não deixará, porém, de ter certo mérito por constituir um agradecimento justo e oportuno ao Governo da Nação, da gente de Moçambique, que sempre tem sabido ser grata para com a Pátria Mãe.

Quando, nesta Assembleia, no dia 4 de Dezembro último, fiz uma intervenção sobre problemas de Moçambique, e cujo tema principal respeitava ao grave problema cambial, mais propriamente dos pagamentos entre Moçambique e a metrópole, fi-lo com a maior fé e esperança, pois sei que os nossos governantes, que cá longe marcam os azimutes e traçam as linhas de orientação a seguir, olham por nós, preocupam-se connosco e estudam os nossos problemas Problemas, aliás, que não nos afligem apenas a nós, mas ao próprio Governo Central, que sobre eles se tem debruçado com o mais alto interesse para os ver resolvidos com a celeridade que a situação e a hora presente exigem.

E essa celeridade que queremos e o próprio Governo desejaria poder impor nem sempre se torna tarefa fácil, por múltiplas razões óbvias, como claramente nos foi explicado.

Nós, os Moçambicanos, na ânsia de um maior e mais rápido progresso - e querendo sempre mais e melhor -, esquecemo-nos, por vezes, de que saber esperar é uma grande virtude.

Não o fazemos por mal, mas por um natural nervosismo de quem ali vive há muitos anos, ali tem tudo, os seus filhos e os seus próprios netos.

Um nervosismo caldeado de inegável patriotismo, que foi sempre apanágio das gentes daquela província do Indico

Tivemos sempre, disse, a maior fé e esperança na resolução deste tão candente problema, que vem já de há anos e que tem comunicado o esmorecimento a muitos e até a desistência de alguns que ali vivem e têm concorrido para o surto de progresso que, apesar de todas as vicissitudes, se vem registando

Essa esperança transformou-se agora numa certeza, a certeza de vermos solucionado, num prazo que não será longo, o problema das transferências interterritoriais, cujos benefícios para a vida de Moçambique são incalculáveis