O cansaço gerado por tão longa luta é manifesto, designadamente nos quadros permanentes das forças armadas e nas populações das áreas infestadas; e até nas famílias de ânimo menos forte, que a falta da tal acção psicológica deixa sucessivamente esfriar. Poderemos acaso comparar a reacção das populações do Norte de Angola em 1961, quando submetidas às barbaridades, crimes hediondos e sevícias que suportou num verdadeiro genocídio, com incidentes, pois não podem classificar-se de outra forma, como aquele que recentemente ocorreu próximo de Vila Manica? É preciso não tomar a nuvem por Juno e dar aos acontecimentos as dimensões que realmente têm.

À sombra da cobertura das forças armadas e das forças de segurança em várias zonas e, designadamente, nos grandes aglomerados urbanos, e agora aponto especificamente para Angola e Moçambique, parece ter-se esquecido que o terrorismo lhes pode bater à porta em qualquer momento. Ora, actos mais ou menos isolados de terrorismo urbano são hoje moeda corrente por esse mundo além.

Isto significa que é preciso não nos deixarmos arrastar, alarmando-nos indevidamente e tomando atitudes menos sensatas, para ir ao encontro do que o inimigo pretende, que é o de criar um ambiente de mal-estar, diria de desconfiança, entre as diferentes etnias, a fim de melhor açular os bandoleiros contra o nosso indiscutível não racismo.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Paulo Dimene: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Paulo Dimene: - Abordou V. Exa. nesta sua intervenção um assunto de capital importância o fosso que está a ser cavado pela separação das diversas etnias

O Orador: - Que pretende ser cavado.

O Sr Paulo Dimene: - Nós, que vivemos nas zonas assoladas pela subversão, estamos conscientes, não de hoje, mas de há muito tempo, da tentativa e dos esforços que estão a ser empreendidos pelo campo adversário para o estabelecimento desse fosso.

E digo, se a guerra e os actos terroristas que estão a ser cometidos na minha terra me preocupam, preocupa-me sobremaneira a guerra psicológica que está a ser movida ao sentido de cavar um fosso entre as várias etnias que lá vivem.

Gostaria de neste momento chamar a atenção para esse facto, que já foi referido superiormente pelo Sr Presidente do Conselho, no seu último discurso.

Quero daqui chamar a atenção de toda a Nação para a gravidade do caso.

Se queremos formar uma sociedade multirracial, que justifique a convivência multirracial saída das descobertas e que se mantém ao longo de 500 anos, a grande batalha que há a vencer é justamente no campo psicológico.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Paulo Dimene: - Há que tomar medidas tendentes a sanar qualquer dúvida nesse sentido.

Quero aproveitar a ocasião para formular um pedido: qualquer problema de carácter sócio-económico que seja levantado visando um sector étnico da população não deve ser encarado como um problema racial, mas simplesmente como problema social.

Acontece em Moçambique, onde grande par>te das populações de uma etnia se encontram ainda subdesenvolvidas, não querendo isso significar que se esteja perante um problema racial.

Trata-se apenas de um problema social, de que o inimigo se aproveita para lhe dar outra feição, para o apresentar com o aspecto de problema racial.

Muito obrigado.

O interruptor não reviu.

O Orador: - Muito obrigado, Sr Deputado Apreciei muito a sua intervenção, que só veio reforçar as considerações que estou a fazer. Eu comungo inteiramente na sua opinião e não tenho qualquer dúvida de que o objectivo fundamental do inimigo é tentar cavar o tal fosso a que se referiu Eu espero que não passe de tentativa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Vou continuar.

Ainda recentemente, já neste mês, o Ministro dos Estrangeiros da Grã-Bretanha ouviu na Tanzânia, do seu homólogo, exclusivamente palavras de rancor contra os brancos «opressores das maiorias negras nas terras de África Meridional» e uma raivosa insistência para que os regimes actuais (brancos) sejam destruídos pela força Ódio e violência é o que unicamente se apregoa nesses países negros.

O Sr Presidente do Conselho, no seu notabilíssimo e magistral discurso do dia 16 de Fevereiro, para mim um dos mais, se não o mais substancial e corajoso da sua carreira política, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -... pôs bem o dedo na ferida, esclarecendo com a clareza que lhe é peculiar o que são as reivindicações dos chamados «movimentos de libertação» Apenas racismo do mais sanguinário e cruel Et pour cause.

Por mim há muito que o denunciei, e na legislatura passada em mais de uma ocasião considerei o racismo negro o pior que o Mundo jamais conheceu.

Haverá ainda «inocentes» que tenham dúvidas? Penso que não pode haver ideologias neste país, salvo a comunista, que quer fazer da África a maior e mãos na coutada do marxismo, que tenham ilusões sobre o futuro das províncias africanas, se os Portugueses de lá saíssem E quanto aos outros países, os tais do Ocidente, o Prof Marcelo Caetano esclareceu--nos a nós e a eles devidamente.

Não vou repetir, nem o saberia fazer, nem é essa a finalidade desta fala, o que o Sr. Presidente do Conselho tão avisadamente expôs ao País. Entendo, todavia, que o seu discurso deve ter feito meditar profundamente os portugueses de bons sentimentos e levá-los a enfrentar as realidades da hora presente.

E, pedindo perdão por me ter desviado do motivo principal que me levou a pedir a palavra a V. Exa.,