Moçambique não se sublevaram contra Portugal, São, pelo contrário, vítimas inocentes dos ataques terroristas.

Vozes: - Muito bem!

Q Orador: -... e sofrerão porventura por vezes as consequências do combate aos elementos subversivos que nelas se infiltram e acoitam. Defendê-las é um dos nossos deveres, é uma das nossas missões.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Nesta luta, repetidamente se acentua, o que está em causa e a adesão das almas, não a conquista de terras ou a subjugação de povos.

Chamamos a nós essa adesão na medida em que cumprimos a missão de todos os governos legítimos realizar o bem comum, correspondendo às necessidades sociais e às justas aspirações individuais. Nas regiões desoladas da África intertropical, nesses vastos espaços onde desde o princípio do Mundo a humanidade se sente frágil sob a pressão de uma natureza hostil, coube ao europeu o desbravamento da selva, o domínio dos perigos que ameaçavam a vida, o aproveitamento das potencialidades da terra. As populações nativas foram assim pouco a pouco libertas da miséria, da ignorância e da opressão. Mas a obra de redenção da África não está completa. Há imensas tarefas a cumprir para o descobrimento e aproveitamento das riquezas naturais. É um trabalho imenso a levar a cabo na educação e na valorização das pessoas. Dominar a natureza e dignif icar o homem - eis o que verdadeiramente deve contar na acção política no ultramar

Aplausos.

Há assim uma evolução em marcha que, como acabei de dizer, consiste em construir um futuro português através da educação e promoção das populações, ao serviço das quais se ponham as infra-estruturas necessárias para o aproveitamento óptimo da riqueza da terra e do trabalho que a valoriza.

Eis um caminho sério e seguro que estamos a trilhar, com empenhamento de capitais, prodígios de técnica, heroísmos de esforços e devoção entusiasta. Mas um caminho que leva algum tempo a percorrer. Porque, não tenhamos dúvidas, para construir solidamente qualquer obra humana o tempo é um material imprescindível.

Com palavras, habilidades e ilusões podem fazer-se passar num instante aos olhos deslumbrados de um público atónito fantasias mirabolantes. Mas que se esvaem como fumo depois de uns dias breves de brilho fugaz. Fica apenas disso tudo desilusão e amargor. Quando não revolta.

Precisamos de tempo. Temos de ganhar tempo se quisermos prosseguir honestamente o nosso intento de construção espiritual e material. Não podemos dispensar ou perder um minuto sequer porque todo o tempo é pouco para agir, e agir eficazmente.

E muito embora seja grande a nossa impaciência, temos de reconhecer que se tem aproveitado o tempo. A obra realizada nas diversas parcelas do ultramar português nos últimos vinte anos é imensa. E não é apenas obra de fomento. Mas obra da elevação, do nível de vida e do nível de cultura das populações nativas. Obra de que podemos justamente orgulhar-nos e de que particularmente podem orgulhar-se aqueles que cumpriram modesta e silenciosamente o seu dever de vigilância, protecção e defesa do ultramar, permitindo à massa dos habitantes fruir a paz e os frutos do progresso.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Os soldados que guarneceram as províncias do ultramar nestes últimos anos não estiveram lá a ver morrer camaradas como justificação para outros morrerem após eles. O seu sacrifício garantiu a paz e a segurança. Impediu que se repetisse o espectáculo do Congo em 1961 com os cadáveres dos homens mutilados, das crianças esquartejadas, das mulheres violentadas e esventradas. E permitiu que se retomasse o trabalho construtivo e, refeita a confiança das populações, se acelerasse o ritmo do desenvolvimento dos territórios, hoje realidades cada vez mais promissoras de riqueza, de bem-estar e de paz.

Por mais depressa que andemos, porém, não admira que a marcha pareça lenta. Não falo agora do inimigo para o qual um dos êxitos procurados é privar-nos do tempo. Refiro-me àqueles que, de boa fé e com espírito patriótico, vêem os anos suceder-se aos anos e sentem a fadiga invadi-los, a impaciência a corroe-los e a esperança a fugir.

Seria possível acelerar as soluções políticas? Esse é um tema que submeto em especial à vossa consideração.

É aqui que pode ter lugar um debate franco e aberto. Já o provocámos no País por ocasião das eleições de 1969 e a resposta do eleitorado foi categórica. Não pode, porém, a meu ver, admitir-se permanentemente esse debate por motivos que mais de uma vez têm sido expostos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Primeiro, porque, segundo o consenso geral, pode discutir-se a preparação de uma decisão. Mas quando a decisão está tomada, e sobretudo se essa decisão é tão grave na vida nacional que exige mobilização dos espíritos, sacrifício dos recursos e serviço militar aturado e arriscado, não é lícito depois estar a discutir-se todos os dias a decisão que se executa e a execução do que se decidiu.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Segundo, porque, estando nós empenhados numa luta com inimigos poderosos, aos quais não faltam meios de pressão psicológica, nem dinheiro para nos inundar com a sua propaganda, esse debate seria a brecha facultada ao inimigo para, com mais descaramento do que já tem, espalhar as suas mentiras, divulgar as suas doutrinas, incrementar junto da juventude e do povo em geral a campanha de intimidação já agora por tantas formas e em tantos campos posta em marcha.