tórios da África portuguesa com mais segurança do que as ruas de grande número das principais cidades de países ditos civilizados.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E apesar disso decorre normalmente a vida política e a administração dos territórios sob a égide da lei portuguesa.

Esta atitude das populações não significa nada?

Não exprime uma vontade que, de acordo com a mentalidade, as tradições, o modo de ver e o modo de ser das populações africanas, é bem mais significativa do que a deposição nas urnas de quadrados de papel tendo impresso um leopardo ou um leão?

Negociações com os movimentos terroristas-para quê?

Para, num diálogo sereno e amistoso, apurarmos o que pensam e o que querem? Nunca o esconderam e nós bem o sabemos pensam que é chegada a sua hora com os ventos da história a seu favor e querem que lhes entreguemos pura e simplesmente os territórios portugueses do ultramar.

Para discutirmos com eles o processo de entrega e acordarmos as fases da nossa retirada, as garantias que concederiam a Portugal e aos Portugueses, os laços políticos ou outros a manter?

Nesta altura da história, mesmo que se decidisse em Portugal entrar por esse caminho, não sei como se poderia ter fé em acordos com movimentos chamados de libertação. Como já lá vai o tempo das ilusões da descolonização por via das soluções federais desde que se desfez a União Francesa e que a própria Comunidade Britânica, de tão sólidas raízes e fortes tradições, com a feliz fórmula, para mais, da fidelidade a uma distante e tolerante monarquia unificadora, entrou em franca decadência e pouco mais é que uma reminiscência.

Dos acordos de descolonização, das garantias que eles podem oferecer e da eficácia demonstrada na sua aplicação tratei na comunicação ao País feita em 15 de Janeiro de 1973 9.

Aí me referi ao malogro que representaram os acordos belgas e franceses - mas ainda então não se tinha verificado a sensacional rotura dos acordos sobre Madagáscar, que tão eloquentemente veio reforçar a tese da fragilidade dos compromissos tomados pelos novos governantes em relação às antigas metrópoles.

Negociações hoje, só podem, para já ou a prazo, conduzir à entrega das províncias ultramarinas.

Como noutros ensejos tenho dito «estamos prontos para todas as conversas que tenham por objecto o regresso dos terroristas à sua terra, a sua reintegração na Pátria Portuguesa e até ao estudo da aceleração da participação dos naturais das províncias na sua administração e no governo local» 10.

Como continuamos a dialogar com os interessados no futuro da sua terra - isto é, com todos aqueles que, vivendo nas províncias, nelas permanecendo e trabalhando, contribuindo para o seu progresso e sentindo verdadeiramente os seus problemas, estejam em condições de participar no estudo das decisões a tomar para o bem comum.

9 As Grandes Opções, p 50

10 Conversa de 14 de Novembro de 1972, As Grandes Opções, p 40

A política seguida tem sido, pois, a de defender energicamente em todos os campos a integridade de Portugal aquém e além-mar.

Põe-se, todavia, em dúvida que essa defesa seja suportável pela Nação, quer pelo seu custo financeiro, quer pelos reflexos que o esforço por ela implicado possa ter no seu progresso económico.

Os factos desmentem tais temores.

Devo dizer, aliás, que nunca vi num país que se defende ser posta em causa a necessidade, a conveniência, a oportunidade, a extensão do esforço de defesa, por razões económicas e financeiras.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Quando estão em causa vidas e bens de milhares ou milhões de portugueses e a integridade do território nacional, é isso que conta em primeiro lugar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mesmo que a defesa implique sacrifícios; Sacrifícios que tiveram de fazer as populações martirizadas pelas grandes guerras devastadoras deste século e que sofreram ataques inclementes, a destruição dos lares, a morte dos entes queridos, a privação da liberdade, a perda do património, a fome, o exílio e a ruína, sem que se abalasse a sua vontade de resistir e de vencer.

No nosso caso, as populações, salvo o luto que entristeceu tantas famílias, não tiveram até agora sofrimentos comparáveis, resultantes do esforço da defesa no ultramar.

E também não se ressentiram as finanças públicas das despesas enormes que temos sido obrigados a fazer. Continua o orçamento equilibrado, não se excedeu na carga fiscal um limite modesto, a dívida pública continua a estar muito aquém das nossas possibilidades de crédito.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se sofremos inflação, são a Europa e a América as causas dela, não a África.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - E quanto ao progresso económico e social, creio que ninguém de boa fé poderá afirmar que por virtude da defesa do ultramar esteja paralisado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em poucas épocas da história portuguesa, permita-se-me dizê-lo, se terá visto um esforço tamanho, desenvolvido em toda a frente da economia, da educação e da segurança social, como nos últimos anos se realizou.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.