O Orador: - Não deixou de se fazer fosse o que fosse por virtude da defesa do ultramar. Aliás, a minha doutrina é a de que para sustentar o ultramar o País precisa de fomentar cada vez mais a sua riqueza - a começar pela primeira das riquezas de uma Nação, que é o seu povo e a educação dele.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Dir-se-ia que a defesa do ultramar, em vez de travão, tem sido um estímulo para o desenvolvimento nacional.

Não será por falta de dinheiro que nos renderemos: ponto é que para resistir não haja falta de vontade.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não esgotei o que sobre o tema do ultramar português poderia dizer-vos. Nos cinco anos e cinco meses que levo de responsabilidade pelo Governo do País não se terá passado um só dia em que os problemas ultramarinos tivessem deixado de estar presentes no meu espírito. Sem obsessão. Sempre aberto à consideração e ao estudo de todas as soluções. Sempre atento a todas as possibilidades de trilhar novos caminhos.

Se hoje vos recordei o que disse publicamente nesse já longo período acerca de diversos aspectos das questões suscitadas pela situação e pelo destino do ultramar, foi apenas para demonstrar que esses aspectos não estiveram ausentes das minhas meditações e que os examinei criticamente à luz do interesse nacional.

Uma selecta dessas declarações públicas foi reunida num volumezinho de bolso intitulado Razões da Presença de Portugal no Ultramar, que a Secretaria de Estado da Informação editou há meses, por sua iniciativa. Como eu gostaria que muitos portugueses lessem essas páginas!

Mas, meus senhores, o problema não é meu é da Nação inteira.

Tenho procurado na política seguida ser fiel intérprete do pensamento, do sentimento, da consciência nacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A consulta ao eleitorado, as resoluções da Assembleia Nacional, a auscultação da opinião pública do norte ao sul do País e aquém e além-mar têm sido os meus guias.

É indispensável, porém, que mais uma vez se afirme o rumo a seguir.

Há milhares de soldados longe das suas terras e das suas famílias que em África arrostam dificuldades e perigos e arriscam a vida na defesa da causa de Portugal.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos prolongados.

O Orador: - O Governo a que presido comprometeu-se numa orientação. E não pode renegar os seus compromissos.

Mas nem eu, nem nenhum dos homens que, me acompanha no Governo, nenhum de nós ocupa os seus lugares por ambição pessoal.

Anima-nos unicamente o espírito de servir o interesse nacional, o espírito de servir, pela melhor maneira, a Pátria comum.

É à Assembleia Nacional que compete agora dizer se o rumo que seguimos está certo.

E disciplinadamente me submeterei depois ao veredicto de quem tem autoridade para o proferir.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Toda a assistência, de pé, ovacionou o Sr. Presidente do Conselho.

O Sr. Presidente: - Interrompo a sessão por alguns minutos.

Eram 16 horas e 55 minutos.

O Sr. Presidente do Conselho sai da sala acompanhado pelo Sr. Presidente da Assembleia Nacional, sendo novamente muito aclamado pela assistência.

O Sr Presidente: - Está reaberta a sessão.

Eram 17 horas e 5 minutos.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Neto Miranda.

O Sr. Neto Miranda: - Sr. Presidente: Todos temos ainda presente a comunicação que o Sr Presidente do Conselho veio trazer a esta Assembleia.

Dela há que destacar que correspondeu inteiramente à linha de rumo que propôs seguir no campo político e administrativo logo que assumiu a chefia do Governo, palavras a que nos habituou pelo seu estilo inconfundível de clareza de exposição, apontando-nos o caminho que devemos seguir para atingirmos os superiores interesses da comunidade nacional.

O que há momentos ouvimos ao Sr. Presidente do Conselho foram palavras que sublinham as que ainda recentemente pronunciou no seu notável discurso de 16 de Fevereiro último, no encerramento da conferência anual da A N P.

Aí se referiu a política nacional realizada nos últimos anos, os positivos resultados com ela obtidos, a intencionalidade de certas medidas de natureza político-administrativa e a compreensão e colaboração que de todos os portugueses espera.