Abandonar a política ultramarina que tem vindo a ser seguida pelo Governo para se entrar em negociações com os grupos de bandoleiros, ou para criar novos tipos de Governo em cada província ultramarina, não teria outro resultado que não fosse o próximo abandono do ultramar.

Portugal tem dado ao mundo ocidental o magnífico exemplo da sua persistência ultramarina, especialmente quanto aos territórios que possui em África, baseado apenas, ou fundamentalmente, na sua intransigência, traduzida nas acções militares de legítima defesa, no fomento económico que tem continuado a promover nos respectivos territórios e no desenvolvimento social e cultural que tem continuado a proporcionar às suas populações. Todavia, logo que o Governo saia desta posição e abra uma brecha de cedência - por medo, receio, cobardia ou através de qualquer experiência política mais ou menos sofisticada dirigida para o exterior - entrará num plano inclinado que jamais encontrará a posição horizontal, a única de equilíbrio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ora, não há a mínima dúvida de que as populações do ultramar querem continuar portuguesas, tão portuguesas como os maiores e melhores portugueses do território metropolitano.

O Sr. Barreto de Lara: - Muito bem!

O Orador: - Só quem ali vive e com elas convive, só quem as conhece na variedade das suas etnias, pode ter consciência da sua vontade e do seu destino verdadeiramente integrado na orientação política da unidade nacional, perpetuando as províncias do ultramar sob a bandeira portuguesa, aglutinadas pela mesma língua e cultura, e mantendo para o futuro um património espiritual e material que tem vindo a ser criado com a colaboração activa das mesmas populações.

A actual política ultramarina é, sem dúvida, a única que melhor pode satisfazer, e satisfaz, o interesse nacional e os interesses locais dos territórios do ultramar.

O Sr Henrique Tenreiro: - Muito bem!

O Orador: - Nela se concretiza a legítima e desejada participação evolutiva responsável dos povos locais na gestão das instituições políticas e administrativas, na participação das actividades públicas e privadas, consoante a formação e a capacidade dos cidadãos, sem outra distinção ou privilégio, único meio de se consolidar, cada vez mais, a sociedade multirracial integrada, que sempre esteve nas nossas tradições e que muito se deseja acelerar cada vez mais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por outro lado, estes princípios normativos da política ultramarina que o Sr. Presidente do Conselho tem exposto ao País e ao Mundo, com acentuada e sempre actual persistência - e não menos clarividência, serenidade e ponderação -, têm tido como seu complemento um processo de desenvolvimento e progresso dos territórios que abrange todos os sectores da actividade humana, com aspectos bem positivos tanto no campo social como no económico, no cultural e no educativo.

O seu acelerado progresso é bem evidente e reconhecido por todos, nacionais e não nacionais, que ali vivam ou percorram as terras de além-mar, especialmente Angola, Moçambique e Guiné, exactamente onde temos sustentado uma guerra defensiva e por vezes violenta.

Na verdade, em Angola, por exemplo, o surto de desenvolvimento que tem vindo a abranger todo o território, desde as zonas mais 'longínquas e isoladas da sua periferia fronteiriça aos centros urbanos das vilas e das cidades, está em parte integrado na coordenação entre os serviços militares e os da administração local, essencialmente voltados aqueles para a promoção do bem-estar das respectivas populações.

São as escolas e os postos sanitários que funcionam na maior parte dos centros rurais, desde a sanzala mais populosa e longínqua à sede do posto administrativo, são os hospitais públicos e particulares dispersos por todo o território, sem considerar os das sedes dos distritos, é o plano rodoviário que caminha com passo de gigante, de dimensão extraordinária, de arroteamento e asfaltagem pelo interior do sertão, que se manteve entre os 500 km e os 750 km anuais e que se situará nos 1200 km no corrente ano e nos três seguintes; são as infra-estruturas portuárias que se programam e executam para acompanhar o índice crescente e extraordinário do tráfego de mercadorias exportadas e importadas, é o plano de renovação e ampliação das telecomunicações e da rede de aeródromos, é o crescimento explosivo dos se ctores industrial, mineiro, agrícola e pecuário, são as infra-estruturas hidroeléctricas e o alargamento complementar das redes de distribuição de energia, são os planos de rega que já beneficiam largos milhares de hectares de terrenos aptos para a agricultura intensiva e muito em breve, através da actual execução do gigantesco plano do Cunene - cujo investimento total ultrapassa Cabora Bassa-, vultosas zonas de terreno entrarão num aproveitamento racional e evoluído; é o crescimento urbano das vilas e povoações do interior e de todas as cidades, são as escolas, os liceus e a Universidade, todos superlotados, visto que as novas construções escolares não acompanham o crescimento anual dos respectivos alunos e que já atingem l milhão de jovens é toda uma população que apenas vive para o trabalho e preocupada com novas iniciativas, com novos empreendimentos, com ânsia de escolaridade, com a sua preparação para o futuro, contribuindo para um «progresso imparável» e, portanto, para uma Angola portuguesa e sempre portuguesa e para um Portugal cada vez maior, com a dimensão no mundo civilizado que a epopeia dos descobrimentos lhe ficou a dever e exige no futuro.

O desenvolvimento económico de Angola deu «lugar desde há anos à mais brilhante e promitente explosão de progresso de que temos notícia na África contemporânea. Em paz, Angola portentosa trabalha e cresce». É esta dimensão e esta missão que terá de continuar a desenvolver-se no Portugal de além-mar, mantendo-o sob a unidade nacional, que só será possível através da orientação política que está definida na Constituição e vem sendo executada, fielmente, pelo Governo do Prof. Marcelo Caetano, reiteradamente exposta por ele ao País, tal como o fez