O Orador: - Eu, por mim, sê-lo-ei de certeza!

Nada de alimentar ambições, dando armas e argumentos aos maus portugueses que no ultramar - e quem duvida que os há? - sonham com novas Rodésias ou outros Zaires.

Vozes: - Muito bem!

Em 1962 eu pensava que valia a pena pôr de pé a construção federal - com a sua complexidade, sobrepondo órgãos federativos aos órgãos dos estados federados e reduzindo a própria metrópole a um destes -, porque ela seria aceite pacificamente pelo Mundo e nos permitiria vencer a guerrilha desajudada por uma vez do auxílio externo e do apoio das Nações Unidas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Podemos todos estar cansados da guerra que consome vidas e bens, mas só há um caminho a percorrer, nós, os políticos, e aqueles que não enjeitam essa qualidade, e o povo que elegeu esta Câmara, continuando a apoiar e a seguir a política do Governo quanto ao que ao ultramar se refere, as forças armadas, espelho da Nação e glória de todos nós, defendendo a unidade da Pátria, de que são garantia suprema. Não será com agitação interna, hesitações suicidas ou atitudes pouco claras que podemos reforçar, como é nosso dever, o seu moral ou pagar a sua abnegada dedicação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois se a todos tiverem que ser pedidos novos sacrifícios, que ninguém os negue! A Pátria assim o merece. A História assim o determina. O futuro assim o exige.

Criemos, sim, uma «terceira corrente de pensamento» entre os eventuais antagonismos políticos existentes, mas para reforçar a única corrente que nos serve se queremos ser dignos de nós próprios a de defender, sem olhar como e seja por que preço for, o futuro de Portugal!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Inteiramente livre, mas português; sem rancores a ninguém, mas obstinadamente disposto a lutar em todos os campos, firme nas minhas convicções, mas colaborando sempre, aceitando todos os sacrifícios e grato a Deus de os poder oferecer à Pátria, eu termino esta minha breve intervenção apelando para todos que me escutam, no sentido de darmos um indispensável exemplo de solidariedade a quem solidário se tornou com a política de lutar e de permanecer em África, salvaguardando assim os supremos interesses nacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente. Ainda ecoam nesta Casa as palavras ontem proferidas pelo Sr. Presidente do Conselho e os vibrantes aplausos com que foram sublinhadas.

Nós, Deputados, também temos um mandato indeclinável a cumprir. Na hora grave e decisiva que atravessamos e quando os nossos inimigos lá de fora jogam com palavras e com obras idas cá de dentro, saibamos fazê-lo com coragem e determinação.

Somos um País livre, senhor dos seus actos; árbitro dos seus destinos e detentor de um direito que se sobrepõe a tudo o mais defender perante o Mundo a sua própria razão!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Tito Lívio Feijóo: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Certamente muitos colegas, em especial os que para esta Assembleia foram eleitos pelos círculos ultramarinos, hão-de querer pronunciar-se sobre a moção ontem aqui apresentada acerca da política ultramarina do Governo.

Por isso, Sr. Presidente e Srs. Deputados, limitarei as minhas considerações, de forma a roubar o mínimo tempo possível a VV. Exa..

Sr. Presidente: A política ultramarina do actual Governo da Nação tem sido, nos seus aspectos mais relevantes, constantemente trazida ao conhecimento do público, quer através de comunicados oficiais, quer dos discursos proferidos pelo Sr. Presidente do Conselho e pelo Sr. Ministro do Ultramar e seu antecessor.

Na altura em que nesta Câmara se aprecia a referida moção, pretendo fazer algumas referências às afirmações de princípios em relação ao ultramar que têm sido feitas pelo Prof. Marcelo Caetano e, muito especialmente, àquelas tão desassombradamente por ele vincadas ontem nesta assembleia e no dia 16 do mês passado, na sessão de encerramento da conferência anual da Acção Nacional Popular, e que, por si só, bem definiram, lapidarmente, e com uma clareza cristalina, a nossa política no ultramar.