Ninguém jamais teve dúvidas quanto à posição sempre assumida pelo Sr. Presidente do Conselho em relação à defesa das nossas províncias ultramarinas. É de toda a justiça reconhecermos que a sua tese a esse respeito é a de todos os bons portugueses que pretendem, custe o que custar, que a integridade do nosso ultramar seja defendida e que, simultaneamente, como tem sido possível, se prossiga sem desfalecimento na valorização daquelas portuguesíssimas províncias e na elevação social e cultural das respectivas populações, integradas harmonicamente numa sociedade multirracial, englobando todos os portugueses, e cada vez mais fortalecida por uma convivência exemplarmente fraterna.

Escuso de enaltecer os reflexos fortemente positivos que as afirmações do Sr. Presidente do Conselho têm tido em todos os territórios portugueses, e muito especialmente no ultramar. Os órgãos de informação vêm dando, tempestivamente, a conhecer, e com o merecido relevo, o entusiasmo, a confiança e a inquebrantável fé com que em todas as províncias ultramarinas se têm recebido as palavras serenas, mas firmes, do ilustre governante.

A luta que nos foi imposta no ultramar não se ganhará apenas com o grandioso e oportuno esforço que o Estado e os particulares lá estão realizando no sentido da defesa da integridade territorial e do seu desenvolvimento sócio-económico.

É preciso que na metrópole, nesta importantíssima retaguarda da guerra que nos movem, se compreenda melhor e em justa medida esse esforço e se não minimizem os sacrifícios de toda a ordem a que tão devotadamente se entrega a nossa mocidade, que corajosamente se bate, em Angola, na Guiné e em Moçambique, a favor de um ideal que contém a essência da nossa própria unidade nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bem avisados andariam todos os europeus, portugueses ou não, se reconhecessem, sem tibiezas, que esse ideal encerra a salvaguarda de toda a civilização ocidental, que levámos, antes de qualquer outra nação, às cinco partidas do Mundo.

Conforme já nesta sala foi dito por Marcelo Caetano, «Portugal não pode abandonar aos caprichos da violência, aos furores dos ressentimentos, aos ódios dos clãs, ou aos jogos malabares da política internacional, os seus filhos, de todas as raças e de todas as cores, que vivem nas províncias ultramarinas, nem lançar aos dados, de uma sorte incertíssima, os valores que à sombra da sua bandeira fizeram de terras bárbaras promissores territórios» É preciso, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que a retaguarda disso se não esqueça!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não desconheço, nem ninguém, a intensa e persistente campanha antipatriótica que na retaguarda se vem desenvolvendo, especialmente entre a juventude, contra a defesa do ultramar e contra as forças armadas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É preciso que ninguém se esqueça de que não estamos fazendo guerra em África, mas que única e simplesmente, como ainda ontem desta tribuna foi dito pelo Sr. Presidente do Conselho, lá defendemos a ordem e a harmonia entre os portugueses de todas as etnias que lá vivem, bem como a sua integridade física e os seus haveres. Defendemos, sim, os milhões de portugueses, brancos, pretos e mestiços, que em África, muito legitimamente, querem continuar a viver, que em nós confiam, e que já deram inequívocas provas de quererem permanecer portugueses.

Disse Marcelo Caetano «Na luta que se trava no ultramar, o que se disputa não são áreas, vilas ou cidades, não há batalhas, nem vitórias consequentes das forças armadas, o que está em causa são as almas, é a adesão das populações.»

Porém, meus senhores, essa adesão, que é sem dúvida essencial, só a poderemos obter desde que continuemos a defender as populações dos ataques dos terroristas. Estes, armados e financiado s inteiramente pelos estrangeiros, não poupam sequer os velhos, as mulheres e as crianças nos seus hediondos ataques às populações indefesas, e procuram, por toda a parte, semear a miséria e o sofrimento onde bem podia imperar a riqueza e o bem-estar.

Ai de nós, Sr. Presidente e Srs. Deputados, se nos convencêssemos de que a paz, a verdadeira paz, aquela que todos ansiosamente desejamos, se instalaria, como que por encanto, na Guiné, em Angola ou em Moçambique, desde que de lá retirássemos as forças armadas, cuja acção militar tem sido paralelamente acompanhada de uma eficiente acção psicológica, sem dúvida indispensável, e sempre programada no sentido de se obter a completa adesão das populações.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem nos dera a luta terminada em todas as frentes. Ninguém desconhece as vultosas verbas que vêm sendo despendidas para lhe fazer face e que seriam canalizadas a favor do desenvolvimento económico dos territórios ultramarinos e da melhoria das condições de vida das populações que neles vivem, trabalham e investem os seus capitas, dando tudo por tudo, até o próprio sangue, para salvaguarda do património espiritual e material que lá erguemos, à custa de tantos e tantos sacrifícios, de muito suor e de quantas lágrimas derramadas!

O Sr. Moreira Longo: - Muito bem!

O Orador: - Temos de ser realistas. Os inimigos de Portugal hão-de usar, nesta luta que nos foi imposta, todas as armas ao seu alcance. O seu objectivo vem agora visando, persistentemente, o moral, tanto dos civis como dos militares. Por isso, meus senhores, chegou a hora de todos os bons portugueses se considerarem combatentes, pois na retaguarda se está desenhando uma nova frente, que corajosa e desassombradamente teremos de vencer.

Sr. Presidente: Como há pouco disse, pretendo ser breve nesta minha intervenção. Todavia, não quero deixar de me referir, embora muito superficialmente, à necessidade, aliás desde sempre reconhecida pela