atenção constante às aspirações e necessidades das gentes e as realidades geográfico-sociais e económico-políticas onde as mesmas se movimentam;

O Sr. Rómulo Ribeiro: - Muito bem!

A Oradora: - Sem considerar perspectivas jurídico-constitucionais ou outras que levem à explicitação clara das expressões «continente» e «ultramar», na perspectiva que agora me preocupa o continente é ultramar para o ultramar e o ultramar é continente para o continente, porque cada parcela, na Europa ou em qualquer outro espaço geográfico, é uma parcela portuguesa, e todas as parcelas constituem o todo nacional.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Repito. Se, e como creio, os horizontes que se nos apontam e a concretização da política ultramarina se traduzem ou irão traduzirem coordenadas como as referidas nesta simples mas sincera achega ao diálogo, à reflexão que nos foi proposta, eu voto o meu incondicional apoio à política ultramarina traçada pelo Governo, definida pelo Prof. Doutor Marcelo Caetano, em cuja alta direcção política acredito, e dou a minha aprovação à moção que nos foi proposta, não sem dizer que a gostaria de ver ainda mais enriquecida.

Tenho dito.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Sr. Joffre Van Dunem:- Sr. Presidente, Srs. Deputados: Perguntava-me, há dias, uma distinta senhora desta cidade de Lisboa se «ainda» não estava repeso da minha candidatura à Assembleia Nacional. Nomeadamente, precisou, porque, Deputado que sou, pelo ultramar, parecia-lhe difícil ou, no mínimo, bastante quizilento o meu viver a milhares de quilómetros de distância, longe das minhas coisas, da minha gente e dos meus hábitos.

Respondi-lhe, naturalmente, que não.

E, no mesmo tom de conversa amena, expliquei-lhe porque não: se a minha participação no seio da mais alta representação do povo português, enquanto obrigação, era passível de arrependimento, já assim não sucedia na figura de direito que a mesma participação se constituía, simultaneamente Por outras palavras, poderia arrepender-me de um dever cumprido, quiçá por constrangimento, nunca do simples exercício de um direito orgânico e até pragmático.

Constituímo-nos, com efeito, sociedades multirraciais em que não podem existir, nem juridicamente, nem de facto, desigualdades que não se baseiem na cultura, nos méritos ou nos serviços dos seus portadores.

Para nós, homens do ultramar, esta a doutrina síntese que decorre da situação política económico-social do nosso país, depois da presidência do Prof. Marcelo Caetano. O Governo concretizando, assim, em matéria de gerência ultramarina, aspirações de nova ou antiga expressão, mas agora com a autenticidade indiscutível de comunidades em que portugueses de todos as etnias e origens convivem, mas convivem mesmo, e onde a participação e o acesso social dependem, tão-somente, da capacidade moral e intelectiva dos indivíduos, mas dependem mesmo.

Para além de grupos ou forças económicas e, sobretudo, com inteira independência de berços e cores - constante da actual linha de rumo governamental -, testemunha-nos o Sr. Presidente do Conselho, no seu memorável discurso de 16 de Fevereiro findo:

Confiante no futuro, a população angolana, todos, pretos e brancos, de mãos dadas, está a construir, agora sobre a direcção esclarecida e segura de Santos e Castro, aquele Portugal africano que tem sido o sonho de todos nós!

A magnífica peça oratória de que o excerto antecedente, e a pergunta com que iniciei as minhas modestas palavras - salvas as devidas proporções -, vieram lembrar-me outra intervenção, também por parte de uma senhora, num encontro que tive com o eleitorado do meu círculo.

Foi o caso de que, estribado na intransigência da tese multirracial plenamente sustentada pelo Governo de Marcelo Caetano, pude então falar, com a franqueza que sempre me acompanhou, a vários auditórios do Estado de Angola. De tal sorte que uma dirigente local não se conteve que não viesse felicitar-me pela coragem, disse-o, das minhas considerações.

É de que varonis ou excepcionais afirmações me creditara eu, afinal, para merecer tão aliciante qualificação?

Fora tudo, apenas, porque, discorrendo sobre os famigerados «ventos da História», pude alinhavar meia dúzia de ideias que, em parte, reproduzo. Dizia eu:

Já agora, sempre direi, a propósito, que não vejo possível, nem creio que interesse, a modificação dos proclamados ventos da História, pela razão simples de que tais ventos, por si mesmos, mudarão de rumo, no lugar certo e na hora própria, a menos que não sejam, efectivamente, História.

O que importa, isso sim, é que rectifiquemos os erros e falhas encontrados pela nossa própria consciência e vivida experiência, com tolerância das ideias circunstantes, mas sem que as mesmas circunstâncias se possam ultrapassar de um dia para o outro, como que por um passe de magia ou, o que é pior, de demagogia.

Mas não insistamos, também, na insensatez de julgar que, à custa de palavras bonitas, promessas que se repetem e não cumprem e vagas ideias, seremos capazes ide assegurar a justiça social na nossa terra, fazendo-a desentranhar-se em riquezas de que caiba parte ilegítima a todos os portugueses que aqui vivem, nascem e até morrem, com direito, todos, mas absolutamente todos, à paz por que nos batemos e à divisão equitativa dos bens morais e materiais, onde eles existirem.

A experiência pessoal de cada um de nós e a consciência colectiva de todos são necessárias antes que decidamos e sempre que nos decidamos a resoluções definitivas.

Dirijo-me, especialmente, à experiência dos homens dispostos a proclamar a verdade, e só a verdade, das mulheres que vêem partir os seus filhos quantas vezes para não voltar, de todos