quantos perderam pessoas queridas nesta luta que nos é movida em nome de autonomias delirantes.
Aliás, autonomia nunca a tivemos tanta como agora, e admitindo-se, por hipótese, que nem sempre a tenhamos sabido usar, eu pergunto: onde, como e quem nos poderá provar e garantir que outros, depois de nós, a usarão melhor do que nós?
O Sr. Cancella de Abreu: - Muito bem!
O Orador:
Outros e quem com mais direitos do que nós?
O Sr. Leite de Faria: - Muito bem!
O Orador: - Alguns meses decorridos sobre as palestras que proferi em Angola, volto a dar-me conta de que então, como hoje, a minha e nossa confiança de angolanos tem por matéria a autenticidade que dimana da política consagrada pelo Governo da Nação cujo status se mostra absolutamente digno e à altura da comunidade fraterna e harmoniosa dos 25 milhões de portugueses que somos
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Para trás a tragédia dos valores inacabados ou frustrados das personalidades atípicas ou meramente folclóricas, das dialécticas duvidosas, nem peixe, nem carne.
Ser ou não ser, eis a questão. E nós, portugueses do ultramar, fora de quaisquer duvidas, não mais podemos deixar de ser!
O mundo caminha, é irreversível a marcha, e não há tempo a perder.
Ante o desafio dos ventos da História, temos todos de cerrar fileiras e prosseguir, firmes nos nossos propósitos de Justiça e promoção a todos os níveis, respondendo rectamente, segundo o Chefe do Governo postulou no seu já citado e Carnoso discurso de Fevereiro último:
Qualquer evolução que se processe sobre a égide de Portugal, nas províncias ultramarinas, há-de ter como condição essencial a prossecução da convivência pacífica de todas as raças e o acesso às funções em razão da capacidade e dos méritos, e não pela cor da pele.
Somos responsáveis pelos milhões de portugueses, pretos e brancos, que pacificamente labutam e querem viver sob a bandeira verde-rubra na África, Ásia e Oceânia:
Para que em paz possam continuar a conviver, e desse convívio vá resultando uma sociedade de cada vez mais acentuado multirracialismo, sem tensões internas de etnias, com plena despreocupação quanto à cor de cada um, em ambiente de fraterna compreensão, colaboração e amizade, é que estamos a lutar.
Assim falou o Prof. Marcelo Caetano.
A luz das razões e circunstâncias que antecedem, definindo vivamente um novo estuo de governação, até que, enfim, atenta às realidades do mundo actual, por isso mesmo que de luz verde virada para o ultramar e paia os homens do ultramar-dou a minha incondicional concordância à moção posta à aprovação desta Assembleia, nos próprios termos em que o mesmo documento se mostra formulado e se refere muito especialmente à parcela maior do todo nacional
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Castro Salazar: - Sr Presidente, Srs Deputados: Subo a esta tribuna dominado ainda pela emoção que as palavras pronunciadas neste mesmo lugar pelo Sr. Presidente do Conselho me causaram.
Na linha de pensamento que tem inspirado declarações anteriores, nomeadamente o discurso pronunciado o mês passado no encerramento da conferência anual da ANP, o Prof. Marcelo Caetano, com uma clareza que não admite equívocos, expôs à Câmara os princípios orientadores da política ultramarina do Governo a que preside e pediu que a Assembleia Nacional, como órgão da soberania, se pronunciasse, através dos seus membros livremente eleitos pela Nação, sobre se acha certo o rumo que esses princípios preconizam. É na qualidade de Deputado da Nação eleito por uma província ultramarina que vou produzir algumas considerações.
Integra-se a política ultramarina do Governo numa linha histórica que desde a época das Descobertas considera como um todo indivisível a metrópole e os territórios que para além da Europa continuam Portugal, e portuguesas de pleno direito as populações que nesses territórios nasceram. Lembro a carta régia de D. Manuel I dirigida às autoridades de S. Tomé e Príncipe, recomendando que na comunidade multirracial que aí se estava construindo cada um ocupasse o seu lugar «unicamente segundo os seus merecimentos», daí resultando uma sociedade onde somente o valor do homem como pessoa humana conta, qualquer que seja a sua origem ou cor da pele Esta tem sido a tradição portuguesa, e se temos motivos para nos orgulharmos da obra a todos os títulos notável que levantámos no ultramar ao longo destes cinco séculos de história, é indiscutivelmente primeiro motivo de orgulho termos provado ao Mundo ser possível a convivência fraterna entre homens das mais variadas origens e raças quando os animam a compreensão, o respeito mútuo, a tolerância e a amizade, frutos da civilização cristã que os Portugueses souberam, mais pelo exemplo do que por palavras, transmitir aos homens de outras raças que com eles edificaram novas sociedades humanas nos mundos que iam descobrindo.
O Prof. Marcelo Caetano, ao afirmar que «qualquer evolução que se processe sob a égide de Portugal nas províncias ultramarinas há-de ter como condição essencial a prossecução da convivência pacífica de todas as raças e o acesso às funções em razão da capacidade e dos méritos, e não pela cor da pele», garante-nos que, mau-grado os intentos de alguns, cada vez se consolidará mais a sociedade multirracial portuguesa «sem tensões internas de etnias [...] em ambiente de fraterna compreensão, colaboração e amizade».
Tem procurado o inimigo - sem que o consiga - destruir essa fraterna convivência, cimentada ao longo dos séculos, e desesperadamente tenta abrir uma brecha no bom entendimento entre brancos e pretos, pois sabe ser a ausência de preconceitos raciais que sempre praticamos a melhor arma que opomos aos seus ataques e o maior obstáculo aos seus propósitos.